O reencontro

941 Words
Duas semanas depois depois do baile encontrei com Júlio por acaso.Ele parou de moto do meu lado quando eu estava voltando da escola. -Oi,que bom te rever....Marjorie... Falou isso e desceu da moto.Me estendeu a mão, e me deu dois beijinhos.Fiquei feliz,pois ele lembrava do meu nome! Eu agradeci a Deus por ter ido pra escola com o cabelo solto,e com a minha calça jeans nova.Era justa,e marcava o meu corpo.Corpo que ele ficou olhando sem disfarçar...Eu estava gelada,e tremia. -Semana que vem tem baile-ele falou. -Minha mãe não quer que eu vá ,na verdade ela nem sabe que eu já fui...Disse isso e ri. Falava naturalmente,tentando não deixar ele perceber meu nervoso. Ele riu.e perguntou minha idade. Ia mentir,mas achei melhor falar a verdade.Disse então que tinha 15 anos,e senti o entusiasmo dele diminuir. -Sério?Achei que você tinha mais. Na mesma hora me arrependi.Eu estava conversando com o cara que passei a semana toda pensando,nunca tinha namorado,talvez fosse boba mas eu queria ele...Ele me fazia sentir coisas que nunca havia sentido.Aquela quentura,e me dava uma vontade de ajeitar meu cabelo,me olhar no espelho....queria estar bonita para ele. -A minha idade seria um problema Nessa hora o olhar dele mudou.Percebeu meu interesse e perguntou se eu poderia encontrar com ele para tomar um sorvete...disse também que não mordia,e que a tia dele morava perto da quadra,por isso ele estava no baile,mas que não costumava ir... -Eu moro em São Cristóvão,fui ao baile aquele dia porque tinha uns lances para resolver com uns amigos lá.... Eu não tinha como saber quem ele era.Meu primo não costumava ir lá em cima,até porque era perigoso,e eu só vim conhecer o pessoal da comunidade quando passei a estudar na Escola da Ilha. Fui ousada,confesso.Mas eu tentei achar Júlio durante as últimas semanas,inclusive perguntei ao meu primo se alguém conhecia,por acaso e ele disse não. -Tem preconceito você?ele então perguntou. -Preconceito?Por que? -Ah,sei lá.Porque moro no morro....Eu sou trabalhador... Mentiroso,mas eu não tinha como saber...Ele perguntou que eu gostava de fazer,se gostei do baile,se saia sozinha....Conversamos bastante. Era quase duas horas da tarde,já estava ali parada ao lado da moto a algum tempo.E se minha tia passasse?ou o fofoqueiro do meu primo,Bruno? Aceitei o convite e fomos para a praça,.Subi na moto de um desconhecido...Meu Deus,minha mãe me mataria se soubesso.Mas era como se eu já o conhecesse de outras vidas,sei lá.A nossa química foi perfeita,lembro que as vezes eu pensava algo e ele dizia,com o tempo passou a me conhecer mais do que eu mesma. Fui com ele porque sabia que minha mãe estava ajudando uma amiga em uma confeção naquele dia,e minha irmã fazia faculdade,então não tinha com que me preocupar.Ninguém ia saber....Embora tenha sempre os fofoqueiros,eu nem pensei nisso.Com ele,desde o início,eu não costumava pensar muito. Ele me contou que ficou órfão de mãe cedo,o pai casou de novo e deixou ele morando com uma tia,essa tia da Ilha.Mas agora ele trabalhava em São Cristóvão e então alugou uma casa lá.No Tuiuti. Disse que trabalhava em uma oficina,.Disse também que era bom de conta,mas que não tinha cabeça para estudar,por isso tinha parado na oitava série. Enquanto tomava sorvete observava cada gesto,cada olhar.e ali eu fui me apaixonando.Vi um menino que trazia uma tristeza no olhar,mas ao mesmo tempo uma vontade de viver.Eu não falei muito da minha vida.Só que vim da Tijuca,que tinha um irmão e uma irmã,e que sonhava em ser veterinária. Perguntei que era o sonho dele,e ele respondeu simplesmente -Beijar você! Eu ri,e então ele se aproximou,e o beijo aconteceu. Senti algo que nunca tinha sentido antes,Bela e as minhas colegas já tinham me dito como era,mas viver era diferente. Eu senti vontade de ficar ali,beijando eternamente.... Ele perguntou se eu tinha namorado,e eu disse que não.Percebi que ele ficou feliz,e então me abraçou na cintura,e falou olhando nos meus olhos,bem pertinho -Seus olhos são lindos,Marjorie.E seu cabelo,e sua boca....e então me beijou de novo. -Eu me afastei,e imaginei que um rapaz tão bonito,não devia ser sozinho -Você não tem namorada?Perguntei. ele se calou,me olhou e disse: -Não-Ninguém me quer... Ele ficou pasmo com a minha idade,disse que ninguém me daria 15 anos. disse que eu tinha cara de menina,mas corpo não! Eu nunca tinha beijado,mas não teria medo com ele,nem vergonha.Ele me passava uma segurança tão grande...Embora fosse mais velho,eu não me sentia criança com ele. A diferença de idade incomodaria muito minha mãe,e toda a minha família.Mas não a mim.Eu nem sei porque pensava em família,afinal era só um beijo.Sei lá,acho que de forma inconsciente eu já sabia que ele era o homem da minha vida. Cheguei em casa as 16h da tarde,um pouco antes da minha mãe. Como eu fiquei na rua por tanto tempo? Ela me encheu de perguntas.Perguntou porque eu não tinha feito arroz,porque não almocei,porque não arrumei a casa... Realmente eu costumava fazer isso nos dias em que ela ia para a confeção,mas tinha acabado de chegar...ela não teria com saber. Estava doida para falar com Bela,ela não ia acreditar que eu tinha a tarde conversando com Júlio,e que já tinha beijado. Lembro que até comecei a escrever um diário,que minha irmã descobriu depois. Aquele dia foi inesquecível para mim,mas outros dias ainda melhores se seguiram.Pelo menos o inicio do nosso namoro foi muito bom,para nós dois. Eu não queria saber quem ele era, mas só do bem que ele me fazia. No dia seguinte,antes de ir a para a escola.Passei batom, lápis,conferi o penteado umas dez vezes,e aposentei a mochila rosa.Fui com uma bolsa a tiracolo,e já tinha visto várias roupas no armário que não usaria mais. Não era mais uma criança.
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