Capítulo 1

973 Words
Muitas pessoas acreditam em sinais e eu estava começando a acreditar. Talvez eles tenham chegado até mim muito antes de que eu pensasse na existência deles, mas já é tarde para tentar lembrar. Do que eu me lembro era de uma manhã há alguns anos atrás, quando ainda estava no ensino médio, em que eu tinha perdido a minha carteirinha estudantil. Na verdade, eu a perdi centenas de vezes, mas a daquele dia foi início de uma nova vida, porque tudo tinha mudado a partir de então, especialmente eu. - MÃE, VOCÊ VIU MINHA CARTEIRINHA? - gritei desde meu quarto Droga, de novo não! Odiava perder as coisas, mas ainda mais a carteirinha, porque sem ela tinha que assinar o papel na secretaria e a secretária iria me olhar com a cara fechada e dizendo, de novo, que logo eu levaria uma suspensão. É sempre assim. - EU NÃO VI. VÁ LOGO, VOCÊS NÃO PODEM SE ATRASAR PARA O PRIMEIRO DIA. Primeiro dia depois das férias de inverno, isso não conta. Eu odiava aquele lugar, eu não tinha muitos amigos, na verdade apenas uma, Isabella e ela era próxima de quase todos do colégio, assim também não conta. Mas, no ano passado tudo foi h******l, todos zombavam com todos, até os professores eram alvos de bullying, eu não era diferente. - MILENA, EU VOU SOZINHO SE VOCÊ NÃO DESCER AGORA - Leo falou. Leo é meu irmão mais velho, por apenas um ano. Nós não nos damos tão bem quanto eu gostaria, mas ainda assim, é meu sangue e portanto, eu o amo. Mas, isso fica entre nós, não quero que ele saiba. Desci as escadas correndo. - Tchau mãe - falei. - Tchau, boa sorte - ela respondeu. O Leo abriu a porta e começou a me encarar com pressa. Eu finalmente saí. - Ei, Mi. Não se esqueça que eu não te conheço no colégio. - ele disse. - Você continua com vergonha de mim? - falei. - Não é vergonha, é só que você não tem muitos amigos, sabe? - Você só quer que eu seja amiga da Bruna, para que você finalmente possa ficar com ela - falei de gozação. - Cala boca e continua andando. - Relaxa, eu não vou falar para ninguém que também sou uma Meneses. Ah e só porque você é mais velho não significa que pode me mandar calar a boca. Nós permanecemos em silêncio pelo resto do caminho, acho que ele não queria uma discussão de verdade. Quando finalmente chegamos no colégio, ele passou pela catraca tranquilamente, porque ele carregava a carteirinha dele. Mas eu estava na frente daquele papel de presença. -Outra vez senhorita Meneses? - Fátima, a secretaria, falou. - Pois é, por vezes acho que minha carteirinha foge de mim. Ela ficou quieta. Naquele papel tinha mais um nome de alguém da minha sala, Adam. Esse era novo... - Você vai ficar de suspensão logo - Fatima completou e eu dei um sorriso envergonhado para ela. Passei a catraca e segui até a minha sala, 1° ano A. Era uma sala normal que acomodava cerda de 40 pessoas, bem e agora mais uma. Ainda faltava algum tempo para a aula começar, então peguei meu livro que estava quase no fim. - Fazendo meu filme? - Isa falou se aproximando de mim. - Pois é - respondi - estou amando. - Sim, eu já li a série inteira, muito boa. Como foi de férias? - Eu viajei para o litoral, e você? - Eu passei de recuperação em recuperação, sinto saudades do fundamental. Não tinha nada dessa história de química ou física. - Se quiser eu te ajudo nos estudos - falei. - Não precisa, meu pai contratou um professor particular - ela respondeu - eu já volto, vou dar um oi para a Giovanna que acabou de chegar, a gente se vê Mi. - Ok. Ela saiu e eu peguei o meu bom e velho amigo livro. " Nesta sala de embarque, eu não sei o que vai acontecer de agora em diante, apenas que - neste momento, este é o melhor final feliz que eu poderia escolher para mim. " Paula Pimenta, Fazendo meu filme. Eu não acredito nesse final, como pôde fazer isso comigo? Como eu me recupero? Assim não dá. Mas espera, o professor está demorando demais. Parecia que ele tinha me ouvido, já que segundos depois chegou na sala. - Desculpem a demora gente, como é bom vê-los de novo. Sentiram saudades, né? Por favor não partam meu coração. Ele disse tarde, porque a sala respondeu com um belo não e depois todos riram. - Vou me lembrar disso na prova - o riso se repetiu - epa estou vendo um rosto novo por aqui, qual é seu nome rapaz? - o professor disse apontando para o garoto novo que sentava na minha frente. - Adam, mas não sou tão novo assim. Eu fiquei um tanto confusa com a resposta, eu não entendi o que ele quis dizer com isso. - Mas enfim, cá estou eu de novo no inferno - continuou. O professor deu de ombros para o comentário dele e deu início a aula de geografia. - Que garoto positivo - sussurrei para mim mesma, mas ele escutou. Ele se virou, olhou em meus olhos e disse: - Eu só não me dei muito bem aqui. - E você já se deu bem em algum lugar? - falei. Ele sorriu. - Bem, eu acho que não. Você é esperta, como conseguiu perceber isso? - É que eu acho que você é como um livro aberto demais. Ele analisou a resposta passando os olhos sobre a minha mesa e esses pararam ao ver o meu livro. - Pelo que vejo você gosta de livros. - Eu adoro, mas nem todos chamam a minha atenção. - E eu consegui chamar a sua? - E qual é a sinopse? - Um garoto que fará de tudo para te ter. Você vai querer ler? - Não, mas obrigada pela oferta. - Por que? - O clássico clichê que todas conhecem o final. Não parece uma leitura interessante. - Mas, às vezes não vale a pena ler um clichê? - Só se for de qualidade.
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