Pra cima de mim, só avião a jato!

1741 Words
Agatha Cheguei em casa depois da faculdade já era quase meia-noite. A casa continuava do mesmo jeito que estava quando eu cheguei do trabalho. Entrei no quarto e Hugo dormia profundamente. Balancei a cabeça, conformada, quando foi que nos tornamos tão distantes assim um do outro? Entrei no banheiro e tomei um banho, cansada, deitei e dormi em seguida. Acordei com o despertador tocando, olhei para o lado e Hugo não estava. Escutei o barulho do chuveiro e estranhei. Hugo não levanta cedo nem para mijar. Minutos depois ele sai, enrolado em uma toalha. Em outros tempos, me daria água na boca só de vê-lo assim. ― Levantou cedo. ― ele vem até mim e me dá um selinho. ― Tenho uma entrevista de emprego. ― ele dá de ombros. ― É mesmo? Não me falou nada ontem. ― desconfio. ― Você nem me deixou falar, já chegou brigando. ― ele coloca uma calça e uma camisa e sai do quarto. Eu entro no banheiro e tomo um banho rápido. Visto uma calça jeans, uma blusa branca e uma jaqueta de couro preta. Penteio o meu cabelo, faço uma maquiagem leve, passo perfume e coloco um brinco de argola. Entrei na cozinha e Hugo estava fazendo café na cafeteira, "vai chover", pensei, mas preferi me manter calada. ― Que horas é sua entrevista? ― Às 08h00. ― Hugo (por incrível que pareça), é formado em administração. Sua faculdade foi paga totalmente pelos pais. ― Podemos rachar um táxi, o que acha? ― ofereço. Ele assenti e entrega uma xícara cheia de café. ― Então, onde é essa entrevista e para qual cargo? ― Na JB construtora. A vaga é para chefe do RH. Não é bem o meu campo de atuação, mas vamos ver no que dá. O salário parece bom. ― Isso é bom, amor. Vai dar tudo certo, você vai ver. ― gosto quando ele se esforça, isso me dá forças para continuar acreditando na gente. Espero de verdade que ele consiga esse emprego. Pegamos um táxi, ele me deixa no escritório e depois segue para a sua entrevista. Antes de descer do carro, eu lhe desejo boa sorte. Na entrada do escritório, encontrei novamente com o Dr. Ricardo. Ele sorriu largo ao me ver, e como da última vez, ele abre a porta para mim. ― Bom dia, Agatha. Está linda hoje, aliás, você sempre está. ― um verdadeiro Don Juan. ― Bom dia, Dr. Obrigada. ― sorrio sem graça. Entramos e eu me encaminho para a minha mesa, Lívia já se encontra absorvida com os olhos na tela do computador. ― Bom dia, já está pegando firme logo cedo. ― digo. ― Bom dia, Agatha. É tanto trabalho, que é melhor começar o quanto antes. ― ela desviou os olhos da tela e sorriu para mim. Me acomodei em minha mesa e comecei a arquivar alguns documentos que já estavam sobre a minha mesa. De canto de olho, vi a chata da Renata se aproximando. Respirei fundo e me preparei. Antes que ela pudesse jogar um monte de papel em cima da minha mesa de novo, eu a impedi: ― Nem pense nisso. ― me levantei e a encarei. ― Como é? ― disse com petulância. ― Nem pense em jogar o trabalho que você precisa fazer para cima de mim. Eu não sei como costumava ser aqui antes de eu entrar, mas eu não vou aturar uma p*****a folgada para cima de mim. ― ela abre e fecha a boca algumas vezes, seu rosto corando pela afronta sofrida. ― Escuta aqui, sua... ― Escuta aqui você. Não quero mais te ver nem próxima a minha mesa, entendeu? Agora me faça um favor e desapareça da minha frente que eu tenho mais o que fazer. ― volto a me sentar com tranquilidade. Ela continua parada em minha frente, tremendo de raiva. ― Você vai se arrepender disso, novata. ― ela gospe. ― Você é quem vai se arrepender, se não sumir da minha frente agora. ― ela bufa e sai pisando duro de volta para a sua mesa. Eu sorrio satisfeita, sem me dar conta de que Lívia está me olhando de boca aberta. ― Eu.estou.em.choque. ninguém nunca bateu de frente com ela antes. ― diz admirada. ― Então já estava na hora de alguém fazer isso, não é? ― rio. ― Adorei! ― ela ri. Agora sem a p*****a da Renata enchendo o saco, o dia de trabalho foi bem mais agradável. Na hora do almoço, Lívia e eu pedimos comida e almoçamos no escritório, e como de costume, não recebi nenhum sinal de vida por parte do Hugo. Eu já estava acostumada com isso, mas algo sempre me fazia esperar alguma coisa dele. No fim do expediente, o Dr. Ricardo me ofereceu carona mais uma vez, e mais uma vez ,eu disse não: ― Quer carona hoje, meu anjo? ― me incomoda muito quando ele me chama desse jeito, mas como dizer isso para um superior? ― Eu agradeço, Dr. Mas não precisa, tenho que passar na oficina antes de ir para casa. ― de canto de olho, noto Lívia nos observando. ― Na oficina? Seu carro está no concerto? ― curioso nem um pouco. ― Não, minha moto está na oficina. ― há algum tempo, aliás, desde que o motor fundiu e eu não tive dinheiro para o