O meu coração despenca, porque eu só quero ir para casa.
O médico parece andar por aí sem fazer nada com as coisas que trouxe.
— Você precisa que eu saia? Pergunto porque talvez eu não devesse estar aqui se vão fazer alguma coisa com o meu pai.
Ele sorri para mim e diz baixinho. — Tenho que verificar o seu cateter e dar o banho nele. Acho que você não quer ver o seu pai assim.
E é claro que não.
— Uh, não realmente. Há coisas que uma filha não precisa ver. Eu rio e saio pela porta.
Eu precisava disso, precisava sair daquela casa tóxica e ver ele. Hoje foi um dia horrível e tenho a sensação de que vai piorar em vez de melhorar.
Eu me inclino contra a parede ao lado da porta e espero. Depois de alguns minutos, tenho um pressentimento. A intuição é a maior virtude de uma mulher na máfia, é algo que os homens não têm. No momento, o meu está gritando comigo que algo com o médico naquela sala não está certo.
Eu me levanto e faço uma pausa, tentando ouvir, mas não ouço nada.
Olhando pelo vidro da porta, vejo que ele está prestes a colocar algo no soro do meu pai e eu entro para detê-lo.
— O que você está fazendo? Exijo que me diga. O que é isso? Ele congela, e eu corro para pegar a seringa dele.
Ao fazer isso, ele me dá um soco na cara e vejo estrelas e caio como um saco de batatas. Isto não é bom. Devia tê-los ouvido, sair de casa sozinho é perigoso. Agora, Sam se foi e eles vieram buscar o meu pai. E eu? Talvez eu seja tão teimosa que às vezes não penso bem nas coisas. Vito ficará muito chateado e o seu pai vai descontar nele. Ele falhou e a culpa é minha por ser uma criança tão mimada, assim como Guido me pediu para não fazer. Eu não aguentava mais o jeito que eles me tratavam, eu queria obedecer, mas eles me provocavam.
Eu fico lá por alguns segundos esperando para ver o que ele vai fazer.
Estou com a seringa na mão. Espero que não tenha machucado o meu pai.
Eu observo os seus sapatos brilhantes debaixo da cama enquanto ela caminha lentamente na minha direção, e quando ele se aproxima, eu me levanto.
Preparado para lutar pela minha vida e pela do meu pai. Porém, ele não me dá tempo de brigar, pois cobre a minha boca com a mão e o mundo todo começa a se confundir.
Clorofórmio. Eu conheço esse cheiro, eu mesmo já usei. Como pude ser tão idi*ota e deixá-los chegar até mim. Tento lutar, mas meu corpo parece chumbo, pesado e entorpecido. Eu não posso levantar os meus braços para remover a sua mão.
Prendo a respiração esperando não inalar ainda mais e, assim, ficar consciente. Mas sua mão me aperta com mais força e não solta, preciso de ar. Os meus pulmões já estão queimando e, enquanto respiro, todo o meu mundo fica escuro como breu.
Vito
Esta mulher vai acabar comigo.Eu lidei com criminosos toda a minha vida e nenhum deles me causou tantos problemas! Onde dia*bos ele está agora?
Primeiro ela chora, e eu odeio quando choram, depois vai dormir na minha cama e agora ela foge. Isso não é divertido, mas irritante. Ela está num país estranho. Nem sei se dirigimos do mesmo lado. Ela vai se matar lá fora. Nem mesmo serão os homens atrás dela. Ele vai se matar fazendo algo estú*pido.
Que me*rda. Eu não posso nem ficar bravo. Porque se o meu pai descobrir que ela não está segura em casa, ele vai enlouquecer e provavelmente me matar. Sou apenas o segundo filho dele, então ele não vai pensar duas vezes. Ela não está aqui. A porta ainda está fechada, mas Melodie não está aqui. Já verifiquei e sei que não está escondida. Eu faço uma análise do que aconteceu antes de dormir e aí eu percebo. Ele me provocou.
— Aquela puti*nha escorregadia. Eu olho para o criado-mudo vazio.
Ela pegou as minhas chaves, meu telefone e minha carteira... ele fez isso de propósito. Nem eram lágrimas de verdade e ela não estava dormindo. Ela só queria sair daqui.
Então, eu uso o meu iPad para rastrear o meu telefone, pois isso torna mais fácil encontrá-la. O pino localizador mostra que ela está no hospital. Ele foi ver o pai. Eu deveria ter desconfiado. Ela me pediu para levá-la e eu não levei. Claro, é para lá que ele foi. Ela não conhece outro lugar, além do hospital, ela estava muito preocupada com ele.
Estou ligando para Sam, ele pode estar de plantão.
— Vito. Ele atende rapidamente ao meu chamado.
— Sam, você está no trabalho? Pergunto, porque nunca sei como os turnos funcionam, às vezes é como morar no posto médico.
