9º Capitulo – Uma Estranha Ligação

2739 Words
Encaminhei-me para o interior do cómodo, com Eliot atrás de mim. Peguei na pequena sentindo todo o seu corpo tremer, ao mesmo tempo que tinha um mau pressentimento. - O que se passa Mel? - Tive um sonho mau. Um homem vinha atrás de mim e queria levar-me com ele. – Encostei a testa à da minha filha, murmurei um feitiço, e logo me arrepiei. - Foi só um pesadelo – disse-lhe enquanto a embalava. – Vou ficar contigo até voltares a adormecer, está bem? – O meu marido olhou-me sobressaltado, mas nada disse. Demorei algum tempo a tranquilizar Melody, embora eu própria não estivesse calma. Ao voltar para o quarto encontrei Aurora à minha espera, assim como Eileen. Eliot não se encontrava presente, apesar da hora tardia, deixando-me ainda mais perturbada. - Queres mesmo que volte a assumir o controlo do reino? – Expliquei melhor o que o meu marido não tivera tempo de fazer antes de se ausentar, pois como prevíramos os problemas começaram a aparecer. A minha mãe acabou por concordar, relatando-me em seguida o que havia acontecido. - Se estes desaparecimentos repentinos forem obra do Dylan acho que podemos ter a certeza que ele aprendeu a usar os aparelhos de controlo dos gémeos. - Só que os gémeos não conheciam tão bem o reino quanto o Dylan. Teremos de reforçar as defesas do palácio, das aldeias e das fronteiras. – Eileen já começara a rabiscar uma lista de prioridades, enquanto eu escrevia uma longa carta aos meus pais adoptivos. - Espera – pediu a minha mãe. – Eu própria vou falar com o Michael e a Mirela. Não devo demorar muito tempo, mas aconteça o que acontecer não me sigam. O Dylan já deve ter previsto que iriamos lá e pode ter preparado alguma armadilha. – Despedindo-se, Aurora dirigiu-se rapidamente ao espelho ainda colocado na sala do trono e desapareceu. - Mia, acorda a Laila e diz-lhe para vir ter comigo à biblioteca. Pauline, fica a tomar conta da Melody e não a leves para perto de mim mesmo que ela acorde com medo outra vez, é preferível que ela fique perto da Eileen até que o Eliot volte. – As aias, que eu chamara antes de Aurora sair dos meus aposentos, assentiram, fazendo imediatamente o que lhes fora pedido. – Vou tentar reforçar a barreira – esclareci à minha sogra. – Preciso da ajuda de Laila para isso e de muita concentração, por isso é perigoso que, por algum acaso, a Melody esteja perto de nós. - Vou ter cuidado para que isso não aconteça. – Preparava-me para sair quando Eileen me parou. – Devo mandar algum aviso para que as pessoas se protejam? - Sim – respondi, suspirando. – E guardas também, especialmente para as aldeias mais perto da fronteira. Informa-os dos desaparecimentos e diz-lhes para comunicarem aos restantes vigias que encontrarem pelo caminho. Laila já me esperava quando cheguei à biblioteca. Percebi que ela não estava bem, pois os seus olhos estavam vermelhos e inchados, além do laço do seu robe estar meio desfeito. Contei-lhe o que precisávamos fazer, ensinando-lhe o encantamento, e depressa começámos os preparativos. Tranquei a porta, arrastámos as mesas e cadeiras para os cantos da sala e sentámo-nos de mãos dadas, começando de imediato a recitar o feitiço. À medida que a sua energia se esgotava comecei a passar-lhe a minha, criando um elo diferente de todos os que tinha experienciado durante a minha aprendizagem mágica. - O que se está a passar? - Não sei – admiti. A nossa força aumentava a cada minuto que passava e eu sentia, devido aos poderes que adquirira na coroação, a barreira protectora do reino cada vez mais forte. - Esta energia é toda tua Emily? – Abanei a cabeça em negação, começando a sentir o meu corpo mais leve, levitando quase de imediato. – Que visões são estas? Antes que pudesse responder a minha mente foi invadida por imagens da carta que