Assim que acabei de descer a escadaria os aplausos, que haviam começado m*l apareci, cessaram, dando origem a cumprimentos e felicitações de todos os presentes. Revi amigos e conhecidos, falei com algumas pessoas que ainda não conhecia e sorri sem parar quando ouvi os elogios à minha filha.
Ao contrário do que pensara milhares de pessoas compareceram ao baile, pelo que o jantar precedente teve de ser substituído por um jantar volante, o que fez com que a animação da noite fosse ainda maior. As conversas fluíam facilmente e a paz estava estampada no rosto dos convidados, o que me deixou desgostosa por saber que não duraria muito até que tudo se alterasse novamente.
Eliot veio ao meu encontro algum tempo depois e, juntos, abrimos o baile. Melody corria pela sala fazendo-nos a todos rir, especialmente quando encontrou um rapazinho com uma idade aproximada à sua e os dois começaram a tentar dançar como os adultos presentes. A mãe da criança, envergonhada, apressou-se a ir ter com o filho, chegando perto das crianças no mesmo momento que eu fazia o mesmo.
- Desculpe-me majestade, o meu filho ainda é pequeno e não sabe que a menina Melody é a sua princesa.
- Não me peça desculpa por isso, aliás o meu nome é Emily, não se sinta na obrigação de me tratar de outra maneira. Ainda não nos conhecemos, creio eu.
- Chamo-me Vivian, majestade. Este é o meu filho Edward – acrescentou apontado para a criança a seu lado.
- Olá Edward – disse, ajoelhando-me ao lado de Melody. Ele respondeu-me alegremente e abriu um grande sorriso. – Vejo que encontras-te uma amiguinha.
- Sim – replicou, saltitando.
- Podemos brincar juntos mais vezes? – A frase da minha filha apanhou-me desprevenida, não pelo seu conteúdo mas porque ia jurar que ela não dissera mais nada que mamã e papá durante o tempo que estivera com ela e Eliot garantira-me que ela não falara até ao dia anterior. – Por favor?
- É claro que sim, mas tens de perguntar à mãe do Edward se ele pode. – A petiza olhou para mim com os olhinhos a brilhar e rapidamente se virou para Vivian.
- O Edward pode vir brincar comigo mais vezes? – Vivian olhou para mim e ao ver o meu sorriso assentiu. – Obrigado! – Saltarinhando, Melody e Edward afastaram-se.
- Obrigado. Pelo que sei a Melody não conhece ninguém da sua idade.
- Deve custar-lhe muito ter perdido o crescimento dela até aqui.
- Muito, mas ao mesmo tempo sei que ela foi acarinhada e cuidada pelo pai e por pessoas muito queridas para mim. – Olhei para a pequena, que sorria como eu ainda não tivera oportunidade de ver.
- Sabe quando ela começou a falar? Fiquei espantada quando ela falou a primeira vez, sem nem sequer se enganar. Alguém a ensinou assim tão bem?
- Ontem. – Vendo que Vivian não entendera, expliquei. – Ela começou a falar, e a andar ontem apenas. Pode parecer mentira, mas pelo que sabemos o facto de eu estar em coma por causa de um feitiço fez com que a Melody ficasse afectada nesses aspectos. Assim que acordei ela começou a correr e a chamar por mim.
- Incrível. – Perante a conversa não ouvi o meu marido me chamar, mas assim que o fiz despedi-me de Vivian, dizendo-lhe que aparecesse quando quisesse.
Eliot queria apresentar-me algumas pessoas, deixando-me ocupada por horas, até que Eileen se aproximou afirmando que iria levar Melody para o quarto. Rapidamente, e aproveitando a deixa, peguei na minha filha e olhei para Eliot, que entendeu a minha intenção. Pedi a todos que me ouvissem e despedi-me, desculpando-me por sair tão cedo da festa.
- Como devem entender eu perdi muito do crescimento da minha filha e todos os momentos que puder passar com ela de agora em diante nunca me vão fazer recuperar o tempo perdido, então todos os instantes são importantes para mim. Por isso aproveitem a festa e desculpem-me por não estar mais tempo convosco esta noite. Sintam-se à v*****e para aproveitar o resto do baile e para nos visitar quando quiserem. – Sorri enquanto Eliot me alcançava e, também ele, se desculpava por se ir ausentar.
