Episodio II-A notícia

1303 Words
Não era a primeira vez, mas, como se fosse, Claire sentiu seu coração disparar. Suas mãos tremiam, denunciando a mistura de ânimo e ansiedade que se acomodava em seu peito, enquanto seus olhos se enchiam de lágrimas. — Eu preciso mostrar pra ele! — exclamou, em meio ao choro e à emoção incontida. — Calma, amiga. A essa hora ele já deve ter visto também. Afinal, não se fala em outra coisa! — disse Serena, apertando a mão de Claire, tentando acalmá-la. Mas para Claire, isso era pouco. Esse era um momento a dois. — Mesmo assim, eu vou lá. — falou, animada, tentando conter as lágrimas para não borrar a maquiagem. Saindo apressada, levou apenas o que estava ao seu alcance: a bolsa e o celular. A foto deles e o anúncio de noivado estavam estampados na revista mais prestigiada da cidade, e, obviamente, esse era um momento importante para ela… ou melhor, para os dois. Não importava onde Heitor estivesse ou no que estivesse ocupado—nada era mais importante do que o noivado deles. — Não pode simplesmente ligar, Claire? — A voz da mãe soou um pouco mais alta do que o habitual, algo raro para uma dama da alta sociedade. Claire girou nos saltos e negou com a cabeça, determinada. — Minha filha, sei que está emocionada, mas, neste momento, Heitor deve estar trabalhando. O que ele fazia ou o que sua mãe dizia não importava. — Ele tem que ver, e eu quero mostrar a ele pessoalmente. — respondeu, seguindo decidida para sua Lamborghini lilás. — Claire, não seja infantil. A insistência da mãe não a incomodava. Determinada, entrou no carro e partiu em direção à empresa da família. Suas mãos tremiam no volante, inquietas, enquanto sua mente buscava meios de chegar ao destino o mais rápido possível. Ela entrou na Belmonte Empreendimentos como um furacão, sem se importar com os olhares curiosos dos funcionários. Seu coração batia acelerado, suas mãos ainda tremiam um pouco. A revista estava ali, na bolsa, e ela precisava mostrá-la a Heitor. Passou direto pela secretária, que tentou detê-la. — Senhorita Belmont, ele está em uma reunião… Claire ignorou. Nada era mais importante do que aquele momento. Empurrou as portas da sala de Heitor sem hesitação. — Heitor! — chamou, animada. O noivo estava à cabeceira de uma grande mesa de reuniões, cercado por homens de terno escuro e expressões sérias. Mas, no instante em que a viu, seus lindos olhos azuis suavizaram, e um sorriso discreto surgiu em seus lábios. — Claire? — ele levantou uma sobrancelha, surpreso. Ela já estava ao seu lado, segurando sua mão. — Estamos na capa da revista mais prestigiada da cidade! — falou, radiante, puxando a revista da bolsa e mostrando-a a ele. Seu coração explodia de felicidade. Heitor se levantou e, sem se importar com os olhares dos outros, passou o braço pela cintura de Claire e beijou sua testa. O calor do seu toque a acalmou instantaneamente. — Isso é incrível, minha princesa. — Seu tom era doce, mas logo murmurou: — Estou em uma reunião importante agora. Foi só então que Claire percebeu os clientes nos observando, alguns sorrindo com diversão. Um deles, um senhor de cabelos grisalhos, olhou para ela com interesse. — Então você é Claire Belmont. Uma honra conhecê-la. Seu pai é um grande homem. Claire sorriu educadamente. — Peço desculpas por interromper assim… Fiquei muito emocionada com a notícia! O clima na sala se aliviou. Alguns empresários riram, e um deles disse: — Nada como um pouco de emoção para quebrar a formalidade dos negócios. Heitor segurou sua mão com ternura. O coração de Claire derreteu ali mesmo. — Bom, já que atrapalhei, vou aproveitar para visitar meu pai. Quero mostrar a ele a revista pessoalmente. Ele apertou seus dedos levemente antes de soltá-la. — Ele vai adorar saber. Diga a ele que mando lembranças. Claire