Dylan escrevera a Laila, da imensidão do céu estrelado visto através de lágrimas e de uma criança parecida com Laila de mãos dadas com dois adultos sem rosto. Após tudo isso caímos no chão, demasiado atordoadas para falar. - Viste o mesmo que eu? – Dentro da minha cabeça ouvi as palavras dela mesmo antes de as proferir. - Vi o Dylan a arrastar a Melody, uma batalha em que não se viam os rostos de quem lutava e uma sala redonda sem janelas, só com uma mesa e uma folha de papel. – Pensei na visão da batalha que tinha tido mas não revelara a ninguém, assim como a da minha filha que eu dissera que era apenas um pesadelo e na sala misteriosa onde se encontrava a profecia. – Tu acabaste de pensar no que eu disse? Acabei de ver novamente as imagens. - E eu ouvi o que disseste mesmo antes de falares. – O choque estava estampado no nosso rosto ao percebermos que alguma coisa mudara. – Vou pensar nalguma coisa. - O Michael e a Mirela? Oh… - Pois… É mesmo isso, nós lemos a mente uma da outra. O que será que aconteceu? – Laila encolheu os ombros e abanou a cabeça. - Quem eram aquelas pessoas sem rosto? – Pensei na imagem que vira minutos antes, ao que Laila suspirou. - Um pesadelo antigo. A carta do Dylan fez com que voltasse. – Na minha mente as lembranças dela passavam como se fossem um filme: ela, ainda criança, ia de mãos dadas com os pais que nunca conhecera mas, à medida que andava, os seus corpos iam ficando cada vez mais sumidos até desaparecerem por completo pelo que ela se encolhia, completamente indefesa e cheia de medo. – Nunca te cheguei a contar como vim parar ao castelo. - Foste trazida pelo teu pai, soubemos as duas disso. - Mas eu não morei sempre no palácio, só vim para cá quando completei cinco anos. Eu vivi com duas pessoas das quais não me lembro do rosto – um sorriso triste apareceu-lhe, mas rapidamente se desfez, - que tomaram conta de mim até que comecei a treinar para fazer parte da tua guarda. A Aurora contou-me que os pais dela escolheram duas pessoas de confiança mas não me revelou quem eram. Essas pessoas não se lembram de mim devido a um feitiço lançado pelo rei Garnet, que deveria ter feito o mesmo comigo mas por alguma razão eu ainda tenho algumas das minhas memórias. - Como nunca fiquei a saber disso? Foi uma crueldade o que te fizeram. - Não era suposto eu recordar nada que tivesse a ver com eles, e tudo servia para me proteger. – “Mas porque é que o pesadelo voltou agora?”, inquiri em pensamento. – Quando li a carta fiquei a pensar se a minha vida precisava de ter sido esta, se não podia ter vivido com os meus pais. – Ela fez uma pausa, mudando de assunto em seguida. – Aquela visão foi mesmo da Melody? - Sim. Disse-lhe que tinha sido apenas um pesadelo, mas está a acontecer o que já esperávamos. Não deve ter sido difícil para o Dylan descobrir que eu tinha uma filha. - Ela é tão pequenina para estar no meio de tudo isto… - Nunca consegui que uma visão não se concretizasse. Tenho medo do que possa acontecer com a Mel. - Vamos treiná-la e protege-la o melhor que pudermos, agora que a sua magia despertou é ainda mais imperativo que o façamos. - A minha mãe já deve ter chegado com os meus pais, pelo menos é o que espero. – Abri a porta da biblioteca preparando-me para sair, mas ao invés disso voltei-me novamente para Laila. - O que será que aconteceu quando eu te passei a minha energia? - Não faço ideia. Nunca vi nada parecido. Contámos a Eileen o que se tinha passado assim que a encontrámos, mas nem ela sabia do que se poderia tratar. Troquei rapidamente de roupa, vestindo umas calças de ganga e uma blusa, e desci para a sala do trono sendo que, m*l entrei, o espelho começou a brilhar deixando três pessoas entrarem na sala. Abracei os meus pais adoptivos, contei-lhes o que se estava a passar e o que tinha acontecido