Inês e Miguel continuavam conversando animadamente.
- Então quer dizer que seu filho é veterinário? - pergunta Miguel.
- Sim. O melhor! - disse Inês com orgulho.
- Parece conversa de mãe coruja! - disse Miguel sorrindo.
Inês ri.
- É verdade! Sou muito coruja mesmo quando se trata da minha família. - disse Inês. - Mas ele é muito competente, com muito esforço e profissionalismo conseguiu essa bolsa de especialização nos Estados Unidos. E agora está voltando pra casa.
- E em que seu filho se especializou? -pergunta Miguel.
- Cavalos. Ele adora cavalos e sempre quis se especializar nessa área, digamos que essa paixão é coisa de família. - disse Inês com um ar nostálgico.
- Mas olha só as coincidências da vida! - disse Miguel.
- O que foi?
- Eu tenho um amigo, e ele tem uma fazenda com uma criação de cavalos puro sangue, pra todo o tipo de modadilade de equitação. Bom... Ele está precisando de um veterinário e... Bem, aqui está. - disse ele dando um cartão a Inês. - É o cartão da empresa onde esse meu amigo é o dono. Peça pra que seu filho me procure, quem sabe não posso ajudá-lo?
Inês estranhou um pouco. Não era de aceitar ajuda de quem m*l conhecia.
Miguel percebeu a desconfiança dela e tratou logo de explicar.
- Calma, não pense m*l de mim, por favor. Eu estou dizendo a verdade, esse meu amigo está realmente precisando de um veterinário. Se o seu filho aparecer por lá, vai estar muito mais nos ajudando do que nós a ele.
Inês abaixou a guarda e resolveu aceitar o cartão.
- Empresas Sanlact? - disse ela. - Esse nome não me é estranho.
- É uma indústria alimentícia. Muito famosa no país. Meu amigo é o dono e sócio majoritário, seu nome é. ..
Quando Miguel se preparava para dizer o nome de Victoriano, o auto falante do aeroporto anuncia que o vôo onde estava Alejandro se aproximava.
- Ai, meu Deus! Meu filho está chegando! - disse Inês. - Me desculpe, Miguel, preciso ir até a área de desembarque...
- Eu sei, entendo perfeitamente. Vá logo se encontrar com seu filho e m***r essa saudade! - disse Miguel sorrindo.
- Mas de qualquer forma, foi um prazer conhecê-lo. - disse Inês estendendo a mão.
- Acredite, Inês, o prazer foi todo meu. - disse Miguel beijando-lhe a mão. - E pode dizer pro seu filho me procurar nas empresas.
- Ah, eu vou dizer sim. Obrigada. - disse Inês saindo.
Miguel, definitivamente ficou encantado com Inês. Os olhos dela, o sorriso, a simpatia, tudo o atraiu.
Inês foi até o portão de desembarque. m*l podía conter sua ansiedade em ver seu filho. Foi quando, finalmente, este vem surgindo. Alejandro não se contém e vai correndo abraçar sua mãe.
- Mãe! Mamita!... Que saudade eu estava da senhora! - disse ele abracado com ela.
- E eu de você meu filho adorado! - disse ela axariciando o rosto de seu filho. - Deus sabe o quanto senti sua falta! Mas agora você está aqui comigo, meu menino!
- Sabe que eu senti falta da senhora me chamar assim, de "meu menino!" - disse Alejandro.
- Não importa quanto tempo passe, você sempre vai ser o meu menino. - disse Inês. - Coisa de mãe!
- Sei bem como é, mesmo quando minhas filhas crescerem ainda serão minhas princesinhas. - disse Alejandro. - E onde elas estão? Por que não vieram com a senhora? E a tia Isabel?
- Sua tia Isabel ficou no restaurante. E as meninas? Bem... Ambas tinham provas muito importantes e não podiam faltar na escola, mas no caso delas, eu resolvi fazer diferente! - disse Inês sorrindo. - Eu não disse a elas que você chegaria hoje. Elas vão ter uma surpresa quando formos buscá-las!
- A senhora é danadinha, hein mãe? - Alejandro sorri. - Mas vamos, vamos buscá-las e no caminho a senhora me conta as novidades.
***
Mais tarde.
_CIDADE DO MÉXICO_
Miguel chegara a capital e foi até a fazenda de seu amigo Victoriano.
- Miguel, meu amigo! - cumprimenta Victoriano. - Como se foi de viagem?
- Foi tudo bem, Victoriano. Tenho novidades sobre os investidores norte americanos.
