Adolescente?

2278 Words
Mike Kose era um arquiteto experiente e muito competente apesar de sua pouca idade. Em sua cidade natal, a grande metrópole de Aurora, seu nome era um dos mais procurados quando o assunto era arquitetura. Quando a prefeitura de sua cidade lançou um edital de licitação de obra para o início de mais uma etapa do projeto de revitalização, era óbvio que aquele rapaz em seus vinte e seis anos não ia ficar de fora. Sua equipe, claro, também não e, juntos, eles pensaram em um projeto que incluiria tudo o que os grandes nomes da cidade queriam sem desconsiderar as outras partes que também poderiam usufruir de suas obras. Claro que Mike passou muito tempo analisando a planta do terreno, a localidade, o fluxo de pessoas e os recursos que lhe seriam disponibilizados. Acabou perdendo noites de sono enquanto rabiscava em grandes folhas de papel antes de ir para o computador. Usar de meios antigos era algo que dava prazer ao jovem arquiteto. Muitas dessas noites perdidas ele passou caminhando no residencial que logo seria destruído. Algo que chamou sua atenção ao passar por ali era o quão próximo aquele lugar estava da grande reserva florestal que atraía inúmeros turistas para sua cidade. Talvez por isso ele tenha sido um dos poucos a integrar esse aspecto em seu projeto. E, talvez por isso, seu projeto tenho sido o escolhido no final do processo. No dia em que o resultado foi anunciado, ele entrou no grande prédio em que trabalhava para iniciar seu dia sem saber de nada. Calmo, ele percorreu o caminho que sempre fazia até os elevadores, porém foi abordado por uma das recepcionistas: _Senhor Kose? – A voz suave da garota sempre tão tímida chamou sua atenção. _Pois não, Iara? – Sorriu amavelmente para a mulher. Instantaneamente, as bochechas da garota coraram com o jeito fofo de Mike. Alias, qualquer pessoa não ficaria imune ao charme "dualístico" dele. Mike não era um rapaz muito alto, também não era baixo. Estava uns centímetros acima da média populacional. Até aí, tudo bem, ele era só mais um na multidão. Seu corpo era magro e bem cuidado, fruto do trabalho duro na academia e no tatame; ele era um excelente lutador de Taekwondo; muito bem escondido nas roupas que costumava usar. Até aí, mais um ponto que não o destacava dos demais. O que fazia as mulheres se encantarem por ele era seu rosto de feições delicadas, praticamente uma criança. Na maioria das fazes ele parecia um gatinho fofo, com seus olhos grandinhos, mesmo que amendoados, seu nariz delicado, seus lábios pequenos, mas fartos na medida certa, quase formando um coração, seu rosto arredondado e suas bochechas salientes. Mas nada o impedia de mudar para um felino predador quando queria. Era só mudar o penteado de seus cabelos em seu castanho natural e acrescentar um pouco de maquiagem, ou mudar a intenção de seu olhar, que estava pronto para destruir os corações de qualquer "ratinha" que entrava em seu caminho. Em seu ambiente de trabalho, ele preferia fazer a linha "felino predador discreto" por conta dos outros “predadores” de olho em seu sucesso. Mike era sempre sério em seu escritório, mas era só ver uma das crianças dos funcionários que ficavam na creche disponibilizada pela empresa no térreo de seu prédio ou uma pessoa que lhe era sincera, que logo ficava fofo como um gatinho. _O senhor Moura deseja falar com o senhor. – A garota, ainda abalada pelo sorriso fofo conseguiu dizer. _Obrigado, Iara. Pode dizer a ele que estou indo direto para sua sala? _S-sim. – Ela gaguejou por receber outro sorriso. _Mais uma vez, obrigado. – Ele voltou a caminhar, mas parou ao perceber sua grosseria. – E tenha um bom dia! – Se corrigiu a tempo ao se virar para a garota novamente e desejar-lhe com sinceridade. _O senhor também! Ele ainda pôde ouvir a voz da garota um tom mais alto antes de chegar aos elevadores. Por ainda estar no horário de pico de entrada dos trabalhadores da "Moura e Filhos", nome da empresa em que trabalhava, Mike teve que esperar um pouco até um dos elevadores estarem de volta ao térreo. Já lá dentro, apertou o andar correspondente ao de seu chefe e esperou que seus acompanhantes fizessem o mesmo antes de a caixa metálica começar a subir. Distraído, pensava em toda a sua trajetória naquela empresa. Suspirou ao se lembrar de seu início, há dez anos, quando ainda era um adolescente e se empolgou com a restauração do antigo palacete