Yolanda Narrando A noite caiu pesada e a lua tava cheia, iluminando tudo com aquele prata meio frio que não aquece, só mostra as coisas como elas são. Fiquei muito tempo na janela do meu quarto olhando lá fora, pensando em quantos quilômetros eu estou do México, da minha família, do cheiro da feira, do cominho. A saudade apertava o peito de um jeito que dava vontade de chorar baixinho pra ninguém ouvir. Queria tanto que minhas irmãs tivessem uma vida melhor, uma casa com portas que fecham direito, uma cama macia que te abraça, comida que não acaba no primeiro dia. Mas não queria nunca que elas passassem pelo que eu passei: humilhação, medo, a sensação de ser mercadoria. Pensar nisso me fez engolir em seco e apertar as mãos contra o vidro frio. O coração parecia pequeno demais pra tudo.

