4º Capitulo – Espera

2088 Words
- O que se passou? - Está tudo bem majestade, não se preocupe. Só estava a informar o Eric sobre os cuidados a ter com a rainha. - O Robert achou que não faz sentido vir todos os dias ao palácio já que eu vou morar aqui – explicou o noivo de Holly com um grande sorriso estampado no rosto. – Ia-mos perguntar-te o que achas, é claro. - Se não te importares de assumir também essa responsabilidade eu não me importo, tenho toda a confiança nos teus cuidados de enfermeiro. – Caminhei calmamente até ele, apertando-lhe a mão. – Se achares que é demasiado trabalho avisa-me, vais ter muito que fazer com a guarda real. - Não me parece que haja problema. Depois de conversar um pouco com o médico saí, suspirando, e encaminhei-me para a cavalariça. Preparei o meu cavalo e dirigi-me para o exterior, onde a chuva ainda caía embora com menos intensidade. Cavalguei durante algum tempo tentando ocupar a mente, ainda que tal fosse praticamente impossível. Totalmente encharcado, voltei para o palácio. Havia acabado de tomar um banho quente quando a minha mãe bateu à porta, trazendo chá para dois. Durante algum tempo ela não disse nada, deixando-me subitamente pouco à v*****e com a sua presença. O tempo foi passando até que o bule já estava vazio e a conversa não podia ser adiada por mais tempo. - Como estás? - Farto que me perguntem isso – respondi sem simpatia. - Vai ficar tudo bem. - Quando? – Levantei-me do sofá repentinamente, passando a andar pelo quarto completamente desnorteado. – A Emily está em coma, o meu filho corre perigo a todo o instante e não posso abandonar o reino e ir à procura do Dylan. Já se passaram quase três meses e nada se alterou. - O médico confirmou que não há nada de errado com a Emily e o vosso filho está a ser vigiado o máximo possível. As probabilidades de algo correr m*l são poucas. - Mas existem – retruquei. - Como em qualquer gravidez – retorquiu ela exaltada. – Tu próprio pregaste-me vários sustos antes de nasceres. - Não sabia disso. - Não te podes preocupar tanto Eliot, não há nada que não esteja a correr como previsto, excepto claro o facto de a tua mulher estar em coma mas quanto a isso não podemos fazer nada. – Preparava-me para interromper quando a minha mãe continuou: - o Dylan só será um problema quando o efeito do feitiço passar. Até lá concentra-te naquilo que tens para fazer. – Erguendo-se, sem nenhuma outra palavra, pegou no tabuleiro onde estavam depositadas as chávenas e o bule e abandonou os meus aposentos. Não desci para jantar, pois não queria ver ninguém. O tempo foi passando e quando dei por mim já o dia clareava. Arranjei-me com calma e fui tomar o pequeno-almoço, ocupando a mente com o trabalho que me aguardava. Os dias sucederam-se rapidamente. A recuperação de Laila estava completa, Jennifer e Holly regressavam das respectivas luas-de-mel e Aurora tratava, juntamente com a minha mãe, do enxoval do neto. As avós estavam mais animadas que eu, pois o meu medo de algo correr m*l era tão grande que não me deixava aproveitar a sensação de vir a ser pai. Emily continuava sem dar sinais de vida, o que também não me acalmava. - O que aconselha doutor? - Não me parece que a criança corra perigo, Vossa Alteza. Acho que vamos poder esperar até ao final do tempo sem que existam complicações. Pode ficar descansado, o pior já passou. - E a rainha? - Lamento majestade, mas continua sem mostrar qualquer sinal que vá acordar. - Já esperava por isso – admiti. Continuei no quarto de Emily mesmo depois do médico se ir embora, abrindo a janela para deixar entrar o ar primaveril que se sentia. Março trouxera mais calor do que o habitual, enchendo os campos de flores muito antes do costume, fazendo com que as mulheres que me rodeavam quisessem que eu as acompanhasse em passeios pelo jardim. Depressa me arrependi de negar os seus pedidos, tal era o acumulado de trabalho que tinha para fazer. Encaminhei-me