Irresistible

2259 Words
"Beijo, imperdível. Seus olhos, irresistíveis" (One Direction, Irresistible) Dizem que Paris é a cidade da luz, mas deixe-me corrigir: Las Vegas é a verdadeira cidade da luz. Tão iluminada que pode ser vista do espaço. Todos os anos milhares de turistas vêm até a metrópole do pecado em busca de aventura, histórias para contar e o mais importante, dinheiro. Não importa que a maioria saiba que nunca se ganha de fato, eles insistem em tentar a sorte e é exatamente esse tipo de gente que eu estou encarando nesse exato momento sentada à mesa de jogo de um dos muitos de hotéis da minha família. A adrenalina do desafio me deixa animada e isso me ensinou a ter o que o jogador perfeito precisa: calma, técnica, expressão vazia e um blefe inquestionável Por esse motivo me apelidaram de Luck, eu praticamente nunca perco. Mas às vezes é bom para os negócios deixar os novatos ganharem segurança, uma certeza da vitória até apostarem tudo o que tem. É nesse momento que eu mostro o meu verdadeiro jogo e me sinto ótima. Parece c***l, mas a vida não é justa com otários. — Pago um raise — diz um dos homens à mesa. Ele está bem seguro, uma vez que ganhou as últimas rodadas. Então resolveu apostar tudo. Sem esboçar qualquer reação, concordo e cubro o valor, ansiosa para o the Showdown. As cartas são distribuídas e vez ou outra alguém me encara ou porque sabe quem sou ou pelo simples fato de eu ser a única mulher aqui. — Aí está ela. Luck gostaria de apresentar um amigo — Jasper sibila animado. Ele é advogado da família e noivo da minha irmã Flora. Tenho certeza de que isso é mais uma tentativa dela de me fazer sair com alguém que ela considera “decente”. Bobagem. Como se as pessoas viessem com uma placa de “vou f***r sua vida, caia fora” ou “eu sou o que você precisa, fique comigo”. — Espero que valha a pena, estou no meio de uma coisa muito interessante aqui — suspiro entediada. Ele concorda e aponta para o cara ao seu lado. Até então eu não o tinha visto, mas no momento em que meus olhos pousam em seu rosto uma descarga elétrica dispara pelo meu cérebro fazendo minhas sinapses trabalharem mais rápido. — Você? — pergunto surpresa. Sua expressão também não é a das mais convencidas de que está realmente me vendo. Seu cabelo está diferente, cortado curtinho clássico, meio bagunçado, realçando ainda mais o rosto perfeito de cretino. Eu me lembro dele, já faz dois anos, mas eu lembro. Como esqueceria o cara que me deixou sozinha na cama apenas com um bilhete como se eu fosse uma g****************a? Eu nem sequer sei o nome dele, o que não foi um problema já que nunca imaginei que o veria novamente. Mas eis que aqui está ele, bem na minha frente, rosto milimetricamente esculpido com um maxilar firme e bem desenhado, sobrancelhas grossas, lábios de cereja finos e habilidosos, corpo de arrasar. — Vocês se conhecem? — Jasper pergunta confuso me tirando dos meus devaneios. — Sim. Quer dizer, não! — respondo apressada. Ele continua calado, me encarando. Por que está me encarado? — Hum... Então, esse é meu amigo, Harvin. Ele está passando uns dias em Vegas e veio me ver hoje — então o nome do i*****l é Harvin? — Oi — ele finalmente fala e eu apenas levanto a mão em um cumprimento contido. — Acho que nós já vamos indo. Bom jogo, Luck — Jasper corta o clima estranho e aponta para as máquinas atrás de si por sobre o ombro. — Luck? — Harvin pergunta curioso. d***a, a voz dele é tão sexy, rouca e com um sotaque britânico carregado. — É cara, ela praticamente nunca perde — meu cunhado responde com uma nota de orgulho o que me faz sorrir. — Nunca? — ele solta descrente. — Praticamente. — Posso jogar? — ele está de brincadeira? — Tá falando sério? — Jasper dispara incrédulo. — Se não tiver problema, claro. — Estamos quase terminando a rodada. Os valores estão altos, quer tentar mesmo assim? — desafio. — Eu cubro as apostas — dá de ombros simples e puxa uma cadeira da mesa. — Não sabia que padres jogavam em cassinos — provoco cruzando os braços sobre a mesa. — Padres fazem muito mais do que jogar em