No domingo, descobri que a vovó estava ainda pior que antes, e meu tio recomendou que eu juntasse as forças para dizê-la aquilo que queria. Entrei no quarto, e logo percebi que seu olhar já estava mais apagado que antes.
— Vovó? — Ela não respondeu, mas sabia que me ouvia. — Eu só queria que a senhora soubesse que eu te amo muito. E que sou grata por tudo. Por ter sido nosso alicerce por tantos e tantos anos, por me dar o papai... —Nesse momento, já estava sentindo muita dificuldade para segurar o choro. — Por favor, não me deixe. — Desabei em lágrimas.
Então, lembrei do que meu tio me disse mais cedo: Já era muito r**m para ela esse momento, eu não posso dificultar ainda mais. Então enxuguei as lágrimas do meu rosto, respirei fundo, e continuei num tom de voz mais suave.
— Seja meu anjo da guarda. Eu te amo, vovó.
Depois que saí do quarto, peguei minha bolsa e me despedi de todos em casa.
— Obrigada por me receberem. Amei rever todos vocês. — Agradeci. Ninguém estava muito no clima para sorrir.
— Volte sempre que quiser, Mari. Você é muito bem-vinda aqui. — Minha tia me envolveu num abraço apertado que me lembrou de casa.
Victor também passou para se despedir (A verdade é que ele passava mais tempo na casa da vovó do que na dele.)
— Vou sentir sua falta. — Expôs. E eu sorri, expressando que também sentiria.
Já estava no avião quando recebi uma mensagem avisando que a vovó havia falecido.
Quando aterrissei, encontrei mamãe e o Antônio segurando plaquinhas de papel escritas com hidrocor, que diziam respectivamente "MARIANA" e "MINHA IRMA" (sem til). Corri em direção deles, e os abracei forte.
— Senti falta de vocês.
— Mas só ficou longe por um final de semana! — Mamãe riu — Estou brincando, também senti falta.
— Eu também! — Antônio gritou, agitado.
— Você se comportou? — Eu questionei, e ele apenas afirmou com a cabeça.
— E sua vó? — Minha mãe quis saber.
Eu balancei a cabeça negativamente, e ela apertou minhas duas mãos. Era uma mania que ela tinha quando estávamos em algum lugar público e não podia chorar. Percebi, no entanto, que ela chorava baixinho dentro do carro no caminho de volta.
∞∞
Em casa, avistei Christian sentado na calçada segurando um buquê de flores.
— Oi, — Ele falou, se levantando. — Dona Lúcia, Tony... — Quando Christian os cumprimentou mamãe sorriu, e Tony o abraçou, depois ambos entraram me deixando as sós com ele.
— Oi, Chris. — Respondi.
— São para você, — Ele estendeu as flores, mas eu não as segurei, então recolheu o gesto. — Me desculpa. Não devia ter surtado.
Concordei.
— Eu perdoo você. Te conheço e sei que esse não é você.
Ele suspirou aliviado.
— Então a gente está bem? — Christian se aproximou, sorrindo.
— Não, Chris. Não é assim que as coisas funcionam, você me magoou.
— Mas você disse que me perdoa. — Insistiu, abaixando a cabeça.
— E eu perdoo, mas não posso esquecer. Não posso simplesmente apagar todo m*l que você me fez como se não me amasse.
— Mas Mari... — Antes que ele concluísse, eu voltei a falar:
— Ainda não acabei. Você não pode achar que eu sou tão i****a a ponto de você voltar aqui segurando flores e querer que eu volte correndo para os seus braços.
— É o fim para nós dois?
— Eu acho que se não existe amor, então...
— Fale por você, Mari. Eu te amo! — Seu tom de voz alterou um pouco. — Não vou ficar aqui te implorando mudar de ideia, dá para ver que você já seguiu em frente.
Eu queria impedi-lo de virar as costas e ir embora, mas não podia mentir. Não reconhecia mais aquele Christian que estava diante de mim. Ele simplesmente subiu na moto e foi embora, provavelmente com muita raiva.
Antes que eu entrasse em casa, Lucas arrastou a rua em cima de um skate.
— Você voltou! — Ele falou, se aproximando.