- Ah, essas novidades muito me interessam! - disse Victoriano. - Venha, vamos ao escritório. Jacinta! - ele chama a empregada.
- Sim, senhor. - ela vem prontamente.
- Providencie dois cafés. - ele ordena.
- Sim, senhor.
Os dois entram no escritório.
- Pelo que vejo a fazenda vai muito bem! - disse Miguel.
- Graças à muito trabalho, meu amigo! - disse Victoriano. - Mas me diga, como foram esses dias nos Estados Unidos?
- Corridos! m*l tive tempo de aproveitar o passeio! - ele brinca.
- Mas você não foi a passeio, espertinho! - brincou Victoriano. - Foi a trabalho!... Mas me conte, o que os "gringos" disseram?
- Eles gostaram da nossa proposta! Vão mandar os seus representantes em alguns dias!
- Ah, mas isso é espetacular! - disse Victoriano. - Isso merece uma comemoração!
Nisso, Jacinta entra com o café.
- Leve isso de volta, Jacinta! Miguel e eu vamos comemorar como se deve! - disse Victoriano.
A empregada só faz dar meia volta com as xícaras de café.
Victoriano tira do seu armário uma garrafa de sua melhor tequila e coloca em dois copos.
- Vamos brindar, meu amigo! - disse Victoriano. - A mais uma conquista para as nossas empresas!
- Posso fazer o brinde dessa vez? - pergunta Miguel.
- Claro! Você conseguiu esse feito! O mérito é seu! A que brindamos então? - pergunta Victoriano.
- Brindemos ao par de olhos verdes e sorriso mais lindo que eu já vi na vida! - disse Miguel.
- Olha só! Depois diz que não teve tempo de passear nos "Staits" não é? - disse Victoriano com um sorriso malicioso.
- Não é nada disso!... Eu a conheci no aeroporto, antes de vir pra cá. - disse Miguel. - Ela é linda, Victoriano! É simpática, sorridente, é uma mulher de família...
- Como sabe de tudo isso, se acabou de conhecê-la? - disse Victoriano.
- Nós conversamos um pouco. Ela esperava pelo filho que também chegaria dos Estados Unidos. - disse Miguel.
- Ah, Miguel! Com tantas mulheres pra você se interessar, teve que ser por uma com uma bagagem extra?! - brincou Victoriano.
- Fazer o quê? Não pude evitar. Assim que coloquei os olhos nela... Foi de imediato! - disse Miguel.
- Ôpa! Espera um pouco! - disse Victoriano. - Quer fizer que o grande Miguel Sanchez se apaixonou a primeira vista?!... Vou beber a isto! - disse ele virando a dose de tequila de uma vez.
- Não seja debochado, Victoriano! - disse Miguel. - Vai me dizer que nunca se apaixonou a primeira vista?
- Sim, me apaixonei. - disse Victoriano. - Uma vez. Não foi a primeira vista, mas foi intenso e verdadeiro. Eu a amava com toda a minha alma. - disse ele com certa tristeza em suas palavras.
- Imagino que não estamos falando da Débora, não é? - disse Miguel.
- Não, Miguel. Não estamos. Essa mulher por quem fui apaixonado, foi o grande amor da minha vida. A ninguém amei tanto!... - disse Victoriano. - Com ela aprendi o que significa amar alguém com todo o seu coração. E por causa dela também, hoje eu não acredito mais no amor.
- Nossa, meu amigo! Nunca te ouvi falar assim com tanta tristeza. - disse Miguel. - Essa mulher deve ter mesmo partido o seu coração!
- Em mil pedaços, Miguel!... Mas vamos deixar de falar de coisas tristes e vamos brindar a essa sua dama misteriosa! Saúde! - disse Victoriano.
- Saúde! - disse Miguel.
A vida é engraçada. m*l sabiam eles, que estavam falando da mesma mulher. Aquela que partiu o coração de Victoriano, e aquela que a partir daquele momento tomaria conta dos pensamentos de Miguel. Seu nome? Inês.
***
_GUADALAJARA_
Apartamento de Inês e sua família.
A felicidade foi geral. Todas estavam muito contentes com a volta de Alejandro. Como Inês planejou, as meninas ficaram eufóricas quando o pai delas foi buscá-las na escola. Não desgrudaram dele um minuto sequer, desde que chegara.
- Meninas, deixem o pai de vocês, respirar um pouco! - disse Inês.
- A gente tava com muita saudade, vovó! - disse Naty.
- É, vó Inês! O papai ficou muito tempo longe da gente. - disse Mary.