para a cavalariça, onde Richard me aguardava, juntamente com o general da guarda real, para definirmos quais as suas funções ao serviço da guarda, o que levou toda a tarde. De volta ao palácio, Aurora chamou-me para me mostrar as roupas que tinham feito para o meu filho, ocupando-me grande parte do serão. Laila também se encontrava presente, tal como a minha mãe, Jennifer e Holly, e a conversa girava em torno do s**o do bebé. - Eu digo que é uma menina – opinou Holly animada. - Também penso que sim – concordava Laila, pegando num pequeno vestido. - Eu aposto num rapaz – afirmou Jennifer. – Alguém acha o mesmo? - Pelo tamanho da barriga da Emily eu diria que são gémeos – comentou a minha mãe, empolgada. – Qual é o teu palpite Aurora? - Não acho que sejam gémeos… - Pegando em dois conjuntos, um de menino e outro de menina, a minha sogra suspirou. – Só espero que o coma da Emily não tenha afectado a criança. – Os ânimos extinguiram-se numa fracção de segundo, deixando-me novamente melancólico. – Mas não vamos ser pessimistas. - Pois não, temos de nos alegrar. – Laila levantou-se do cadeirão e veio ao meu encontro. – Já pensaste em nomes para o bebé? - Não. Queria fazer isso com a Em. - Não sabemos quando ela vai acordar Eliot. – Aurora sorriu tristemente, dando-me a mão. – Temos de nos mentalizar que pode levar anos para que isso aconteça. - Eu sei – admiti, derrotado. – Prometo que vou pensar nisso. – Quase sem forças, obriguei-me a ficar de pé e dirigi-me para o quarto. Ao acordar o meu pensamento estava nas palavras de Aurora. Eu não sabia quando a minha mulher voltaria a si e não podia continuar à espera infinitamente pelo seu acordar para tomar certas decisões. Pensei no meu filho por nascer e sorri ao constatar que eu sabia que nome gostaria que ele ou ela tivesse. Levantei-me rapidamente, mais feliz do que nos últimos tempos, cheio de energia para enfrentar o que viria no futuro. Março passou e Abril chegou, demasiado quente para o meu gosto. Cedendo ao pedido da minha mãe saí do castelo por alguns dias, passeando pelas várias aldeias perto do palácio. Revi amigos e conhecidos, recebi felicitações pelo bebé e muito apoio pelo que havia acontecido a Emily. A rainha era querida entre todos e ninguém o poderia negar, fazendo-me lembrar que não era o único preocupado com o seu estado. Ao voltar ao palácio, muito mais animado do que quando o abandonara, fui recebido por Aurora, que depressa me pôs a par de todo o trabalho que me esperava. Eric também fora ter comigo, deixando-me descansado no que tocava a Emily e à criança que crescia no seu ventre. Encontrei Jennifer na biblioteca, tratando de algumas pesquisas para a guarda, da qual ela fazia agora parte integrando a equipa de estratégia. Sentei-me perto da janela à espera que terminasse, admirando os campos floridos do jardim. - A viagem fez-te bem – afirmou ao ver-me sorrir. – Estávamos todos a ficar preocupados. - Sair do castelo foi a melhor coisa que fiz – concordei. – Todavia agora tenho muito que fazer por causa disso – acrescentei ao mesmo tempo que me ria. - Então tenho boas notícias, porque acabei de resolver metade. – Mostrou-me algumas folhas de papel, satisfeita consigo mesma. – Mas não foi disso que vieste falar comigo, pois não? - Não – respondi, entregando-lhe as suas pesquisas. – Queria saber como está a Laila. - Continua a arrastar-se pelos cantos. As feridas sararam bem, mas as lembranças dela atormentam-na a todo o instante. - Não é para menos… - Ela voltou a treinar, o que segundo o médico é um sinal de melhora, porém tem um longo caminho a percorrer até que a consigamos ver a sorrir de novo. - Até que esse dia chegue não podemos sobrecarrega-la com nada. – Jennifer assentiu. – Sabes onde ela está? - Foi passear com a Holly e só devem voltar à noite. – Voltando a pegar nos papéis, Jennifer suspirou. - Agora tenho de ir entregar isto ao general antes que ele ache