na ausência de Aurora, deixando-os a todos boquiabertos. A noite passou sem mais sobressaltos e, ao amanhecer, Eliot regressou. Não haviam conseguido descobrir nenhuma pista sobre os desaparecidos, levando-nos à confirmação de que Dylan estaria por detrás de tudo. O meu marido ficou surpreendido com o que acontecera durante o tempo que estivera fora do palácio e preocupado com a visão da nossa filha, assim como da batalha que eu previra. Melody acordou bem-disposta e ficou ainda mais alegre ao descobrir Michael e Mirela, chamando-os de avós, ao que eles ficaram completamente deliciados. Começaram então a tentar que a pequena aprendesse algumas coisas básicas da magia, deixando-me tempo para tentar perceber porque conseguia comunicar com Laila através do pensamento. A sala de registos reais era a minha única esperança de encontrar algo que me esclarecesse e ajudasse a enfrentar o que viria no futuro. Pedi à sala que me desse informações sobre leitura de pensamentos: recebi o feitiço que utilizara para ler a mente a Melody. Pedi informações sobre transferência de energia: recebi uma explicação detalhada para o que servia, mas não havia nada que eu já não soubesse. Pedi fusões de mentes, poderes partilhados e feitiços de repartição, mas não descobria nada de relevante. - Encantamentos desconhecidos – gritei para o ar, sem qualquer convicção. Dois livros grossos pairaram à minha frente, caindo na mesa. m*l abri o primeiro volume vi que era aquilo que procurava. Peguei nos livros e encaminhei-me rapidamente para o quarto de Laila, encontrando-a à porta. – Ainda bem que te encontro. - Ouvi-te pensar em me procurar aqui – afirmou com um sorriso. - Então sabes porque vim. – A minha prima negou, o que me fez pensar que a sala de registos me bloqueara a mente. – Estes livros podem ter as repostas que procuramos. - Encantamentos desconhecidos? – Laila parecia intrigada com o título do livro. – Se escreveram sobre eles como podem não os conhecer? - As informações não estão completas, mas podemos ter alguma pista do que se passou. - Espero que resulte… Está a tornar-se cansativo ouvir-te o dia todo Emily… - O sentimento é mútuo. – A minha prima abriu o primeiro livro, lendo os títulos das páginas, enquanto suspirava. A tarde passou lentamente deixando-nos frustradas a cada folha passada. Elaine trouxera-nos o almoço, Deise o lanche e a minha mãe mais problemas. - O Eliot teve de sair. Houve um ataque em Menda. - Não é costume irem para sul. Quais os danos? - Pelos vistos o Dylan não está a agir como os gémeos, não existem feridos e nada foi destruído. - Então o que aconteceu? – Aurora sentou-se na borda da cama, encolhendo os ombros. - Não sei, o Eliot só me disse que ia investigar. - Onde está o Eric? – Virei-me para Laila, ao mesmo tempo que a minha mãe lhe respondia. - A última vez que o vi estava com o Richard na cavalariça. - Vou procura-lo, pode ser que ele consiga nos explicar o que está escrito aqui. - Enquanto isso podias vir comigo Emily? Tenho alguns assuntos que precisas resolver, e visto que o Eliot não está tens mesmo de ser tu. - Está bem. Vai ter comigo à sala do trono se descobrires alguma coisa Laila. – Ela assentiu e cada uma de nós se encaminhou numa direcção. Depois de tratar de toda a burocracia e mandar algumas tropas para Beron, onde houvera outro ataque e em que tinham desaparecido guardas, fui procurar Melody. A minha filha estava na sala onde eu tivera aulas anos antes, assim como os meus pais adoptivos. A petiza correu para a porta quando me viu, pedindo colo, e os meus pais suspiraram. - Como está a correr o treino? - A Mel é demasiado pequena – começou a minha mãe. – Ela ainda não consegue compreender a magia. - Só começámos hoje, não podemos pedir milagres – respondeu o meu pai ao sentar-se num cadeirão. – Pode nos