EPISÓDIO 10

1167 Words
— Já liguei para ele, logo ele estará em casa. Ele se senta à mesa na cozinha, minha nonna costumava chamar a mesa da cozinha de "sala de reuniões". É onde os homens faziam negócios importantes enquanto ela os servia. — Sente-se. Você quer tomar cafe da manhã? Ele me pergunta e então olha para o relógio. —Ou almoçar? Concordo com a cabeça e puxo uma cadeira, sentando-me em frente a ele. Ele acena para a governanta, e ela automaticamente sabe que isso significa comida. — Obrigado. Eu me lembro de minhas maneiras. Por que apesar de tudo, esta é a sua casa. — Ontem à noite tive uma conversa muito interessante com meu filho. Ele põe as mãos na mesa. Sei que ele estava aqui me esperando. — Ele disse que você cuida dos negócios do Luigi. A princípio não acreditei, mas esta manhã conversei com Guido. Ele fala comigo devagar, como se eu fosse apenas uma menina. — Então você sabe que é verdade. Eu cuido de todos os assuntos dos Calderone. Digo isso com confiança porque é algo em que sou muito boa. — E isso não vai mudar só porque estamos aqui. Não vai mudar minha opinião, porque é isso que meu pai gostaria. — Receio que isso não seja possível, Melodie. Ele diz. Um sorriso repugnante surge em seu rosto. — Os Reis não vão aceitar e eu também não. Nós concordamos em mantê-la seguro. Mas não vou quebrar as regras, minha família tem um bom nome, uma reputação. Nenhuma mulher vai me transformar isso numa piada. Ele fica me olhando. Ele quer obter uma reação minha para mais tarde dizer que eu sou uma garota emotiva. — Meu pai quis assim e não vai ficar muito feliz se as coisas mudarem. Tenho certeza de que Guido lhe disse a mesma coisa. — Guido está na minha frente há anos. Ele me respeita e me ajuda. Não há chance de eu permitir que isso aconteça. — Você não pode tomar decisões pela minha família. — Sim, eu posso, Melodie. Você está sob meu teto, eles me pediram para protegê-la. E seu pai não pode falar, então não estou ciente de seus desejos. Ele não é confiável, posso ver naqueles olhos de cobra. — Então, enquanto estiver em minha casa, será tratada como se fosse minha filha e minha filha conhece o seu lugar. — Eu não sou uma garota, senhor, muito menos uma das suas filhas. Sei que meu lugar não é nesta mesa. Porque eu como com reis e não com cobras. Eu me levanto, quando Vito entra na cozinha parecendo um rato cuspido por um gato. A raiva de Vincenzo é sentida no ar gelado. — Tranque-a no quarto, Vito, tranque-a no quarto antes que ela se machuque. — Vincenzo olha para o filho e bate com a mão na mesa. — Ela pode sair quando mudar de atitude. Vito se inclina para o meu lado e sussurra em meu ouvido: — Vamos, isso não é bom. Eu empurro minha cadeira para trás raspando o chão e me levanto. Sem parar olho o velho, que não se parece nada com meu pai. Em nada. — Quando terminar, Vito, há trabalho para você hoje. Ele suspira, e acho que está feliz por se livrar de mim por um dia. Obviamente, ele é como o resto dos homens que pensam que devemos ficar quietas, grávidas e cheias de fantasias. Vito corre de volta para o outro lado da mesa e, segurando o meu braço com força, garante que eu vá com ele. — Seu quarto é pequeno, você pode enlouquecer, então vou fechar essa porta. Não tente sair, Melodie. Você o deixou com raiva, o que não é bom. Volto mais tarde. Ele diz. — Quero ir ver meu pai, Vito — Não posso ficar aqui o dia todo. E se ele acordar ou se tiver que operar? – Depois do trabalho, eu vou levar você para vê-lo. Deixe meu pai se acalmar. Certamente outra pessoa o deixará com raiva e ele esquecerá isso. Apenas dê tempo a ele. Vito protege a porta de metal e vidro que nos separa, me prendendo como uma prisioneira. A raiva que eu tinha quando gritei com Vincenzo desapareceu. A única coisa que me resta é a solidão e o medo do que acontecerá com minha vida se eu tiver que ficar aqui. Não quero ficar trancada em uma jaula de vidro pelo resto da vida. Meu pai quebrou o Omertà ao me contar sobre o negócio e ao me ensinar seu precioso código de silêncio. Sei que devemos pagar caro por isso. Estávamos apenas esperando a reunião do comitê dos Reis. Eu ia contar a eles e pedir que me testassem. Agora não tenho certeza se terei essa oportunidade. Com o passar do dia sinto uma vontade enorme de ir ver meu pai, talvez se eu falasse com ele. Ele acordasse. Se eu pudesse perguntar a ele o que eu deveria fazer. Eu sei que não é isso que ele queria para mim. De muitas maneiras, meu pai me criou como um filho. Eu não brincava de boneca nem ia aos bailes da escola. Os meninos da escola tinham muito medo de olhar para mim, então namorar nunca foi uma opção. Meu pai me ensinou a não deixar meus sentimentos atrapalharem minhas decisões de trabalho. Isso não parece trabalho e não consigo evitar a vontade avassaladora de chorar. Ninguém está aqui para me ver vacilar, não posso deixar que me vejam assim. Então eu percorro o quarto e me permito um dia me sentir humana. Deixo meu coração transbordar e chorar em silêncio. Estou sentado à janela do meu quarto, olhando o jardim, quando Vito entra. Ele parece estressado, seu cabelo está bagunçado e sua gravata está frouxa. — Trouxe algo para você comer, não vi você comer esta manhã. Ele coloca uma caixa de pizza na cômoda. Volto mais tarde, tenho que fechar a porta. Meu pai ainda está furioso com o que você fez. — Achei que você ia me levar até meu pai. Quero ir ver ele agora. Eu estive esperando por você. — Mais tarde, agora não posso, Melodie. Ele suspira. — Estou ocupado. Ser babá não é exatamente algo para o qual tenho tempo. Babá? Ele acha que eu sou uma criança. — Quero ir vê-lo, Vito, por favor. Ou pelo menos peça aos seus médicos que me informem. Ou seja o que for, é frustrante depender dos outros para me levar a todos os lugares, estou acostumada a ir aonde quero ir. — Depois do trabalho, ok? Volto esta tarde e levo você antes do jantar. Ouço a porta fechar, antes de pegar a comida que ele deixou para mim. Talvez a comida melhore meu humor, sei que não devo deixar isso me afetar. Quantas pessoas minha família trancou com a intenção de quebrar seus espírito. Eu sei o que eles estão fazendo e não posso deixá-los vencer.
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