Deitei Melody assim que chegámos ao seu quarto, pois já dormia nos meus braços. Eliot compreendeu a minha v*****e de a ver dormir pelo que trouxe um sofá para perto do berço e me abraçou. Conversámos bastante sobre Melody, sobre o tempo que passara e sobre o que iríamos fazer em r*****o a Dylan. As horas foram passando e, já perto do nascer do sol, o meu marido caiu no sono, deixando-me apenas com a visão da minha princesa adormecida e com os meus pensamentos.
Melody acordou às nove horas cheia de energia. Eliot ainda dormia quando deixei o quarto com a minha filha que falava sem parar.
- Quando é que o Edward vem brincar?
- Não sei.
- Se ele não vier hoje podemos ir passear?
- E onde queres ir? – Arrependi-me logo de perguntar, pois Eliot dissera-me que estava frio demais para que a pequena pudesse sair.
- Não sei, só quero passear contigo mamã. – Os meus olhos encheram-se de lágrimas que apenas Laila, que acabava de sair do seu quarto, viu.
- Já acordadas? – Melody deu um beijo na bochecha da prima assim que esta se baixou.
- Queres ir passear connosco?
- Como é que… - Laila olhou para mim, incrédula pelo vocabulário perfeito da minha filha. Encolhi os ombros e sorri. – Então e onde vamos Mel?
- Não sei. – O sorriso da petiza era contagiante e rapidamente nos fez rir.
- Tratamos disso mais logo – adiantei. – Agora vamos tomar o pequeno-almoço. – Melody começou a saltitar à nossa frente, dando-me oportunidade para falar com a minha prima. – Laila, estive a falar como o Eliot a noite passada e há uma coisa que não me sai da cabeça.
- O quê?
- A profecia dizia que se eu derrotasse os gémeos todo o reino ficaria em paz, mas isso não se concretizou. Todos nós sabemos que mais cedo ou mais tarde vamos ter de enfrentar uma nova guerra.
- Realmente é estranho. Não tinha pensado nisso.
- O que eu quero dizer é que talvez houvesse um erro na interpretação da profecia. Como têm tanta certeza que era eu a escolhida, ou que a Brook e o Keith eram os nossos verdadeiros inimigos? – Encolhendo os ombros a minha amiga deixou esmorecer o sorriso.
- Nunca vi a profecia original, mas decerto a Aurora pode mostrar-te.
- Original? O que queres dizer com isso?
- Acho que nunca chegámos a falar sobre isso… - Laila parou no meio do corredor, encarando-me. – Sabes quantos anos tem a profecia?
- Não, mas se foi feita antes de eu nascer não deve ser muito mais velha do que eu.
- Na realidade tem mais de cem anos – admitiu, recomeçando a caminhada.
- Então podemos ter estado enganados todo este tempo – comecei, esperando o pior.
- É melhor que fales com a tua mãe sobre isso. Não tenho as informações completas para te dar e não quero que haja confusões por algo que eu disser de errado.
- Vou fazer isso. – Chegámos ao salão de refeições onde Melody recebia todas as atenções devido à sua fala perfeita. – Ainda estou em choque – comentei. – Primeiro não falava, agora nem sequer se engana em palavras que nem devia ainda saber pronunciar.
- A Mel apanhou-nos a todos de surpresa, não há dúvida. Não me admirava se o resto da aprendizagem dela fosse acelerado.
- Espero que não. Quero que ela cresça normalmente, ainda que saiba que aqui o normal é bastante relativo. – Laila riu, possivelmente recordando-se de alguma peripécia da sua infância. – Vou falar com a minha mãe após o pequeno-almoço. Podes dar uma olhada na pirralha?
- Claro!
Aurora sorria, tal como Eileen, ao ouvir a neta. Sentei-me perto delas a ouvir as declarações da pequena Melody até que todos acabassem a refeição, chamando a minha mãe para a sala do trono assim que ela se levantou.
- Alguma coisa me diz que não queres falar comigo sobre o tempo – começou Aurora assim que entrámos na sala.
- Preferia que assim fosse – lamentei. – Soube que nunca me foi contada a profecia que ditava que eu iria acabar com a guerra em Cyon.