cassinos, você sabe disso — ele devolve sem se abalar e ainda me lança um sorrisinho debochado com direito a covinhas que são um precipício, pois dão sugerem uma inocência que sei que não existe. Jasper fica em silêncio nos observando com um fascínio ridículo enquanto as cartas são entregues e voltamos a atenção para a partida. Dessa vez estou bem focada e com um bom jogo nas mãos. Terminamos a última rodada de apostas depois do river, mas ainda sobramos eu e Harvin. Nossos olhos travam uma batalha quase épica, enquanto seguramos nossas cartas prontos para mostrá-las. Tenho um Straight Flush, o que significa que a menos que ele tenha um Royal Flush, a vitória é minha. — Straight Flush —  espalho as cartas sobre a mesa. Ele me analisa por um breve instante, em um suspense irritante. — Não foi dessa vez, Luck. Royal Flush, baby. Acho que hoje não é o seu dia de sorte. Meu rosto desaba um instante, mas consigo recuperar a expressão desdenhosa antes que ele perceba. — Sorte de principiante — estalo a língua com desdém e ele concorda sorrindo descaradamente. Agradeço a todos na mesa e levanto. Caminho em direção ao bar, meus saltos estalando no chão. Aquele i*****l tirou todo o meu bom humor. Há milhares de pessoas no planeta, milhares de lugares e eu tenho que reencontrar justamente ele — O que vai ser, Luck? — Uma dose pura de vodka — peço distraída ao barman. — Você não é muito boa em perder, não é? — aquela voz ressoa atrás de mim fazendo-me arrepiar. — Não seja convencido. Aquilo não foi nada demais. Ele se aproxima e puxa um banco  sentando-se ao meu lado me avaliando da cabeça aos pés com o dedo indicador entre os lábios. — Gosta do que vê? — pergunto e ele sorri baixando os olhos para o chão por breves segundos antes de voltar suas órbitas verdes emolduradas por longos cílios negros para mim. — Sim, muito. Na verdade, eu estava pensando em como você pode ter ficado mais gostosa desde a última vez que nos vimos —  o timbre da voz dele assume uma entonação mais rouca e provocadora conforme as palavras deixam sua boca. — E eu estou surpresa com o quanto você continua descarado. Um bilhetinho, sério? — É por isso que você está tão irritadinha? meu bem, era carnaval. O que você esperava, flores e café da manhã na cama? — Não seja ridículo e se quer saber, você apenas me poupou de dispensá-lo pela manhã. — Não era o que parecia, pelo menos não depois de ter transando comigo a noite, pedindo por mais até os dois não aguentarem — ele responde sem se abalar. Reviro os olhos e ignoro seu comentário me voltando para minha bebida, o que só o faz rir de verdade. Pelo menos alguém está se divertindo aqui. Sinto-me irritada quando flashs da nossa noite disparam como um painel em exibição em minha mente, causando-me um formigamento entre as pernas. — Me deixe te pagar um drink como pedido de desculpa — pede suavemente. — Não preciso de suas desculpas, mas se você vai pagar, eu quero um Salvatore's Legacy. — Tudo bem. O que você quiser. A propósito, não é estranho o fato de já termos nos vistos sem roupa e eu nem mesmo saber o seu nome de verdade? Ao pontuar isso ele pede minha bebida e eu fico em silêncio. Harvin sustenta o silêncio entre nós até que desisto. — Olívia.    — Olívia... um bom nome para uma boa garota.  Confesso que pensei em nomes mais... como eu posso dizer? A sua cara. —  Tipo...?  — Sasha. — Não é o nome daquela ex-atriz pornô, Sasha Grey? — o silêncio dele é o bastante para me confirmar.   — b****a! — sibilo entre dentes e levanto.  Quando viro as costas em direção a saída ele se levanta e se põe na minha frente — Qual é? ela é uma mulher inteligente e toda profissão é digna. Não quis te ofender, juro. Sua expressão é séria e ao mesmo tempo divertida e então se torna vidrada e selvagem me deixando inquieta.  