Será que devo?

693 Words
No domingo, descobri que a vovó estava ainda pior que antes, e meu tio recomendou que eu juntasse as forças para dizê-la aquilo que queria. Entrei no quarto, e logo percebi que seu olhar já estava mais apagado que antes. — Vovó? — Ela não respondeu, mas sabia que me ouvia. — Eu só queria que a senhora soubesse que eu te amo muito. E que sou grata por tudo. Por ter sido nosso alicerce por tantos e tantos anos, por me dar o papai... —Nesse momento, já estava sentindo muita dificuldade para segurar o choro. — Por favor, não me deixe. — Desabei em lágrimas. Então, lembrei do que meu tio me disse mais cedo: Já era muito r**m para ela esse momento, eu não posso dificultar ainda mais. Então enxuguei as lágrimas do meu rosto, respirei fundo, e continuei num tom de voz mais suave. — Seja meu anjo da guarda. Eu te amo, vovó. Depois que saí do quarto, peguei minha bolsa e me despedi de todos em casa. — Obrigada por me receberem. Amei rever todos vocês. — Agradeci. Ninguém estava muito no clima para sorrir. — Volte sempre que quiser, Mari. Você é muito bem-vinda aqui. — Minha tia me envolveu num abraço apertado que me lembrou de casa. Victor também passou para se despedir (A verdade é que ele passava mais tempo na casa da vovó do que na dele.) — Vou sentir sua falta. — Expôs. E eu sorri, expressando que também sentiria. Já estava no avião quando recebi uma mensagem avisando que a vovó havia falecido. Quando aterrissei, encontrei mamãe e o Antônio segurando plaquinhas de papel escritas com hidrocor, que diziam respectivamente "MARIANA" e "MINHA IRMA" (sem til). Corri em direção deles, e os abracei forte. — Senti falta de vocês. — Mas só ficou longe por um final de semana! — Mamãe riu — Estou brincando, também senti falta. — Eu também! — Antônio gritou, agitado. — Você se comportou? — Eu questionei, e ele apenas afirmou com a cabeça. — E sua vó? — Minha mãe quis saber. Eu balancei a cabeça negativamente, e ela apertou minhas duas mãos. Era uma mania que ela tinha quando estávamos em algum lugar público e não podia chorar. Percebi, no entanto, que ela chorava baixinho dentro do carro no caminho de volta. ∞∞ Em casa, avistei Christian sentado na calçada segurando um buquê de flores. — Oi, — Ele falou, se levantando. — Dona Lúcia, Tony... — Quando Christian os cumprimentou mamãe sorriu, e Tony o abraçou, depois ambos entraram me deixando as sós com ele. — Oi, Chris. — Respondi. — São para você, — Ele estendeu as flores, mas eu não as segurei, então recolheu o gesto. — Me desculpa. Não devia ter surtado. Concordei. — Eu perdoo você. Te conheço e sei que esse não é você. Ele suspirou aliviado. — Então a gente está bem? — Christian se aproximou, sorrindo. — Não, Chris. Não é assim que as coisas funcionam, você me magoou. — Mas você disse que me perdoa. — Insistiu, abaixando a cabeça. — E eu perdoo, mas não posso esquecer. Não posso simplesmente apagar todo m*l que você me fez como se não me amasse. — Mas Mari... — Antes que ele concluísse, eu voltei a falar: — Ainda não acabei. Você não pode achar que eu sou tão i****a a ponto de você voltar aqui segurando flores e querer que eu volte correndo para os seus braços. — É o fim para nós dois? — Eu acho que se não existe amor, então... — Fale por você, Mari. Eu te amo! — Seu tom de voz alterou um pouco. — Não vou ficar aqui te implorando mudar de ideia, dá para ver que você já seguiu em frente. Eu queria impedi-lo de virar as costas e ir embora, mas não podia mentir. Não reconhecia mais aquele Christian que estava diante de mim. Ele simplesmente subiu na moto e foi embora, provavelmente com muita raiva. Antes que eu entrasse em casa, Lucas arrastou a rua em cima de um skate. — Você voltou! — Ele falou, se aproximando.
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