levar algum tempo. - Não esperava outra coisa – desabafei. - Também não me parece que tê-la aqui fechada todo o dia seja encorajador Emily, ela só tem dois anos. - Estiveram aqui todo o dia? Pensava que só iam tentar ensinar uma ou duas horas. Eu não quero que a Melody passe a infância a preparar-se para a guerra. - Amanhã vamos tentar de outra forma, e durante menos tempo. - Obrigado pai, vou tentar estar presente. – Abracei-os, ainda com a minha filha nos braços. Descemos os quatro para o salão de refeições, onde já se encontrava uma boa parte das pessoas que viviam no palácio. Sentámo-nos perto de Eileen, que confirmava algo numa lista extensa. - O que estás a fazer avó? - Estou a preparar a festa de aniversário da tua mamã Mel. - Com tudo o que está a acontecer ainda querem fazer uma festa? - Exactamente por isso Emily, um pouco de animação é o que está a faltar-nos a todos. - Não sei se será uma boa ideia. – Comecei a pensar que era esperado que houvesse uma festa no meu dia de anos, e Dylan sabia-o. – Não vai haver festa. - Porquê mamã? – Acabei de alimentar a minha filha e levantei-me sem nenhuma explicação. - Vou levar a Melody para o quarto e de seguida vou para a sala do trono. Encontrem-me todos lá. Pelo caminho até aos quartos encontrei Laila, ao que lhe pedi para levar Jennifer e Holly, assim como os seus maridos, para a sala do trono. Ao chegar aos aposentos de Melody chamei Pauline para cuidar dela e dirigi-me rapidamente para as cavalariças. - Quero que entreguem esta mensagem ao rei o mais depressa possível – solicitei a um dos guardas que lá se encontrava. Na sala do trono já estavam todos aqueles com quem eu necessitava falar acerca do meu plano, embora eu preferisse ter Eliot por perto antes de falar no assunto. - O que se passa Emily? Para que é que nos chamas-te a todos? – Aurora espelhava a confusão dos presentes. - O facto de a Eileen querer organizar-me uma festa de aniversário deu-me uma ideia. É óbvio que o Dylan pense que vamos fazer exactamente isso e nós vamos mesmo, só que eu não vou comparecer. - Como assim filha? - A festa vai ser organizada e os convites enviados. Quanto a mim, e a quem quiser vir comigo, vou para o esconderijo do Dylan. - Não estamos preparadas para isso ainda Emily! - Pensava que querias ir de uma maneira ou de outra Laila. - Sim, mas… - Enquanto isso a Mirela e o Michael ficam com a Melody e a Aurora e a Eileen entretêm os convidados. Também gostaria que vocês – apontei para Jennifer e Holly – ficassem. - Nem penses, nós vamos. - Holly pensa na Lily. Ela precisa de ti. - Eu sei Laila, mas vocês também precisam. O Eric e o Richard podem ficar com os bebés. - Gostaria que eles nos acompanhassem. - Nós? – Richard e Eric entreolharam-se. – Porquê? - Porque preciso que alguma da guarda vá e se houver luta vamos precisar de alguém para ajudar os feridos. Sei que tens alguns conhecimentos médicos Richard, podes auxiliar o Eric. - Então nós vamos ficar aqui sem fazer nada? - Não Jennifer, tu vais continuar a tentar perceber os aparelhos de controlo mental. Tenta arranjar um feitiço que nos permita criar o nosso próprio controlador – acrescentei sem mais explicações, pois também não tinha pensado em como os usar, nem mesmo se teria coragem para isso. – Quanto a ti Holly, preciso que me prepares um mapa de como chegar ao esconderijo do Dylan seguindo as indicações da Laila. Depois disso preciso que procures candidatos para formar uma guarda para a Melody. - Já falaste com o Eliot sobre isto? – Abanei a cabeça em resposta à minha mãe biológica. - Mandei-lhe uma mensagem. Espero que ele esteja de volta nos próximos dias. Enquanto ele não regressa tenho outras coisas para descobrir com a Laila. - Falando nisso, já sabes que tenho novidades…
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