Não sei quem toma impulso primeiro, só percebo que aconteceu quando nossos lábios colidem. Não é delicado e nem lento. Sua mão segura minha nuca com firmeza, enquanto a outra aperta minha cintura para me manter no lugar. O gosto de bebida em sua língua misturado com o sabor natural dele percorre todos os cantos da minha boca disparando incentivos para todas as partes do meu corpo. É uma injustiça alguém ser tão i****a e beijar tão malditamente bem. Por alguns segundos  perco a noção e retribuo o beijo até voltar à realidade. — O que você pensa que está fazendo?! — esbravejo sem fôlego limpando a boca com as costas da mão. — Sinto muito, não pude resistir. Me desculpa mesmo, eu não deveria ter feito isso — ele exala com calma. Posso ver em seus olhos que é um pedido sincero e para falar a verdade eu nem sei por que toda essa irritação em relação a ele. — Para alguém que m*l me conhece, você já me pediu muitas desculpas. Devo acreditar que isso é um hábito? — respondo enquanto me recomponho. — Pra ser honesto, isso só acontece com você — ele dá de ombros com a sombra de um meio sorriso brincando nos lábios.  — Acho melhor eu ir, já deu minha hora. Harvin me solta e assente fazendo uma linha rígida com os lábios. Fico parada mais um pouco e em seguida reencontro o controle das pernas para andar em direção a saída. Sinto meu celular vibrar e o pego constatando que as notícias correm realmente rápidas por aqui. Leonard: Eu me pergunto quando você vai amadurecer e parar de desperdiçar tempo e dinheiro, mas pelo visto ainda está muito longe. Bloqueio a tela e jogo o aparelho de volta na bolsa. Meu pai nunca vai deixar de me ver como a rebelde sem causa que nunca superou o casamento fracassado. Antes que eu me dê conta já estou voltando apara o bar. — O drink ainda está de pé? — pergunto sentando-me ao lado dele novamente.  Harvin apenas me passa um shot de tequila com um pedaço de limão e um pouco de sal. Boto o sal entre o indicador e o polegar e seguro a fatia de limão, lambo o sal e viro tudo de uma vez, chupando o limão em seguida. — Pelo visto alguém precisa relaxar — ele comenta colocando um pouco de sal na borda do próprio copo e virando tudo de uma vez. — Acho que sim. Quer ir para uma suíte? — suas sobrancelhas se erguem surpresas. Eu e meu jeito delicado de deixar tudo ganhar uma segunda intenção. —Não é para transarmos. Vamos apenas beber com privacidade — esclareço e viro outro shot. Não quero que meu pai saiba que eu também fiquei bêbada em um dos hotéis, não preciso lhe dar mais munição. — Tudo bem. Mas se mudar de ideia sobre o s**o, estou à disposição. — Cala a boca — acho graça e empurro seu rosto de brincadeira antes de levantar e começar a andar. O elevador abre as portas no último andar e eu vou direto para a suíte máster no fim do corredor, sempre fico aqui quando meu apartamento parece muito tedioso ou quando quero um lugar mais privado para trazer alguém. Uma regra básica para uma pessoa que não busca relacionamentos ou problemas do tipo é nunca levar as fodas de uma noite para casa. Abro a porta e Harvin entra logo atrás de mim. Muito a vontade tiro as sandálias e caminho até o frigobar enquanto ele dá uma conferida no lugar com um sinal de aprovação no rosto. Quem não iria amar isso aqui? dá pra ver quase toda a cidade e a magnífica fonte do Bellagio. — Bela suíte — ele elogia. — Eu sei, obrigada —  pego a bebida e dois copos para nos servir. Começamos a beber e pela primeira vez na noite observo que ele está vestindo uma camisa social branca de linho com as mangas levantadas até o cotovelo e botões abertos até o meio do peitoral o que deixa algumas das suas tatuagens a vista. O jeans preto e justo se adéqua deliciosamente bem às pernas torneadas. — Se tirar uma foto dura mais tempo — ele brinca tirando-me do meu frenesi. — O que? —  Você está quase me despindo com os olhos. — Não seja convencido.  Sento na outra poltrona de frente para ele e ponho os pés na mesinha de centro. Enquanto entornamos as bebidas as horas voam e depois de um tempo eu já nem sei o que estou falando. Começamos a rir e falar coisas sem sentido até tudo se tornar um borrão de bocas arfando, mãos em todos os lugares, copos quebrados, corpos suados, alguém esbarrando em algum móvel, mais tequila e de repente o mundo fica n***o.
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