- Deixa elas, mãe! Eu também estava morrendo de saudades dessas princesas! - disse ele enchendo suas filhas de beijos.
- Elas também sentiram muito a sua falta! - disse Inês sorrindo.
- Era uma euforia só quando você ligava! - disse Isabel. - E sua mãe chorona, ficava com os olhos marejados, sempre que falava com você! - disse Isabel abraçando a irmã.
- É. Mas agora nada mais de choro. - disse Inês. - Agora é só alegria! - disse Inês se juntando ao abraço de suas netas e de seu filho.
- Adoro abraço em família! - disse Isabel se juntando também.
Um pouco mais tarde, Inês, Isabel e Alejandro conversavam.
- E então, Alejandro? - pergunta Isabel. - Quando vai começar a construção da clínica?
- Bom, tia... Eu já tenho uma boa parte de capital, mas preciso de um pouco mais. - disse ele. - Vou pedir um financiamento ao banco. Mas pra isso, preciso de uma renda fixa.
Foi então que Inês se lembrou.
- Ah, sim!... - disse ela. - Eu conheci uma pessoa no aeroporto, e ele me deu esse cartão. - disse ela lhe entregando.
- Ele? - disse Alejandro. - Então quer dizer que a senhora conheceu um homem no aeroporto, não é dona Inês? - disse ele com um sorriso travesso.
- Ué, Inês? Essa parte você não me contou. - disse Isabel sorrindo.
- Porque eu só me lembrei agora. E parem de me olhar desse jeito! - disse Inês.
- Que jeito, mãe? - disse Alejandro.
- Desse jeito como se eu estivesse falando de algum pretendente! Eu acabei de conhecer esse homem, meu Deus! - disse Inês.
- Inês, minha irmã, se ficamos assim, é porque queremos que refaça sua vida. - disse Isabel. - Você é linda, é a avó mais enxuta que conheço!
- Isabel! - exclamou Inês.
- A tia Isabel tem razão, mãe. A senhora tem todo o direito de ser feliz. - disse Alejandro.
O que Alejandro não sabia, mas que sua tia Isabel sempre foi ciente, era que o único motivo de Inês nunca ter conseguido abrir seu coração para outra pessoa é porque só houve um único homem a quem ela amara de verdade: Victoriano.
Um amor do qual ela teve que abrir mão, mas que nunca pudera esquecer.
***
_CIDADE DO MÉXICO_
À noite.
Victoriano estava em seu escritório olhando alguns papéis, quando sua esposa entra.
- "Mi corazón", não vai dormir? - perguntou ela.
- Eu já estou indo, pode ir na frente. - ele responde.
Débora se aproxima de Victoriano e senta em seu colo. Ela usava uma langerie bem provocante.
- Só vou se você vier comigo. - disse ela com uma voz sedutora.
- Assim é jogo sujo, mulher! Você me desconcentra desse jeito! - disse Victoriano não resistindo as provocações da esposa.
- Meu amor, e a nossa festa de bodas? Já pensou em como será? - pergunta Débora.
- Eu não sei, mulher. Sabe que não entendo dessas coisas. Por que você não se encarrega de tudo, hein? - disse ele lhe beijando o pescoço.
- Eu posso? - ela se anima. - Pode ser tudo como eu quiser?
- Você é a rainha! O que decidir está feito! - disse Victoriano sorrindo.
- É por isso que eu te amo! - disse Débora o beijando apaixonadamente.
Os dois se deixam levar pelo desejo e transam ali mesmo no escritório.
Depois de um breve momento de luxúria, enquanto Victoriano vestia sua camisa, Débora notou a medalhinha que estava em seu pescoço.
- Essa medalhinha é tão antiga, meu amor! - disse ela com desdém. - Por que não joga ela fora? Você não tira ela pra nada!
- E nem vou! - disse Victoriano aborrecido com o comentário de Débora. - Fiz um juramento de que nunca, jamais, a tiraria do pescoço.
- E pra quem você fez esse juramento? Posso saber? - ela o questiona.
- Não. Não tem necessidade de você saber. Mesmo porque a pessoa não importa mais. - disse Victoriano.
- Se a pessoa não importa mais, então por que você não se livra dessa medalhinha? - pergunta Débora.
- Porque quando se faz um juramento, você cumpre. Mesmo que a outra pessoa tenha lhe faltado com a palavra, mas você tem que cumprir a sua! - disse Victoriano saindo do escritório.
Será que a pessoa que deu a medalhinha à Victoriano, realmente não lhe importava mais?