— Venha para o primeiro andar, por favor.
Subimos a enorme escadaria e não pude deixar de olhar para cima quando chegamos ao primeiro andar, a curiosidade cavando suas garras em meu cérebro.
A escada que subia para o segundo andar era completamente idêntica à que eu acabei de subir. Eu não tinha certeza do que esperar depois de uma interdição tão sinistra. Dragões? Cães loucos, talvez?
Jim limpou a garganta e chamou minha atenção para ele.
Eu estava parado na frente de uma porta onde minhas malas descansavam, olhando escada acima.
— Eu aconselho você a não fazer isso, é isso que alguns de seus predecessores fizeram, e lhe custaram seus empregos.
— Eu não ia.
— AHA. Ele gesticulou em direção à porta. Este é o seu quarto. Agora eu devo ir. Você não deve trabalhar até a hora do jantar. Certifique-se de seguir as regras, e não deve haver nenhum problema. Ele inclinou a cabeça. — Bom Dia.
Ele se virou e me deixou ali, em frente à porta fechada. Ele parecia ansioso para partir, o que ela também não podia culpá-lo.
Quando abri a porta do meu quarto, fiquei chocado com o que encontrei.
Era como entrar em outra casa.
Eu esperava móveis escuros, paredes escuras... basicamente uma cela de freira.
Mas esta sala era brilhante. Duas grandes janelas davam para os jardins. As paredes e os móveis eram de cor creme, as cortinas e a colcha cor de pêssego, assim como uma poltrona confortável em um lado da sala, de frente para a lareira.
O quarto não era muito grande, mas era fresco e limpo, e era acompanhado por um pequeno quarto de vestir e um banheiro combinando, mármore branco e ladrilhos cor de pêssego.
Deixei minha mão correr sobre a banheira com pés de garra no meio da sala e, em seguida, para o chuveiro gigante, grande o suficiente para duas pessoas.
Coloquei as malas no quarto antes de sentar no macio colchão, olhando pela janela.
Decidi que não seria tão r**m se eu seguisse as regras, e que em alguns meses eu poderia trazer Caio de volta.
Mas a pergunta que eu não conseguia deixar de lado era, quem dia*bos era o dono desta casa?
Luca
Ignorei o rangido da minha porta, olhando pela janela para o gazebo em ruínas no jardim. Era estranho que as coisas desmoronassem tão rapidamente por falta de manutenção.
Soltei uma risada sem humor, passando o dedo indicador sobre as cicatrizes na minha bochecha esquerda. Não acontecia só com objetos, eu também estava deteriorado.
A porta se abriu e eu suspirei. Apenas Dom ousaria entrar sem um convite.
— Por favor, sinta-se em casa. Eu disse com forte sarcasmo, sem incomodar em virar.
— Você mandou uma mensagem para ela para agradecê-la?
— Você pediu minha opinião quando deu a ela o melhor quarto de hóspedes? Dom suspirou e ouvi o som de couro quando ele se sentou na minha mesa.
Chegou para ficar. fo*da-se Tomei um gole do meu whisky Macallan Millennium 50 anos. Eu não bebia muito antes, mas as coisas mudaram. Pelo menos agora eu era um bêbado de bom gosto.
— Esta casa tem quatorze cômodos, Luca. Só você e eu moramos aqui.
— Quantos convidados tivemos em vinte e sete meses? Ah é verdade. Zero. Então, desculpe-me por tentar tornar as coisas melhor para ela. Não queremos que está saia correndo.
— Porque não? Ter você perto já é demais, e agora você quer que eu converse com a garota?
— Ela Parece legal.
Sim, ela era jovem e revigorante, mas também atormentada. EU sabia quem ela era, a filha dos malucos de Riverside, e talvez isso a deixasse desesperada o suficiente para ficar por um tempo. Meu tio estava cansado de ter que contratar pessoas.
Suspirei e finalmente me virei na cadeira, encontrando meu ex-melhor amigo e atual chefe de segurança me detalhando criticamente, mas também com uma preocupação que eu não conseguia esconder por mais que quisesse, e isso me irritou. Eu não merecia ou queria sua preocupação.
— Estou ocupado.
— Você está ocupado fazendo o quê? Ele olhou para a minha mesa vazia. — Engolindo seu ódio e autopiedade?
— Não se esqueça da autodestruição. Acrescentei, tomando um grande gole da minha bebida. — É um trabalho em tempo integral.
