Capítulo 6

1546 Words
Dizem que o tempo cura tudo. Desde as pequenas mágoas, até as grandes feridas que vez por outra ainda sangram no coração de quem as possui. O tempo ajuda a cicatrizar, e tornar as pessoas mais sábias, outras vezes, nesse processo de cicatrização, as pessoas se tornam duras e amargas. Porém, o tempo, é aliado do destino. Este que insiste em fazer com que a vida das pessoas dêem grandes voltas e reviravoltas, sempre parando no mesmo lugar onde tudo começou. E com Inês e Victoriano não foi diferente. _GUADALAJARA_ Inês e sua irmã moravam em um apartamento e possuíam um restaurante na cidade. Eram cozinheiras de mão cheia. – O restaurante hoje está lotado, Inês! – disse Isabel. – Graças à Deus! – disse Inês. – Isabel, não esqueça da hora pra eu ir buscar as meninas na escola. – Pode deixar, quando estiver perto, eu te lembro. As meninas de quem Inês fala são suas netas. Maria José de 11 anos e Natália de 8. (carinhosamente chamadas de Mary e Naty!) Seu filho Alejandro foi pai muito cedo, e logo depois do nascimento de Naty, sua esposa o abandonou. Inês, como uma mãe abnegada que é, e com a ajuda de sua irmã Isabel, ajudam Alejandro a cuidar das meninas, que são o xodó da casa. _Em frente à escola_ As meninas estão saindo, e assim que avistam Inês, correm para os seus braços. – Vovó! – disse Mary. – Vovózinha! – disse Naty. – Minhas princesas! – disse Inês abraçando as duas. – E então? Aprenderam muito hoje? – ela pergunta. – Eu sempre aprendo muito, Vó! – disse Mary. – A Naty é que é muito lenta, principalmente em Matemática! – Eu não sou lenta! – disse Naty. – É que Matemática é muito complicada, vovó! – Sua irmã, tem razão, Mary. – disse Inês. – Não caçoe dela. Matemática é difícil, às vezes. – A senhora era r**m em Matemática também, vovó? – pergunta Naty. – Posso contar um segredo? – disse ela se agachando na altura de Naty. – Eu era péssima! As três riem e se divertem enquanto voltam para casa. À noite. Era quase hora do jantar, quando Inês recebe uma ligação. – Alô? – Mãe! – Alejandro, meu filho! Que saudade! – disse Inês. – Também estou com muitas saudades da senhora, das minhas filhas, da tia Isabel! – disse Alejandro. – E como estão as coisas por aí nos Estados Unidos? – Estão ótimas, mãe! – disse Alejandro. – Já estou quase terminando minha especialização. E logo vou estar com vocês de novo! – Ah, meu filho. Não sabe alegria que me dá ouvir isso! – disse Inês com os olhos marejados. Era uma chorona quando se tratava de sua família. As meninas quando escutam que é o pai ao telefone correm para a sala acompanhadas por Isabel. – Deixa eu falar com o papai, Vó! – pediu Mary. – Também quero, vovó! – disse Naty. – Calma, meninas! – disse Isabel. – Uma de cada vez! – Está ouvindo suas filhas, Alejandro! – disse Inês sorrindo. – É assim toda vez que você liga! – Pois deixe eu falar com elas, mãe. – pediu Alejandro. Inês passa o telefone para as netas. – Tá bom, calma. – disse Inês. – Mary, segure o telefone assim... Pronto. Agora, as duas podem falar ao mesmo tempo. – Oi, pai! – disse Mary. – Oi, papai! – disse Naty. – Como estão as luzes dos meus olhos? – disse Alejandro. Enquanto falavam, Inês e Isabel observavam. – Conheço esse sorriso! – disse Isabel. – Boas notícias? – Sim, minha irmã. Alejandro está terminando sua especialização e logo vai voltar para nós! – disse Inês. – Isso é que é uma boa notícia! – disse Isabel. As duas se abraçam enquanto observam as meninas ao telefone. Inês não tinha do que reclamar, tinha seu filho, suas netas, sua irmã. As pessoas que mais amava perto de si. Ela era feliz. Entretanto, algumas vezes ela se via perdida em seus pensamentos, em suas lembranças. Lembranças do que, há muitos anos, deixara para trás. E se perguntava, como seria sua vida hoje, se ela tivesse feito tudo diferente. *** _CIDADE DO MÉXICO_ De todas as empresas alimentícias do país, a Sanlact era a mais conceituada. Seu dono? Victoriano Santos. Nesses anos que se seguiram, Victoriano se tornou um empresário poderoso e de sucesso. Implacável nos negócios. Era conhecido como "homem de gelo", pois era frio e extremamente calculista. Também era dono de uma fazenda, onde criava cavalos puro sangue, para todos os tipos de modalidade de equitação. Apesar de ter se tornado um homem de negócios, nunca perdera suas raízes do campo. É