concerto. Mas, agora que estou trabalhando, vou passar lá e pagar no cartão. ― Moto? Gosta de motos, Agatha? ― ele sorri com malicia. ― Amo! Minha moto é o meu xodó. ― rio. De repente ele me faz uma pergunta um tanto estranha e invasiva: ― Você já transou em cima da sua moto? ― ele diz passando a língua pelos lábios grossos. ― O que?! Não! Eu nunca transei em cima da minha moto e de nenhuma outra! Preciso ir, Dr. Ricardo. Até amanhã. ― me afasto rapidamente, pensando no que p***a acabou de acontecer aqui? Rafael Acordei às 05h00 da manhã, com o celular berrando do lado da minha cama. O peguei ainda de olhos fechados e atendi sem ver quem estava ligando. Ligação on: " Alô?" " Rafael? Você precisa vir para a delegacia. Encontraram um corpo, achamos que possa ser de uma das vítimas." ― a voz do Rodrigo soou exasperada. Eu me sentei na cama tentando absorver as informações. " Certo, eu estou indo." Me levantei apressado da cama e vesti a primeira roupa que vi, pendurei meu distintivo no pescoço e sai cantando pneu. Se esse corpo que encontraram for mesmo de uma das vítimas desaparecidas, a investigação tomará um rumo totalmente diferente. Estacionei em frente a delegacia e subi os degraus da entrada depressa. Minha equipe já estava reunida em seus postos, todos se levantaram quando entrei. ― Bom dia, Delegado. - disseram todos. ― Bom dia, pessoal. - avisto Rodrigo vindo em minha direção. - Onde está? - pergunto, me referindo ao corpo. ― Vem comigo. - o acompanho até uma sala para onde ele aponta. O corpo está sobre uma mesa, coberto por um lençol branco. Eu o afasto e o meu estômago afunda ao constatar que se trata mesmo de uma das vítimas. A parte mais difícil, será dar a notícia aos familiares de que a filha, a esposa, a namorada, a neta, a sobrinha que estavam procurando, foi encontrada morta e já em estado de decomposição. ― Já sabemos a causa da morte? - perguntei ao Rodrigo. ― O corpo ainda vai passar pela autópsia, mas tudo indica que foi por esganadura. Note que há marcas em volta do pescoço. - diz, apontando para a vítima. ― Preciso checar a ficha da vítima, em seguida precisamos informar os familiares para que venham fazer o reconhecimento do corpo. - Rodrigo me segue até a minha sala. Eu pego uma pasta que contém as informações da vítima da pilha de pastas de muitas outras. ― Carina, 24 anos, solteira, estudante de moda, residente em Ipanema. - É ela, sem dúvida alguma. - digo, analisando a foto da moça de cabelos longos loiros e olhos castanhos claro. ― O corpo foi encontrado sem nenhuma peça de roupa na área da mata, em Petrópolis. Um morador da região, caminhava pelo local quando sentiu um forte cheiro e foi em busca da origem, e acabou se deparando com o corpo já em estado de decomposição. - conta Rodrigo. Eu suspiro pensativo. Tem um filho da p**a, sequestrando mulheres e matando-as de forma c***l, e eu não faço ideia de onde encontrar esse infeliz. ― Já é um começo termos encontrado o corpo, antes não tínhamos pista nenhuma. - Rodrigo diz, como se tivesse lido os meus pensamentos. ― Precisamos vasculhar aquela área toda em busca de alguma pista, ainda há dois supostos corpos desaparecidos. Eu mesmo vou liderar a operação. - Saio seguido por Rodrigo e anúncio para a minha equipe: ― Se organizem rapidamente. Hoje iremos revirar a área da mata de Petrópolis de cima a baixo, até encontrarmos alguma evidência. - todos assentem e começam a se movimentar. - Rodrigo, por favor, avise a família da vítima que o corpo será enviado para o IML, e que eles devem ir até lá para fazer o reconhecimento. ― Agora mesmo, Delegado. - meu parceiro me dá um aperto no ombro e segue para a sua sala. Eu reúno minha equipe e partimos para a operação. ... Chegamos ao local onde o corpo foi encontrado e minha equipe se dividiu. Hoje eu não saio daqui sem uma evidência, por simples que seja. Começamos a vasculhar a mata em busca de alguma prova, o tempo passa depressa, já está quase anoitecendo e ainda não encontramos nada. Nem parece que um corpo foi encontrado nesse mesmo local. ― Vamos embora! - eu chamo minha equipe. ― Não tem nada aqui. Volto para a delegacia inconformado por não ter encontrado nada que pudesse me levar ao culpado pelo assassinato da moça que encontramos o corpo hoje, e provavelmente pelas outras possíveis mortes das vitimas que continuavam desaparecidas. Infelizmente, eu não acredito que aquelas moças ainda estejam vivas. Eu gostaria do fundo da minha alma que elas estivessem, mas sinto que não estão. Chego em casa frustrado pelo dia de hoje. Vou direto para o banho e me deito sem jantar. Não estou com fome, e só Deus sabe se vou conseguir dormir essa noite com a cabeça cheia do jeito que estou.
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