CAPÍTULO 02

1169 Words
Volto a olhar para o quadro, desta vez examinando com cuidado a pintura, o homem nele, Lorde Robert, parecia ter um pouco mais de trinta anos quando foi pintado, tinha um semblante sério, seu rosto quadrado, com um cavanhaque perfeito, seus olhos eram negros, intensos como um abismo, que estranhamente me puxava para dentro, dando a falsa impressão de que a pintura tinha vida. Olho cuidadosamente para os olhos, examinando se havia uma alma, mas não encontrando nenhuma. Fixo o olhar nos lábios, não eram finos, e nem carnudos, pareceriam perfeitos, sinto um forte arrepio percorrer meu corpo, então me afasto, pensando em como o homem era bonito quando jovem. “A senhorita não parece uma escrava” comento voltando o olhar para a mulher que dividia o quarto comigo, curiosa para saber sua história “o que faz aqui? Não parece estar obrigada”. Pergunto na intenção de entender o que uma mulher livre fazia em um lugar como aqueles. “Não tenho um senhor, ou uma senhora, assim como uma escrava, porque sou serva de muitos” respondeu colocando um vestido vermelho, aveludado, que ressaltava sua beleza, explicando ser uma prostituta. "As prostitutas parecem ser bem cuidadas", penso enquanto me viro e dou de cara com Bia, segurando um vestido branco. Me pergunto se ela ainda tem alguma esperança de que seja escolhida, enquanto mais uma vez saboreio minha vitória e sua perca. Pego o vestido de sua mão, não cogito relutar, Bia tem o péssimo hábito de me bater quando está nervosa, não planejo passar vergonha. Também não tenho a ousadia da moça, de ficar nua em público, e sigo para o trocador, onde examino o vestido branco com calma, encontrando no local, um imenso espelho. Acho que fico melhor com o vestido preto, ele revela como minha alma está no momento, mas minha intenção é ser gentil e ceder ao último pedido de Bia, depois nunca mais a ver, fugindo e a matando de raiva por não permitir que enriqueça as minhas custas. Tiro o vestido preto lentamente em frente ao imenso espelho redondo, com uma moldura de madeira escupida a mão. A peça tem quase dois metros de altura e me dá uma visão perfeita de mim mesma. “Até que não estou tão m*l” penso percorrendo minhas mãos pelo corpo, tocando rapidamente meus s***s, percebo que não estão tão pequenos, escorro meus dedos pequenos por minha barriga, desço um pouco mais, sinto algo novo. Em seguida observo minhas pernas médias, dou uma olhada por cima do ombro, para meu bumbum e sinto o rosto corar. “Quando foi que cresci tanto?” me pergunto tendo vergonha de mim mesma. Sinto uma sensação gostosa percorrer cada pedacinho do meu corpo, algo que desconheço, mas gosto, sinto como cocegas na minha i********e, isso parece maravilhoso. Volto o olhar para o espelho, encontro meus grandes olhos azuis, e uma mecha rebelde e dourada de meu cabelo sobre meu rosto. O espelho parece diferente do de casa, pois tenho a impressão de que vejo uma mulher quando me olho, e não a desafortunada e estranha de sempre. Sinto mais uma sensação estranha tocando meu corpo, acredito que seja o local e a situação, que estejam mexendo comigo intensamente, pois é a primeira vez que estou tão longe de casa, da fazenda, da minha vida. Mal termino de colocar o vestido, Bia invade o lugar, trazendo um arco com rosas-brancas, “que diabos ela pensa que sou?” me pergunto olhando aquilo “um tipo de ninfeta?” Me irrito com o arco, a roupa, e o desejo de Bia de se ver livre de mim, mas permaneço indiferente, não quero que saiba que me irrita. “Não sou ninfeta” penso indignada, sou uma mulher pronta para tomar as rédeas de minha vida. Bia arruma meus cabelos no arco, ela arruma os cachos dourados com cuidado, relutando contra uma mecha rebelde que insiste em ficar no meu rosto, segura o meu queixo, levanta meu rosto, encontrando meus imensos olhos azuis, a pele pálida, e o semblante magro, porém debochado. Sorrio convicta de que estarei livre do lorde, sendo meu único problema, Bia, que agora passava um batom cor de rosa em meus lábios, e um pó nas bochechas que me faz espirrar, tentando a deixar corada, mas fracassando. Ela borrifa uma deliciosa fragrância em mim, e ao meu redor, depois tenta disfarçar que não está acabado, mas percebo pelo seu olhar, que seu ânimo mudou há muito tempo, e que está irritada, me fazendo sorrir por dentro, me deliciando. “Você parece um anjo” comenta minha competidora, com um sorriso largo e um olhar penoso, provavelmente por perceber que tipo de relação tenho com Bia. Sorrio retribuindo a compaixão, e o elogio. Percebo uma enorme movimentação, um barulho de multidão, se concentrando em apenas um lugar, estão reunindo as mulheres e me dou conta que em dezoito anos aquela é a primeira vez que saio da fazenda e conheço a cidade, e tantas pessoas. Me dou conta que não tive contato com pessoas que não fossem da família de mamãe. Sinto o corpo estremecer, enquanto meu coração parece querer sair do peito, batendo de uma forma tão forte que me tira o ar, enquanto olho para as minhas mãos e percebo que estão tremendo, assim como as pernas. Essa é a primeira vez que estou perto de tantas pessoas, sinto tantos odores que não consigo distinguir, tenho a sensação de m*l-estar. Perdida por conhecer um pouco da imensidão que existe fora da fazenda, estou com medo de não aguentar a pressão que sinto e de desmaiar antes de ser negada. Crio a imagem de como acho que o Lorde está atualmente, um velho de cabelos grisalhos, o corpo encurvado, e um olhar sombrio e c***l, com um cheiro r**m de sabão. Faço uma careta mostrando minha indignação, me repreendo por estar deixando o real objetivo de lado, e olho ao redor procurando uma fuga, esse pensamento me ajuda a permanecer em pé, sendo levada com a fila. Me policiei para não perder o foco, agora as mulheres estão sendo separadas de suas cuidadoras, finalmente consigo respirar em paz, distante de Bia, procurando minha chance de escapar. Olho para trás e encontro a moça que estava comigo no quarto, ela também parece estar tensa. Sorrio na intenção de a consolar, ela parece uma boa pessoa, talvez se nenhuma das duas forem escolhidas, ela possa me arranjar um emprego no bordel onde trabalha, e assim consigo fugir da minha vida. Dou risada do pensamento insano. A cada passo que dou, meu coração parece apertar, vejo as chances de fugir diminuindo a cada instante, observo que o lugar está bem guardado, de um lado estamos em fila encostadas na parede, do outro, guardas de todas as espécies, nos escoltam para nosso destino, sinto ser impossível sair desse lugar, da minha vida ao lado de Bia e suas filhas. Procuro uma forma de fugir, mas não encontro nenhuma.
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