casado com uma jovem mulher chamada Débora. Bonita, atraente e ambiciosa. Casou-se com Victoriano por dinheiro. E ele casou-se com ela por desejo, por solidão, para satisfazer o seu ego masculino. Homens! A única que conseguia enxergar as verdadeiras intenções de Débora, era a afilhada de Victoriano, Diana. A quem ele criou como uma filha, desde que os pais desta, morreram em um acidente e que o ajudava a administrar as empresas. Na mesa do café. Os três estavam sentados. – Padrinho, já liguei para os investidores e marquei a reunião. – disse Diana. – Ótimo, querida. Pra quando? – pergunta Victoriano. – O tio Miguel, chega dos Estados Unidos na quarta-feira. Então eu marquei pra sexta. Que tal? – disse Diana. – Perfeito!... Miguel também deve trazer alguma resposta dos investidores norteamericanos. Espero que sejam boas notícias. – disse Victoriano. – Com certeza, serão "mi corazón"! – disse Débora. – Quem dirá não à Victoriano Santos? Débora alimentava o ego de Victoriano, pois sabia que assim o tinha nas mãos, e ele fazia tudo o que ela queria. – E sobre o novo veterinário, Diana? – ele pergunta. – Estamos estudando alguns nomes, padrinho. Como o senhor disse que só quer o melhor, então eu estou sendo meticulosa nisso. – disse Diana. – Muito bem, confio no seu julgamento. ... Artêmio! - ele grita pelo homem de confiança de sua fazenda, que vem correndo. – Às ordens, patrão! – Prepare o meu cavalo, vou dar uma olhada nas plantações, antes de ir para a empresa. – ordenou Victoriano. – Agorinha mesmo, patrão! – disse Artêmio. Victoriano gostava de cavalgar sozinho. Usava esse tempo para pensar em sua vida, e em tudo que havia mudado desde aquele fatídico dia. O dia em que ele deixou de acreditar no amor. *** Dias depois. _AEROPORTO_ Inês estava esperando o vôo de Alejandro que estava para chegar. Ela fora sozinha, já que Isabel precisou ficar no restaurante e, naquele horário, suas netas ainda estavam na escola. Pensando nisso, ela resolveu fazer surpresa para as meninas, não contou que o pai ia chegar naquele dia. Assim, o presente seria perfeito. Miguel Sanchez, além de melhor amigo de Victoriano, era sócio das empresas Sanlact. Havia chegado dos Estados Unidos de uma reunião de negócios, porém, o vôo em que ele estava deu um pequeno problema e ele precisou fazer uma escala em Guadalajara. Assim, ele achou melhor ligar para seu amigo avisando. – Não Victoriano, não é necessário. Eu alugo um carro por aqui mesmo e vou pra Cidade do México. ... Sim, meu amigo, tenho certeza. ... Certo. Nos falamos assim que eu chegar. Um abraço. – ele desliga o celular. De repente, Miguel se depara com uma mulher. Era a mulher mais linda que havia visto em sua vida. Tinha cabelos negros, olhos verdes, era uma mulher madura sim, mas era linda. Miguel nunca foi de acreditar muito em amor a primeira vista, mas tudo mudou quando ele a viu. Precisava falar com ela, saber seu nome. Mas como faria isso? Ele resolveu se aproximar, até lá ele pensaria em alguma coisa para puxar assunto. Viu um lugar vazio perto da mulher... – Esse lugar está ocupado? – pergunta Miguel. – Não. – ela responde. – Pode se sentar. Miguel reparou que a mulher esfregava muito as mão uma na outra, em sinal de ansiedade. – Imagino que a pessoa que está esperando deve ser muito especial. – disse Miguel puxando conversa. – Sim. ... É o meu filho. Ele está voltando depois de uma especialização que fez nos Estados Unidos. Faz tempo que não o vejo. – Ah, sendo assim... Vale a pena cada segundo de espera, não é? – disse Miguel sorrindo. – Sim. – ela também sorri. – Imagine como as minhas netas vão ficar! – Netas? - ele se surpreende. – Você já é avó? – Por que a surpresa? Não parece? – Com todo o respeito, sei que acabamos de nos conhecer, mas não, não parece mesmo. – disse Miguel. – Vou tomar isso como um elogio! – disse ela sorrindo. – À propósito, me chamo Miguel Sanchez, muito prazer. – ele lhe estende a mão. – Muito prazer, me chamo Inês. Inês Huerta. – ela o cumprimenta. Como acabamos de ver, o destino sempre tece a sua teia. E acabamos por enveredar por seus caminhos, mesmo sem percebermos. E ele sempre proporciona um embate, um momento de acerto de contas. E esse momento chegaria na vida de Inês e Victoriano mais rápido do que imaginavam.
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