Infelizes ... Quase sempre

791 Words
Mirela estava cozinhando, o choro do enteado no carrinho estava irritando-a ainda mais, enquanto mexia a carne moída de terceira na panela, extremamente temperada para disfarçar o cheiro e o sabor do produto de péssima qualidade; revirou os olhos ouvindo o som da briga dos dois enteados mais velhos, os garotos de sete e oito anos estavam sempre brigando, mas Teo nunca estava lá para ajudá-la com os filhos. Mirela suspirou fundo, torcendo os lábios, aqueles filhos sequer eram dela. Três anos de casamento, muitos anos depois das dimensões terem se unido e “os super-humanos” terem sido descobertos. Mirela havia perdido tudo que havia construído na Terra Antiga, quando decidiu ficar em Isias Rar com Teo e seus amigos, todos “super-humanos” morando em um dos vilarejos da Terra dos Djins. Sua família, todos humanos, foram contra aquele casamento, a mãe nem mesmo atendia mais seus telefonemas, impossibilitada de voltar à Terra Antiga, antes conhecida como a dimensão dos humanos. Devido às relações diplomáticas cada vez mais caóticas entre os Imperadores Djin e Humanos, e a guerra entre esses dois povos estava sendo considerada como questão de tempo pelos demais povos. Os aeroportos e a estrada férrea que antes eram as duas formas de chegar até a Terra Antiga, agora apenas funcionava uma única vez no ano, no Dia do Imperador, que era a data de seu nascimento, onde Kalisto II mostrava-se indulgente com os Djins e os permitia ir à Terra Antiga, sem nenhum motivo lógico para isso, apenas por que ele desejava e podia. Talvez Mirela não se importasse com isso se não fossem as atitudes estranhas que Teo estava tendo desde seu retorno de uma das cidades principais de Isias Rar, a qual ela sequer lembrava o nome. Era o final da manhã, Sins entrou na casa para ajudar Mirela a preparar o almoço. Naquele dia Miro e Teo estavam voltando para a vila após expulsarem um grupo de Sereias (Sirens) de uma vila próxima à deles, era assim que os dois Djins conseguiam o sustento de suas famílias, fazendo pequenos serviços em outras vilas e povoados. Mirela e Sins passavam muito tempo sozinhas cuidando de suas crianças. Assim que entrou, Sins percebeu a irritação de Mirela, algo estava incomodando sua amiga humana, fazia alguns dias que Sins havia notado sua amiga um pouco abatida, parecia chateada, e já que estavam a sós resolveu perguntar, ela sorriu colocando a mão em seu ombro e perguntou: — Mirela?! — Fale. — Eu percebi que tem algo te incomodando... Como estão as coisas com Teo? Mirela voltou seu rosto para baixo e suspirou, frustrada: — Teo não se decide, Sins. No fundo acho que ele ainda procura pela mãe dos meninos. — Mas ela morreu, não foi, Mirela? — Teo nunca acreditou nisso... Ele acha que ela se juntou às tropas do Imperador que estão em Brujeria. Há pouco dias ele foi à chegada de uma das armadas que havia voltado da Terra das Bruxas... Sins abriu e fechou a boca, passou a mão sobre o rosto m*l barbeado (todas as mulheres da raça Djins possuem muitos pelos faciais, como os homens humanos, sendo muito fácil para um Humano da Terra Antiga confundi-las com um homem, por seus excessos de pelos faciais e os s***s pouco desenvolvidos), puxou o ar para dentro dos pulmões, pegando uma espécie de batata para descascar e cozinhar, questionou já imaginando a resposta de sua amiga: — E então, ele se convenceu? Mirela sorriu revirando os olhos: — Não... Ele está convencido de que ela passou pela Cerimônia de Resignação, assumiu um novo nome e nova vida... — O quê? — É isso que você escutou. E o pior é que ele nem toca mais em mim, está obcecado em passar por essa cerimônia e ir atras dela... Eu larguei tudo por ele... E se Lusa estiver viva ou vivo, ele não vai hesitar em me abandonar. Mirela olhou para o lado de fora da porta, pensativa, enquanto Sins esbraveja: — Teo é um i*****l. Será que ele não percebe que se Lusa passou por todas as etapas para participar da Cerimônia de Resignação é por que ela havia se cansado dele. Será que ele não considera os sacrifícios que você fez por ele? O quanto você gosta dele? — O problema Sins, é que eu o amo. Mas Teo não sente isso por mim. Nunca sentiu, apenas eu não percebia isso. Mirela diz, com um sorriso forçado nos lábios, para disfarçar sua tristeza. Sins a olha com uma expressão de tristeza e diz: — Vocês precisam conversar. — Eu preciso tomar uma decisão, não posso ficar esperando para sempre... Não quero viver na sombra de Lusa, eu preciso ter minha vida.
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