- Não estou a perceber Emily, sabes de tudo desde que vieste para cá.
- Se assim fosse devíamos estar em paz e não ameaçados pelo Dylan. – A minha progenitora olhou pela janela, suspirando. – Os gémeos estão mortos, portanto houve algo que me esconderam ou então que foi m*l interpretado.
- Existe uma cópia da profecia que foi escrita quando esta foi feita, mas não sei onde se encontra.
- Nunca a viste? – A negação com que me brindou deixou-me furiosa. – Então como sabias que era eu a escolhida?
- Os meus pais disseram-me que se eu tivesse uma filha ela seria a pessoa de quem a profecia falava. Pelo que sei foram eles que esconderam a cópia, por isso deve estar algures no palácio. – Não esperei nem um segundo para me dirigir à porta e procurar ajuda.
Sabia que tinha reuniões marcadas para o dia mas deleguei-as todas a Eliot, já que ele sabia melhor do que eu do que se tratava. Juntei as minhas amigas e a minha mãe para começarmos as buscas, deixando Eileen encarregue de Melody, dividindo-as pelo castelo. Aurora e Jennifer ficaram na biblioteca, pois pareciam conhecê-la de uma ponta à outra, Laila e Holly verificavam as inúmeras salas onde se podiam encontrar livros, e eu encarregara-me de ver nos registos reais.
Percorri um caminho que nunca tinha feito antes, encontrando uma sala escura cheia de mesas cobertas com caixas. Em cada uma das caixas existiam milhares de papéis com apontamentos feitos pelos anteriores reis e rainhas, o que me fez suspirar. Podia levar anos a descobrir o que procurava se ali se encontrasse, ainda mais porque apenas os actuais soberanos podiam entrar nessa sala e, mesmo que eu quisesse contornar essa regra, não o poderia fazer, pois a sala estava protegida com uma antiga magia de que ninguém ouvira falar.
- Onde será que estão as anotações dos meus avós? – Ninguém me podia ouvir mas perguntei mesmo assim, o que foi uma sorte. Quatro caixas voaram para perto de mim, esperando um lugar para pousar.
Peguei num molho de folhas da primeira caixa, começando a lê-las o mais rapidamente possível, embora não me adiantasse em nada. O tempo foi passando, os dias sucedendo-se às noites, e ninguém conseguia encontrar a profecia.
Eliot mantinha-se ocupado com os nossos deveres, tomando conta da nossa filha ao mesmo tempo, deixando-nos pouco tempo para desfrutar como casal, o que me andava a deixar irritada. O aniversário de Melody aproximava-se a passos largos e logo começaram a falar-me da festa que lhe iríamos fazer. Como estava determinada a que ninguém soubesse do perigo que o reino corria, até que fosse estritamente necessário, tive de deixar as buscas um pouco de lado e concentrar-me nas festividades, embora passasse as noites acordada à procura de alguma coisa que me dissesse onde se encontrava a profecia.
A meio de Abril interrompemos todas as buscas, pois Jennifer e Holly tiveram os seus filhos, surpreendendo-nos a todos com o facto de os bebés nascerem no mesmo dia. Jennifer e Richard tornaram-se pais de um menino, a quem chamaram Nathan, enquanto Holly e Eric tiveram uma menina, cujo nome colocado foi Lily. Apesar de estar bastante feliz pelas minhas amigas sentia uma pontada de inveja, pois por mais filhos que pudesse vir a ter, aqueles primeiros dias e meses era algo que nunca passaria com Melody.
O tempo continuou a passar e rapidamente chegou o dia de aniversário da minha filha. O tempo estava quente o que permitiu uma pequena festa ao ar livre, juntando a família e os amigos mais chegados. A minha filha estava radiante, pois Edward tinha comparecido, assim como mais algumas crianças que viviam próximas ao palácio. Após o terminar da celebração dirigi-me, juntamente com Eliot, para a sala que passara a fazer parte do meu dia-a-dia.
- Tens a certeza que estes são os últimos papéis?
- Não – admiti. Faltavam-nos analisar cerca de vinte folhas, o que não me estava a deixar positiva. – Foram só estas caixas que responderam ao meu apelo, mas a minha mãe pode estar errada e terem sido os avós dela a esconder a profecia.