Ele se inclinou para frente.
— São dez da manhã, Luca. Ele pegou meu copo.— Não é um pouco logo para destruir seu fígado?
Eu rosnei, puxando minha mão para longe dele.
— É meu corpo e minha vida. Eu farei o que dia*bos vier à minha mente. Você é meu chefe de segurança, não meu irmão ou meu amigo. Lembresse. O seu lugar.
A dor que brilhava em seus olhos escuros somava-se ao peso agonizante da culpa que ele já carregava todos os dias.
— Nós costumávamos ser. Ele respondeu quase melancolicamente.
— As coisas mudam, as pessoas mudam.
Eu não era remotamente o homem que tinha sido. Deixei de ser o terrível, lindo e bajulado Gianluca Montanari, subchefe da mais poderosa família criminosa da Costa Leste, talvez até do país, para o naufrágio clínico, alcoólico e bestial de um homem, lixo humano que queria que cada uma das minhas respirações fossem as últimas.
Ele suspirou, levantando-se.
— Acho que vou agradecê-la se você não fizer isso.
Eu levantei uma sobrancelha. — E por que eu deveria me importar? Eu zombei com um sorriso. Domenico está apaixonado por Branca de Neve? Suspirei, balançando a cabeça em falso arrependimento. Se ela é tão inocente quanto parece, duvido muito que ela vá se interessar por você. Suas perversões são... difíceis de engolir. Eu acrescentei, sorrindo para a minha bebida e bebendo de um só gole.
Sua preocupação e dor anteriores se transformaram em raiva. — Coma mer*da e morra!
Coma mer*da e morra... que original. Peguei a garrafa no chão e enchi meu copo.
— Eu estou trabalhando nisso. Bye Bye.
Ele se virou e saiu do quarto, batendo a porta com força, caso não soubesse o quanto eu o deixei zangado. Ultimamente era sempre assim. Na verdade, tinha sido assim nos últimos anos. Lutar contra Dom foi muito mais fácil do que reconhecer a extensão da minha me*rda.
*****
Eu balancei minha cabeça e olhei para o laptop fechado na mesa... minha janela para o mundo e Cassandra West. Ela estava aqui há três dias e era a única que seguia as regras, e tinha que admitir que sua comida era deliciosa.
Revirei os olhos. Fo*da-se, Dom!
Abri o notebook e entrei no SCR.
— Obrigado pelas refeições, estavam deliciosas. Especialmente o bolo de morango.
Deixei meu dedo pairar sobre o botão enviar. Devo fazer isso?
Eu pagava ela por isso, e muito. Eu acrescentei. Por que eu tinha que agradecê-la por algo que era literalmente seu trabalho? Coloquei meu dedo no botão delete, mas não consegui.
Revirei os olhos e cliquei em enviar antes de pensar melhor.
Por que eu ouvi o Dom?
A resposta veio quase imediatamente, como se ela estivesse esperando na frente da tela. Talvez ela estivesse entediado.
— Obrigado. Eu não tinha certeza do que você gostaria. Estou feliz que você gostou. Estou preparando a lista de compras, tem mais alguma coisa que você você gostaria de comer?
Eu balancei minha cabeça. O velho Luca teria respondido “sua boc*eta” em um instante e visto aonde isso nos levava... que eu tinha certeza que seria ela, nua e molhada, na mesa da cozinha e eu devorando-a como se fosse minha última refeição.
Meu p*au se contraiu e eu olhei para baixo com surpresa. Já fazia um tempo desde que meu pa*u saiu de seu coma prolongado. Ele geralmente estava em suporte de vida, assim como eu, sentindo nada, exceto meu ódio constante por si mesmo. Isso era o que acontecia quando você era um verdadeiro morto-vivo.
Qualquer coisa, eu não me importo.
— Você tem uma casa linda e os jardins são incríveis. Eu tenho explorado.
Eu sabia, é claro, que não havia nada nesta propriedade que eu não soubesse.
Suspirei e me levantei, cambaleando um pouco. Eu não ia conversar com ela. M*al suportava as conversas com Dom, não ia bater papo com Astride, deusa da inocência.
Cocei a barba ao me virar para a janela e, pela primeira vez, notei meu reflexo. Eu havia removido todos os espelhos aos quais tinha acesso, não precisava ser lembrado de quem eu havia me tornado. Há quanto tempo eu não olhava para mim? Seis meses? Um ano? Eu não tinha certeza, mas não era o suficiente.