Não sei como a esposa dele lida com isso, já que ele quase nunca está em casa.
— Não, não estou. Ele me diz, só volto esta noite. Não há nada de novo sobre Luigi. Quando saí, ainda estava na mesma.
Não estou procurando por uma atualização, estou procurando por Melodie. Mas, se eu disser isso a ele, ele pode contar ao meu pai.
— Esta tudo bem?
Eu contemplo se posso confiar nele por um segundo. Sam é sempre imprevisível, às vezes ele me ajuda, mas outras vezes ele é um pouco informante.
— Não, mas eu vou cuidar disso, não se preocupe.
Eu poderia ligar para o hospital ou poderia ir lá. Mas se eu ligar, ela pode ficar com medo e fugir, então eu vou até lá. Dessa forma, ela não terá chance de causar mais problemas.
— O que está acontecendo Vito? Ele me conhece muito bem e pode dizer que algo está errado mesmo pelo telefone.
— Não é nada, é só... Eu paro. — Não é problema seu.
— Ela está no hospital e eu não te contei. Eu a deixei com o pai dela. Sam me diz. Quero estrangulá-lo por não ter me ligado assim que ela apareceu.
— Por que você não me ligou? Eu grito com ele, pegando as chaves da minha moto. — Me*rda!
— Ela estava visitando o pai, Vito, parece que você estava muito ocupado para levá-la. Sam é um molenga, nem sempre entende as coisas. Sempre usando o seu coração primeiro.
— Você está louco! Ela não tinha permissão para sair de casa. Ela e o nosso pai tiveram uma diferença de opinião.
— Me*rda, mer*da.
— Você está mais perto, vá! Estou a caminho. Ela não pode ficar sozinha. Não temos ideia de quem Sam pode estar procurando. Ela não está segura, sozinha, em qualquer lugar.
— Vou chamar a enfermeira de plantão para ver se ela não saiu de lá. Vejo você lá. Ele me diz e eu o interrompo para sair correndo de casa.
Eu não posso acreditar que tenho que fazer isso, eu deveria atirar nele por causa dessa bobagem. Eu acelero pelo tráfego escasso na rodovia, excedendo o limite de velocidade. Não pode acontecer nada com ela, se eu chegar e ela estiver bem, podemos esconder isso do meu pai. Mas se algo acontecesse, não quero nem imaginar o que isso faria a nós dois. Se ele soubesse que ela havia desafiado as suas instruções, ele a trancaria num quarto, não num armário.
Por instinto, entro no estacionamento do porão a toda velocidade.
Deslizando até parar na entrada, eu rapidamente manobro para desaparecer completamente. Na porta está um SUV que não pôde ser ultrapassado e três pessoas fortemente armadas. A grande tatuagem de estrela no homem mais próximo de mim me diz que ele não está aqui para visitar um ente querido doente.
Eles são os Stiddas e isso significa que eles sabem que Melodie está aqui. Cheguei bem na hora, porque eles não me notaram, ou se notaram, não se importaram. Sam obviamente pensou o mesmo que eu, porque ele estacionou alguns metros atrás de mim e desceu com o seu jaleco branco. Portanto, quando os Stidda olham para ele, eles não hesitam.
Sam está ao meu lado, protegendo-me da sua visibilidade enquanto coloco o silenciador na minha pistola. Se eu tiver que atirar em alguém, não preciso fazer barulho aqui. Este não é o momento de chamar a atenção para nós mesmos, ou para Melodie.
— Temos que encontrá-la. Digo a ele. — Entra que eu fico aqui.
— Estamos em menor número, Vito, devemos pedir ajuda. Ele sussurra.
— Não, ninguém pode saber disso, o meu pai não pode saber, nunca.
Isso tem que ficar aqui ou eu nunca me perdoaria... Ninguém, Sam, se alguém perguntar, eu a trouxe aqui e eles nos emboscaram.
O meu irmão parece um pouco confuso, então espero sinceramente poder confiar nele.
— Eu vou entrar. Ele puxa o roupão para o lado para que eu possa ver que ele está carregando uma arma. — Não faça nada estúp*ido ele me avisa e caminha entre os homens calmamente como se não tivesse nada a ver com isso.
Ele não deu mais do que dois passos para dentro quando ouço uma agitação e me aproximo. As portas automáticas se abrem e, ao fazê-lo, o homem do lado de fora cai no chão. Um único tiro silencioso na cabeça. E eu elimino os seus dois comparsas enquanto outro sai segurando o corpo flácido de Melodie.
Me*rda! O que eles fizeram com ela? Não pode estar morta! Neste momento, vejo Sam atrás do assustado Stidda, um aceno de cabeça e sei o que fazer. Eu miro e dou meu tiro. Assim que eu acerto ele, Sam, ela se lançou para pegar Melodie.