- Onde está a profecia? – Por muito que quisesse não ri da tentativa do meu marido, pois fora das primeiras coisas que eu própria tentara assim que percebi que a sala me orientaria nas buscas. – Será que não está aqui?
- Talvez – respondi sem grande esperança. – O talvez estejamos a procurar pela coisa errada.
- Não te estou a perceber Em.
- Olha para isto. – Mostrei a Eliot uns apontamentos que deveriam ser mais velhos que os meus avós maternos. – Parece um mapa.
- É um mapa! Mas não percebo de onde. – A sala voltou a ganhar vida e pouco depois um enorme rolo de papel estava nas mãos de Eliot.
- O que é?
- O projecto do castelo. – Vendo a minha incompreensão, continuou: - Basicamente mostra-nos todos os cómodos construídos aqui. Por exemplo, neste sítio fica a biblioteca, e aqui o salão de baile…
- Mas se isto é o palácio porque está aqui este corredor? – Apontei para uma das pontas do plano, completamente baralhada. – Aqui só existe a sala do trono.
- Deixa-me ver o mapa. – Os minutos decorriam e a minha curiosidade aumentava. – Estás a ver esta passagem? – Olhei para os dois papéis e descobri a sua semelhança. – Algo me diz que precisamos de ir por ali.
- Então de que estamos à espera?
A tarefa pareceu-me mais simples do que era na realidade. Assim que chegámos à sala em que, supostamente, encontraríamos a entrada para aquela parte secreta do palácio, ficámos parados a olhar em volta, não sabendo o que fazer a seguir. Tentámos bater nas paredes, enfeitiça-las para que se abrissem e até implorámos por uma a******a, mas nada deu resultado. Sentei-me no chão, ignorado os olhares de quem passava, concentrando a minha atenção no mapa que encontrara.
- Não adianta! Tens a certeza que é aqui Eliot?
- Tudo indica que sim.
- O que estás a fazer mamã? – Melody aproximou-se de mim, agarrada a uma boneca, enquanto Laila aparecia no meu raio de visão.
- Estou a procurar uma porta – respondi sem imaginação.
- Fizeram algum progresso?
- Descobrimos isto. – Eliot mostrou à amiga os papéis, enquanto eu observava a minha filha e a sua brincadeira. – Só não sabemos por onde entrar.
- Acho que a Mel acabou de descobrir. – O comentário de Laila fez-me observar melhor o local onde Melody brincava.
- Aquilo é uma maçaneta? – Entre duas estantes algo dourado brilhava, levando-nos a especular se seria aquela a entrada.
Assim que retirámos as estantes avistámos uma porta que facilmente seria confundida com uma parede. Empurrando-a, o meu marido consegui que se movesse apenas alguns milímetros, e esse esforço deixou-o exausto.
- Deixa-me tentar – pedi. Reuni toda a minha força e lancei um feitiço à porta. A minha energia esgotava-se rapidamente e minutos depois fui f*****a a desistir. – Não aguento mais, preciso de descansar.
- O que se passa com esta porta? Só abriu uns cinco centímetros!
- O mais estranho é ter deixado a Em neste estado. – Laila assentiu, vendo a minha fraqueza.
- Há mais de um mês que não durmo – disse, convencida que era esse o meu problema. – Devo estar mas fraca do que pensei ser possível.
- Queres que te vá buscar alguma coisa?
- Deixa estar Laila, eu recupero… - Não consegui acabar a frase, pois Melody acabara de colocar a sua pequena mão na porta e abrira-a facilmente. – Como é que ela fez aquilo?
Eliot e Laila viraram-se rapidamente, espantando-se com aquilo que viram. A pequena traquina olhou para nós com um sorriso no rosto e a boneca na mão, deixando-me confusa e preocupada.
- Abriu! – Saltitando, Melody entrou no corredor, fazendo-me saltar do sofá onde me encontrava e correr atrás dela.
- Mel, volta aqui! – Assim que passei pela porta ouvi um estrondo. Sabia que estava ali fechada e que deveria haver uma explicação para tudo aquilo, mas naquele momento apenas queria encontrar a minha filha naquele sítio inexplorado.