2- Gibi

1362 Words
Capítulo 2 Gibi narrando: Meu nome é Juliam, mas quem me conhece sabe que ninguém me chama assim. Só minha mãe, nas poucas vezes em que ela ainda se lembra de mim. No morro, todo mundo me chama de Gibi. E não é só por causa das tatuagens, que não me deixam mentir, mas pelo jeito que eu carrego o nome. É como se fosse um estigma que eu mesmo criei, sem arrependimento. Sou moreno claro, tenho os olhos claro, o que deixa as mina pirada, tá ligado. Eu tenho 30 anos, mas já vivi mais do que muita gente viveu em uma vida inteira. Cresci no morro, vi sangue, vi dor, vi o caos. O tráfico foi o que me ensinou a ser o que sou. Desde moleque, já puxava a rédea, comandava a rapaziada, fazia meu dinheiro, aumentava minha voz e o meu poder. O morro da Penha? É meu. E quem não gosta disso, que se vire. Não tem espaço pra fraqueza aqui, e eu nunca fui fraco. Dinheiro nunca foi problema. Sempre tive grana, sempre tive mulher, sempre tive diversão. Mas no fundo, eu sabia que essa vida não ia durar pra sempre. O mundo do crime é volúvel, e vive na beira do abismo. Por mais que eu tivesse controle, sabia que não mandava em tudo. Eu, Juliam, tinha minha vida, mas o Gibi… O Gibi é o cara que todo mundo teme. O cara que impõe respeito e medo ao mesmo tempo. O cara que faz os outros se calarem com um simples olhar. O chefe, o líder, aquele que manda e desmanda sem medo das consequências. Quando meu pai morreu, eu tinha 18 anos. Ele sempre foi chefe no morro, o cara respeitado, o cara que todo mundo temia. Mas a morte dele foi o estalo. Foi o sinal de que o jogo tava virando e que eu ia ter que assumir tudo. O velho caiu num confronto, aqueles tiros que você nunca sabe de onde vem, mas quando chegam, não tem mais volta. E aí, o morro ficou sem dono. E foi quando eu entrei em cena. Assumir o morro com 18 anos não foi fácil. A pressão foi absurda. Não só por ser novo, mas porque minha mãe, ela nunca gostou dessa vida. Ela nunca engoliu o que meu pai fazia, o crime, o jeito que ele se envolvia com a sujeira. Eu via o desgosto nos olhos dela, as noites que ela passava acordada, esperando ele voltar, rezando pra ele não voltar morto. Quando ele se foi, ela simplesmente… pinou do morro. Foi embora. Não aguentou o peso do crime. Foi a forma dela de tentar escapar dessa vida que a corrompia. Ela não queria mais saber disso. E eu? Eu fiquei. Fiquei porque o morro era meu lugar. Meu pai pode ter morrido, mas o poder do morro? Esse continuava nas minhas mãos. Não tinha como sair. E, sinceramente, a vida no crime já tava enraizada em mim. Cresci vendo meu pai comandar, aprendendo cada truque, cada movimento. Era só questão de tempo até eu dominar de vez o pedaço. Agora, com 30 anos, a história já não é mais sobre aprender. Eu sou o dono do morro. Não tem mais erro, não tem mais espaço pra fraqueza. Mulher, pra mim, nunca faltou. Quando você manda, quando você tem o poder, as mulheres vêm. Elas se jogam, se oferecem, se rendem. Mas eu nunca fui de me prender a nenhuma. Não tenho tempo pra isso. Sempre deixo claro que, pra mim, é só um pente e rala. O resto é só distração. Nunca vou ter uma fiel. Não tem espaço pra isso no meu mundo. Comigo, é tudo sobre o momento, o prazer instantâneo. Ficar com uma mulher por muito tempo? Isso é fraqueza. E eu não sou fraco, não sou i****a. Eu sei o que é importante. E o que é importante, é o que me dá poder. Mulheres, drogas, dinheiro. Isso é tudo que eu preciso. E se alguém acha que vai me prender, que vai mudar minha vida, tá redondamente enganado. Não existe esse tipo de lealdade