adquirido por sua família. E de um simples estagiário, no decorrer dos anos se tornou um dos funcionários mais influentes naquele lugar, ocupando um dos postos mais altos que alguém sem ser da família Moura poderia ocupar. O sinete do elevador o fez voltar ao mundo. Esperou todos que também desceriam ali sair da caixa metálica para, então, fazer o mesmo. Ainda calmo, percorreu o extenso corredor até a sala principal. _Olá! – Ele chamou a atenção da mulher que estava distraída na recepção de seu chefe. _Olá, Mike! – A mulher sorriu ao ver quem era. – O senhor Moura está a sua espera, vou anunciá-lo. – Ela foi cordial com o visitante. _Obrigado, Mariana. – E ele gentil ao sorrir levemente para ela. Ao esperar, deixou-se distrair pelos quadros das principais obras da empresa que enfeitavam aquelas paredes. Orgulho era tudo o que sentia ao constatar que grande maioria era trabalho seu. _Senhor Kose? – Mariana chamou sua atenção. – O senhor já pode entrar. – A mulher tentou segurar um sorriso ao ver a carinha fofa daquele homem olhar um pouco assustado para ela. _Obrigado. – Mike coçou sua nuca envergonhado pelo flagra. Recebeu um sorriso de entendimento antes de entrar na grande sala de seu chefe. Não se deixou distrair pela imponência do lugar, seu nervosismo que o acompanhava sempre que entrava naquela sala só o permitia buscar a figura do homem alto e imponente sentado em sua cadeira. _Mike, que bom que chegou. – O senhor Moura se levantou de sua cadeira. Em pé, era ainda mais evidente o quão mais imponente aquele homem era em relação a Mike. Tímido, Mike apenas curvou seu corpo em uma mesura discreta. _Venha, sente-se aqui. – Senhor Moura chamou-o descontraído. Ele estava muito feliz com as notícias que recebera logo de manhã. _Obrigado. – Mike agradeceu tímido antes de se sentar na cadeira apontada por seu chefe. _Como tem passado? – Moura quis acalmar o estado de seu funcionário antes de contar as novidades. _Um pouco cansado, mas bem. – Mike respirou um pouco antes de continuar. – Essa licitação tem mexido muito comigo e não me sinto confiante com o resultado de minha apresentação. – Ele foi sincero com seu chefe. _Quê isso? Eu estive nas apresentações e posso garantir que a sua foi uma das melhores. – O homem também não mentiu ao falar daquele dia. _Obrigado, mas, ainda assim, acho que ainda tenho alguns pontos para melhorar naquele projeto. – Mike continuou humilde. _Se acha, a partir da semana que vem o senhor poderá fazer isso em sua nova sala já que a licitação é nossa. – Moura foi direto ao dar a notícia, só tentando controlar seu próprio sorriso. _O senhor está falando sério mesmo? – Mike não podia acreditar nas palavras de seu chefe. Tudo isso era bom demais para ser verdade. Ganhar uma licitação importante e ainda ser promovido não era todo o dia que isso acontecia. _Sim. Recebi a notícia do próprio prefeito ainda no caminho para cá. _Isso é maravilhoso! – Mike não escondeu sua alegria. _Demais! E fico contente por ter conseguido isso para nossa empresa. – Moura também se exaltou um pouco, parando para se controlar antes de continuar. – E pensar que você entrou aqui desacreditado como um simples estagiário… _Eu não fiz mais do que o meu trabalho, senhor Moura. – Mike não deixou o elogio implícito lhe subir pela cabeça. _Não. O senhor fez muito mais que isso. Por isso é um enorme prazer promovê-lo para vice-presidente do setor arquitetônico, ficando abaixo somente de meu filho e eu. _Muito obrigado, senhor Moura. Eu não tenho palavras ou ações para agradecer tudo o que o senhor e sua família fizeram por mim desde o meu primeiro dia aqui. – Mike estava mesmo agradecido por tudo aquilo. Sentia-se lisonjeado por ter seu trabalho reconhecido ali, no meio de tantos profissionais mais competentes e experientes do que ele. Se empenhar no trabalho era o mínimo que poderia fazer para retribuir toda a atenção que conseguira. _Comece trabalhando como sempre hoje e tire o resto da semana de folga. Quero o senhor bem descansado na segunda para começarmos logo com os trabalhos para essa obra. – Moura se levantou no final. Mike o acompanhou antes de o responder: _Obrigado, mais uma vez, pelo reconhecimento. Prometo dar o melhor de mim para que tudo corra bem durante as obras e nada possa manchar o nome de nossa empresa. – Mais uma vez ele abaixou seu corpo em uma mesura, desta vez em uma ainda mais