assentiu, lançando-lhe um último olhar apaixonado antes de sair da sala. Ainda sentia seu coração vibrar de felicidade. Agora, era a vez de seu pai ver a notícia. O elevador subia suavemente rumo à presidência, mas o coração de Claire estava longe de estar sereno. Deveria mesmo ir? Nos últimos dias, seu pai estava distante. Sempre ocupado, sempre nervoso. Ontem à noite, ela o viu discutindo com sua mãe. O tom de voz que ele usava… nunca havia ouvido algo assim antes. Mordeu o lábio, hesitante. Talvez mostrar a revista a ele fosse uma boa maneira de suavizar as coisas. Afinal, ela se casaria em seis meses. Isso não deveria ser motivo de felicidade? O elevador parou, as portas se abriram. Ela respirou fundo e saiu. Mas, assim que pisou no corredor, esbarrou em algo sólido, forte, como uma parede de pedra. O impacto a fez tombar para trás. Seu corpo perdeu o equilíbrio e suas costas atingiram a parede do corredor. O choque a deixou atordoada por um segundo. Ergueu o olhar rapidamente e seus olhos encontraram os de um estranho. Ele era alto, de cabelos negros como a noite, ombros largos e uma presença quase… sombria. Seu olhar era frio, enigmático. O mais surpreendente? Ele sequer tentou segurá-la. A raiva subiu ao rosto de Claire. — O que pensa que está fazendo?! — soltou, indignada, ainda encostada na parede. O homem não disse nada de imediato. Apenas a observou, seu olhar fixo no dela, intenso. Um silêncio denso pairou entre os dois, e por um instante, Claire sentiu um arrepio percorrer sua pele. — Senhorita Belmont? — a voz de Anelie, a secretária do pai, soou preocupada. Mas Claire continuou encarando o estranho, determinada, irritada… e talvez um pouco intrigada. Ele não desviou o olhar. Havia algo nele que a incomodava, mas ela não sabia dizer o que era. Anelie se aproximou, tentando suavizar a situação. — Tudo bem? Posso ajudá-la? Claire deveria apenas ignorá-lo e seguir para a sala do pai. Mas por que sentia que não conseguia desviar os olhos dele? Ele percorreu seu corpo com o olhar, em segundos, como se tivesse noção de quem ela era. Claire o encarou duramente, esperando um pedido de desculpas, sabendo agora quem era, mas um sorriso curto e lascivo nasceu nos lábios dele repentinamente, enquanto seus olhos paravam no decote V de sua blusa. — Descarado! — Rosnou, sendo apoiada por Anelie. — Como ousa? — questionou irritada. Mas o infeliz a encarava sombriamente, de forma nefasta. — Claire, venha comigo. — Anelie a conduziu até a recepção. — Quem é ele? — Claire não exitou em pergunta, chateada com o incidente acontecido a pouco, evidente que isso não ficaria assim. Mas para a sua surpresa, Anelie não respondeu. — Quer uma água? Não deveria chatea-se desta maneira. — Disse a secretária indo em direção ao aparador com uma cafeteira luxuosa, juntamente com taças de cristais para água. — Não, não. — Claire disse lembrando-se do que veio fazer, afinal, para que veio mesmo? Não demorou a lembrar, mais uma vez abrindo a revista em sua mão. — O papai esta ocupado? — Qestionou animada outra vez, o encontro de minutos atrás, já não parecia ter acontecido. — Não, porque? — Anelie perguntou curiosa, mas sabendo o que estava estampado não apenas nessa mas, em várias revistas, sorriu. — Quero mostrar para ele. — Anelie desconfiou que o seu chefe não estaria num bom momento, porém... Claire já fora adentrando a sala, encontrando Victor, o seu pai, pensativo atrás da sua mesa cheia de papeis. — Pai, o seu viu? — Victor fora pego desprevenido ao escutar a voz de Claire. — Filha...o que... o que fazes aqui? — Victor levantou atônito, enquanto Claire exibindo a capa de revista com ela usando um vestido branco, de renda, ao lado do seu amado Heitor de terno cinza, sorriam para a foto.
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