'Tenho certeza que é ela'. Foi o que se passou na minha cabeca quando senti o celular vibrando no bolso da calca jeans. Eram quase 9 horas e Isa ja devia estar esperando no barzinho de sempre para tomarmos café. Muitas coisas dando certo pra mim, o trabalho que sempre quis, dinheiro caindo na conta, e sim, isso era essencial para aquela sonhadora criança, amigos, faculdade terminando, mãe estourando de orgulho, tantas coisas que não dava nem para guardar dentro do peito. Mas desse turbilhão de novidades tinha uma coisa que eu iria agradecer eternamente. Ter conhecido a Isa.
Nem me dei ao trabalho de responder o email que tinha chegado, já estava na saída do metrô da carioca, e em menos de 5 minutos estaria perto daquela amiga que descobri e daquele sorriso que tanto estava me fazendo bem. Um pão na chapa e um cafezinho, sem açúcar. Isa ja foi pedindo antes mesmo que eu abrisse a boca. Ela já sabia o que eu gostava e o que eu não gostava, inclusive sabia que me irritava muito quando ela pagava minha conta, por isso ela saiu da fila na hora de pagar.
Dei um abraço apertado nela, ri de alguma besteira que tinha acontecido naquela madrugada e peguei meu café da manhã para irmos andando para o escritório. Faltava pouco para a loucura começar e nós devíamos estar a postos, afinal de contas éramos coordenadoras de uma das equipes e nos sentíamos as donas do pedaço. Isso sempre fazia ela rir mais ainda.
Não demorou muito para meu celular vibrar de novo e dessa vez não era a Isa, ela estava sentada do meu lado na mesa grande do escritório. Era a Rafa, minha namorada. Pelo menos por enquanto era. Nós estávamos juntas a quase 3 anos, mas nossa vida era um pouco conturbada. A verdade é que eu precisava muito mais da vida e pra ela bastava ficarmos daquele jeito até...até morrermos. E isso era muito pouco pra mim, eu tinha um mundo inteiro pra conhecer e não queria casar, ou pelo menos viver como casada. Enfim, não ia dar certo e eu já sabia disso, acho até que a Rafa também sabia, mas ela nunca iria reconhecer esse pensamento, essa sensação.
Eu quase não pensava nisso, estava só esperando aquela época pesada do trabalho acabar para resolver esta parte da minha vida. O que mais me preenchia era a felicidade enorme que eu sentia por finalmente estar trabalhando no que eu era apaixonada e ainda por cima ganhava bem para isso. E estava muito feliz também com aquela amizade nova que tinha surgido. A Isa era muito especial e por incrível que pareca, muito parecida comigo em alguns sentidos o que me fazia rir toda vez que conversávamos.
A minha situação com a Rafa estava indo de m*l a pior, estavamos num pré-termino tenso. Mas no meio do caminho tinha um feriado que poderia salvar minha cabecinha de surtar de vez. Uns 4 dias no Rio, trabalhando que nem uma condenada (mas feliz) sem precisar me preocupar com qual seria o motivo da briga do dia, porque todo dia tinha uma. Prometia ser um feriado ótimo, m*l sabia eu que ia ser mais do que surpreendente. O feriado era na quinta, meu único dia de folga e também o dia que a Rafa viajou. Passei esse dia em casa, aproveitando um pouco do descanso que eu nunca tinha, até porque no dia seguinte, tinha trabalho. E lá estávamos nós, a melhor equipe de trabalho do mundo, era assim que eu via aquele time, nunca tinha gostado tanto de trabalhar em um lugar como estava gostando dali. Sexta feira pós feriado, estávamos todos num clima meio lento, doidos para fazer algo de diferente. Passamos o dia pensando no que íamos fazer a noite e eu só sabia que independente do que fosse acontecer, iria dormir na casa da Isa, tinha prometido a ela, isso já estava certo. Falamos, discutimos, conversamos e decidimos ir a um show, eu, Isa e o Pedro que trabalhava com a gente e que adoravam falar que era o terceiro elemento do triângulo amoroso que existia no escritório. Ele tinha namorada.
Fomos a um show que todos iriam gostar, na verdade só precisávamos de um lugar diferente, não aguentávamos mais ver as paredes do escritório. O mais estranho e diferente dessa noite foi o que se passou dentro de mim. Lá pelo meio do show a Isa foi até o bar comprar uma ice ou uma água, não lembro. Ela demorou um pouco e eu ficava tentando olhar ela da onde estava e fiquei irritada porque não conseguia acha-la. Depois de mais uns 2 minutos ela volta com uma ice a mais na mão, toda sorridente dizendo que um menino tinha pago pra ela. Me irritei de vez. Mas ao mesmo tempo que me irritava eu me achava, no mínimo, ridícula. Eu estava com ciúmes de uma amiga minha? Como assim? Eu não tinha nada com ela e......eu queria ter algo com ela? Era isso que estava mexendo tanto comigo? Ah, quer saber, cansei, vamos? Já está tarde. E fomos embora nós duas, direto pra casa dela, como eu havia prometido.
Aquela noite, ou melhor, manhã foi muito estranha. Ela estava deitada na cama da irmã dela e eu estava dormindo no colchão no chão. Estava sentindo uma vontade enorme de ficar falando com ela até a gente não aguentar e dormir no meio da frase, ou até alguém vir mandar a gente calar a boca, que era o que normalmente acontecia quando nos juntávamos. Eu queria mais dela, é como se todas as horas que passávamos juntas não fossem suficientes. Deixei que o cansaço me vencesse e dormi, apaguei justo no momento que o sol já brilhava lá fora.