profunda, demonstrando todo o respeito que sentia por aquele homem. _É isso que espero e sei que irá fazer. – Moura esperou que Mike se levantasse para então lhe estender a mão. Respeitoso, Mike apertou a mão daquele homem, não se importando com a discrepância de tamanho entre elas; a força era praticamente a mesma. _Bem, era isso que eu tinha para falar com você. Fale com o pessoal do RH ainda hoje, eles já sabem de sua promoção e farão tudo o que for necessário para que possa se estabelecer em sua nova sala o mais rápido possível. Mike acenou com a cabeça em afirmativo ao mesmo tempo em que se deixava levar por seu chefe. _Tenha um bom dia. – Moura se despediu já diante da porta aberta por ele. _Tenha um bom dia o senhor também. – Mike o respondeu ainda sem acreditar no que acabara de ouvir. E a sorte parecia estar ao seu favor naquele dia. m*l saiu da sala de seu chefe e Mariana já entrou toda afobada. Não precisou contar a ela a novidade. Ao descer para sua sala, encontrou o elevador vazio, assim como seu corredor e a recepção onde ficava a secretária responsável por aquela ala. Já trancado em sua sala, se permitiu aproveitar a sensação maravilhosa que invadia seu corpo por ter conseguido chegar ao topo de sua carreira ainda se considerando inexperiente. Claro que tinha consciência que, com essa responsabilidade, ele teria que aprimorar ainda mais seus conhecimentos. Mas não naquele dia. Trabalhou tranquilo ao rever alguns projetos seus que logo seriam construídos. Ao dar o horário que sabia que o RH ficava mais calmo, desceu até lá e conversou com o responsável pela área, como pediu seu chefe, e aproveitou para pedir para sair um pouco mais cedo. Seu pedido foi concedido sem nenhum problema e os trâmites necessários para a mudança já estavam em andamento. Ainda em êxtase, dirigiu seu carro pela cidade sem destino. Não queria ir para seu apartamento, não ainda. Pensou em buscar seu sobrinho na escolinha em que estudava, mas já era tarde para isso. Sem rumo, deixou que seu inconsciente o guiasse pela cidade. Acabou parando no residencial que logo seria destruído. Riu ao perceber onde estava. Já havia criado uma ligação com seu novo ambiente de trabalho sem nem saber o motivo. Pensando nisso, deixou seus olhos serem capturados pela visão da adolescente que caminhava na mesma direção que ele. Intrigado, viu a garota com os cabelos em um tom discreto, mas alegre, de rosa praticamente saltitar pelas pedras da calçada enquanto parecia ouvir uma música animada. Mais atento, olhou para as roupas que ela usava e não conseguiu descobrir em qual escola estudava. A mochila em suas costas era simples e estampada com desenhos infantis, a calça vermelha e a blusa branca lembravam um pouco o uniforme da escola em que seu sobrinho estudava, mas era impossível ela ser uma aluna de lá já que funcionava apenas o maternal e pré-escolar naquelas dependências. Hipnotizado por aquela visão alegre, ele dirigiu bem devagar pela rua que fazia o mesmo trajeto que a garota. Ele parou quando ela parou para atravessar a rua. Ele não acreditou no que viu quando ela olhou em sua direção para ver se poderia atravessar. Olhar o rosto daquela garota era como ver uma versão feminina de si mesmo. Era espantoso o quão parecidos eram, até na cor escura dos olhos e, apostava ele, na cor e textura de cabelo. A única coisa que os diferenciavam eram as feições ainda mais delicadas da garota e os lábios ainda mais cheiinhos que os dele. Sem perceber, acabou perdido naquela visão, pensando em como seria beijar aquela boca que lhe parecia quente e macia. Assustado com o rumo de seus pensamentos, se repreendeu em um sussurro, voltando a colocar o carro em movimento enquanto o fazia. Seu comportamento "carnal" o chamou a atenção por dois motivos. O primeiro era que, em nenhum momento de sua vida, mesmo na adolescência quando seus hormônios estavam a flor da pele, ele chegou a ter um pensamento do tipo apenas em ver uma garota. Ele gostava de conhecer melhor seu alvo antes de tomar uma atitude. E segundo, ele tinha uma namorada a quem destinar esse tipo de pensamento. Um pouco frustrado por sua atitude, resolveu ligar para sua namorada e combinar algo especial para comemorarem aquele momento especial na vida dele. No caminho, torceu para nunca mais pensar na adolescente excêntrica que tomou seus pensamentos.
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