comigo. Aqui, quem não serve, simplesmente sai do caminho. E no fim das contas, tudo que importa é a minha sobrevivência. O resto é só barulho. Meu sub, o Nando, tá comigo desde moleque. O cara é leal, confiável, e não tem erro quando o assunto é estar do meu lado. Ele não é só sub, é irmão. Crescemos juntos, andamos lado a lado desde que éramos pivetes no morro. O moleque sempre teve cabeça boa, e desde cedo já dava pra ver que ele ia se dar bem no jogo. Não é à toa, ele virou meu braço direito. Se tem alguém que eu confio de olhos fechados, é o Nando. Ele sabe o que eu espero dele, e eu sei o que esperar dele. Não é só parceiro de trabalho, é alguém que viu o que passei, o que lutei pra chegar até aqui. E eu sei que ele também tem a cabeça no lugar, o que é raro por aqui. O cara não vacila. Quando o bagulho aperta, ele tá lá. Quando eu preciso de algo feito, é o Nando quem resolve. Ele tem a visão, a estratégia, e nunca se deixa levar por besteira. Ele sabe que aqui não tem lugar pra erro, e é assim que a gente segue. Essa vida não é fácil, mano. Eu quase não dormo à noite. O morro nunca para. Se você for esperto, sabe que cada momento de descuido pode ser o último. Sempre tem alguém querendo tirar teu lugar, alguém esperando uma brecha pra te derrubar. Então, eu fico acordado, vigiando, ouvindo o movimento. A rua sempre falava, e eu tava ali, atento. Se não fosse a falta de sono, não seria o trabalho que é manter o comando aqui. Quando finalmente da algum descanso, já é cedo demais. Logo a boca começa a funcionar, e eu não tenho essa de dormir até tarde. Quem é chefe tem que estar presente, tem que ver tudo acontecendo de perto. A boca não vai funcionar sozinha. O tráfico não se mantém sem supervisão. Não é só fazer dinheiro, é controlar, garantir que tudo se mova como uma engrenagem. E eu não deixo nada passar despercebido. Então, lá tava eu, sempre acordando cedo, indo pra boca com a mente afiada, sabendo o que precisava ser feito. Era uma rotina que eu conhecia bem, e que já fazia parte de mim. O dia começava cedo, o trampo não tinha pausa. E não tinha tempo pra erro. Se eu não estivesse lá, alguém ia tentar tomar meu lugar. E eu não ia deixar isso acontecer. (......................................) Acordei com o sol fraco, tentando furar a janela, mas nem rolava ainda. O relógio na mesinha de cabeceira marcava 7h15, mas eu já tava ligado desde antes. O corpo pesava, mas a cabeça tava em outro lugar, já pensando nas paradas que iam ter que ser resolvidas no dia. Levantei devagar, sentindo aquele calor do morro, mas o ventinho da manhã até deu uma aliviada. Fui até o banheiro, lavei o rosto e respirei fundo. Eu sabia que o rolê não ia ser fácil, o morro tava em suspense e eu, junto, tentando disfarçar. Mas nada passava batido. Me encarei no espelho, pensando onde foi que eu perdi aquele brilho de antes. Quando eu era só um moleque da quebrada, com sonhos que eu já nem me lembro mais. Agora, o jogo é outro. Cada passo meu era calculado, não tinha mais como dar bobeira. A mente tava ligado no 220, sem tempo pra vacilo. Tomei um banho rápido, botei a roupa mais confortável e já fui pra cozinha. Café e pão, o básico. O básico, era disso que eu gostava, tenho uma senhora que cuida dos bagulho do meu barraco pra mim. A dona Neusa tá ligado, ela faz tudo os trampo aqui e não fica perguntando nada, sempre na dela e é disso que eu gosto. Continua..... Amores, me seguem no i********: @autora_Brunamattos me chama no direct, tenho um grupo que posto foto dos personagens.
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