que fugi. – Sorri enquanto a via abandonar a biblioteca e, decidido a acabar o trabalho rapidamente, encaminhei-me para a sala do trono. Tudo correu bem até ao final de Maio, quando o médico me informou que estava na altura de retirar o meu filho do ventre de Emily. Fosse quem fosse que se aproximasse de mim ficava contagiado com os meus nervos, tal era o estado em que ficara com a notícia. A pequena sala de chá, agora transformada numa sala de espera que parecia nunca mais terminar, estava abarrotada de gente. Enquanto andava de um lado para o outro Aurora conversava com a minha mãe visivelmente nervosa, o que era raro em si. Jennifer estava a um canto a bordar, por mais desconcentrada que estivesse, enquanto cantarolava uma canção. Holly e Laila também falavam, acompanhadas de Richard, que viera assim que a palavra se espalhou no castelo. Eu entrava e saía da sala vezes sem conta, esperando alguma novidade que tardava em chegar. Richard aproximara-se de mim, tentado acalmar-me, embora não estivesse a ter sucesso. - Se alguma coisa estivesse a correr m*l já nos tinham avisado. - Ou então o contrário. Podem não poder dispensar ninguém. – Além do médico e de Eric, estavam presentes ainda mais dois médicos e um pediatra. - Já teriam pelo menos chamado alguém Eliot. - Estamos todos aqui, quem iam chamar? - Uma das aias, por exemplo. Acalma-te, vai correr tudo bem. - Assim o espero. – m*l voltei a sair da sala vejo Eric com um grande sorriso no rosto. – Diz-me que correu tudo bem. – Os restantes ocupantes da sala de chá apressaram-se a ir para o corredor, completamente nervosos. - Não podia ter corrido melhor. – Apertando-me a mão continuou: - parabéns, tens uma filha linda e saudável. - Uma filha? – Os meus olhos ficaram rasos com a emoção e depressa chegaram os abraços. Primeiro da minha mãe e da minha sogra, também elas lavadas em lágrimas, depois de Laila que, pela primeira vez em tantos meses esboçava um sorriso, ainda que meio tímido, e por fim de Richard. – Podemos vê-la? - O pediatra está só a certificar-se que está mesmo tudo bem, mas não há nada que indique o contrário. Assim que ele acabar eu venho avisar-vos. - E a Emily? - Não registámos nenhuma alteração, mas não me parece que fique com sequelas, apenas será confuso para ela não recordar nada da gravidez quando acordar. - Já estava à espera que isso acontecesse. - Preciso de ir. Volto assim que tiver novidades. A tensão desapareceu da sala e a emoção tomou o seu lugar. As avós babadas foram buscar as mil e uma roupas de menina que tinham feito, Jennifer conversava alegremente com Richard sobre quando seria a sua vez de ser mãe e Laila e Holly comentavam o alívio que sentiam do desfecho daquela gravidez. Encaminhei-me para a sala onde decorrera a operação, sentando-me no chão do corredor à espera que me deixassem ver a minha filha, ainda sem acreditar que correra tudo bem. Os minutos pareciam demorar horas a passar, o que me estava a deixar novamente preocupado. Quando avistei Eric ele riu, tal a minha ânsia, e levou-me para o local correcto onde eu podia finalmente ver o meu bebé. - O quarto dela? Ainda não estava pronto. - Eu pedi às aias da Emily que o preparassem antes de ir ter contigo. – Ao abrir a porta avistei um mundo cor-de-rosa. – Aproveita agora para ficares sozinho com ela, o resto das mulheres vão querer a atenção toda da pequenina quando aqui chegarem. Eric deixou-me no cómodo, onde apenas via Pauline, e depressa me dirigi ao berço. Ao compreender que eu queria privacidade a aia saiu, e eu pude ver pela primeira vez aquele ser minúsculo. Pegando-lhe ao colo, não contive as lágrimas e demorei um tempo a acalmar-me. - És muito parecida com a tua mãe – disse baixinho. – Queria que ela estivesse aqui. – Uma última lágrima caiu do meu rosto, molhando a sua pequena mãozinha. – Não sabes o quanto te amo, minha pequena Melody.
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