Débora
Cheguei em casa atordoada, meu coração faltava sair para fora da boca. Meus pais já havia saído, então eu tranquei a casa toda, fecheu as janelas e apaguei as luzes do andar de baixo.
Subir para meu quarto indo direto para o banheiro, onde retiro minha roupa e jogo no cesto, precisava de um banho urgente.
Visto apenas uma calcinha de renda confortável e uma blusa, que eu considerava um vestido em mim. Passei meu creme de pele e logo eu exalava cheiro de baunilha por todo quarto.
Liguei o som baixinho, onde tocava: Antes do sol nascer do Orochi.
Deitei na cama me enfiando embaixo das cobertas, minha cabeça estava pesada, não conseguia processar nada.
Alemão tá se comportando como se fossemos namorados, mas nem nos conhecemos, na verdade ele deve tá achando que é meu dono né? "Já tá no meu nome".
Sempre andei de short curto pelo morro, não ia ser hoje que eu iria parar, roupa nunca definiu caráter, eu em.
Não entendi de verdade o comportamento escroto, qual é o problema dele? Eu juro que vou ser eternamente grata por ele, mas não da pra ficar brincando de ser fiel de traficante.
Aqui era assim: Chifres, surra de polícia, confusão com as amantes, pra chegar a noite é levar surra do marido, Deus me livre.
Era verdade que eu me sentia atraída por ele, isso nem era de hoje, mas eu sei que não daria certo, eu sei bem como mulher de bandido é tratada no morro.
Por isso eu fico no pé das meninas sabe? E tento de toda forma possível me manter bem longe, mesmo eu frequentando os lugares que eles vão.
Mas como diz o ditado: Quem se mistura com porco, farelo come. Com todos esses pensamentos minha cabeça doía mais, não era para eu está tão confusa assim.
Só consigo me lamentar é senti pena de mim mesma. Tão novinha e tão cheia de problema, só queria ser normal, mas isso é a única coisa que eu não sou.
Logo me veio aquela moça de mais cedo, ela era tão bonita, se tivesse 40 anos, era muito. O jeito que ela falou comigo fez meu coração fica quentinho.
Queria que minha mãe fosse carinhosa igual ela, eu sempre quis ter ela presente na minha vida em vários momentos que eu passei e tive que usar de consolo, colo das mães da minha amiga.
Com esses pensamentos acabei pegando no sono e acordei com meu celular tocando, peguei quando olhei as horas, quis desligar o celular e deixar tocando sozinho.
Puta que pariu, quem é o d***o que tá me ligando as três horas da manhã?
—No mínimo eu espero que seja urgente pra tá me acordando nessa hora. — atendi já jogando a real, putassa.
—Débora? — pergunta e eu logo eu reconheço a voz. — abre a porta ai pra mim, na moral mermo.
—p***a Alemão, você só pode estar de brincadeira. — falei brava.
—Não tô brincando Débora. — continua e só aí percebo o quão bêbado ele tá. — abre aqui sô, tô cansadão. — fala e eu desligo na cara dele.
—Esse homem só pode estar testando minha paciência. — disse quase num grito descendo para a sala aonde abrir a porta e corrir para o portão.
—Achei que tu não ia abrir pô. — disse atravessando o portão quase caindo.
—Pelo amor de Deus. — passei a mão dele em volta do meu pescoço para ajuda. — fala baixo, vai acordar a vizinhança inteira.
—Tem portancia não pô, a favela é minha, quero vê alguém falar alguma coisa comigo, eu meto tiro. — disse tirando uma arma da cintura.
—Por favor, deixa isso bem longe da gente. — coloquei ele sentado no sofá, indo trancar a porta novamente.
—O que que tem pra comer aí? — perguntou quanto eu voltei, percebi que a arma estava encima da mesa de centro. — tô numa fome, quase nem comi nada hoje tá ligado?
Reparei no quanto ele ficava falante bêbado, ele deve ter bebido muito, pra chegar nesse estado. Tá insuportável.
—Fica ai que eu já volto. — disse dando as costas pra ele indo pra cozinha.
—Uau, tu tá gostosa pra c*****o em. — ouço ele dizer é logo reviro os olhos, paciência Débora.
—Se tu continuar vou te por pra fora da minha casa, tenta a sorte pra você ver. — gritei da cozinha e ouvir ele gargalhando na sala.
Faço sanduíche para nós dois, já que eu havia dormido sem comer nada, pego dois copo e a coca na geladeira. Coloco tudo na mesinha e vejo ele atacando o lanche.
Peguei o meu copo enchi de refri e catei um sanduíche, dando uma mordidona nele. Sentei no outro sofá e comir calada enquanto ele falava sobre o tráfico de droga no morro.
Assim que ele acaba, eu recolho tudo e levo para a cozinha, lavando os pratos é os copos colocando no escorredor de louças.
Sair da cozinha é cruzei os braços encarando ele na minha frente.
—O que você quer comigo Alemão? Tu quer só me comer né? Pra depois ficar tirando sarro da minha cara com seus amigos.
—Não fala merda, ô doidona. — disse vindo em minha direção. — não fala coisa que tu não sabe pô.
—Sei muito bem como é. — olhei para ele que tava com maior cara de b***a. — a gente nem se conhece cara, para mim tá tudo errado. Na moral mesmo, sai da minha casa. — falei indo abrir a porta mas ele me puxou pela cintura.
—p***a Débora, eu te conheço melhor que tu mesma, b***a. — tirou suas mãos da minha cintura e sentou no sofá novamente. — te observo a mó cota, já puxei tua fixa todinha. — diz me fazendo rir debochada.
—Observa? Achei que tu só tinha tempo para suas n**a, mó rodado, Deus me livre. E eu acho até que você devia tá lá com elas, me pouparia mó tempo.
—Ih ala, que n**a minha fia? Tá me confundindo é Débora? Viaja não. — ele falou putinho e eu comecei a rir. — tô ligado de uns bagulhos teu, que nem tu sabe, mas fica esperta que ainda não vou adiantar esse papo não.
—Não fica apertando minha mente com essas idéias não fechou? — respondi cheia de marra e ele sorriu. Primeira vez que eu vejo ele rindo.
—Ela toda bandida, ala. — disse vindo pro meu lado novamente e apertando minha cintura, logo em seguida selando nossas bocas.
Naquele instante eu só conseguia sentir três coisas: O gosto do álcool, o da maconha e milhares de borboletas se abrindo da minha barriga.
—Vamos dormir Alemão e ó, não é pra se acostumar não em? — disse cortando o beijo e indo em direção ao meu quarto.
Vestir um short de dormir e abaixei o som que ainda tocava música, fui ao banheiro escovar meus dentes, quando eu voltei o Alemão já estava deitado.
Me deitei, é pude senti ele me abraçando, nem reclamei não, ele tava bêbado e tava insuportável, só fechei os olhos e rapidamente peguei no sono.
Acordei já era tarde pra c*****o, como eu estava de suspensão, não tinha problema nenhum ter acordado nesse horário.
Olhei para meu lado e o alemão não estava, pelo horário já devia ter ido embora a muito tempo e menos m*l, assim evitava o constrangimento de ter beijado ele.
Fui para o banheiro, tomei banho fazendo toda minha higiene pessoal, vestir um short jeans junto com uma blusa ciganinha, passei creme de pele, desodorante e perfume.
Por último peguei meu celular, dinheiro e a chave da minha casa.
Desci para a padaria, não tava afim de fazer nada em casa hoje, tomei meu café da manhã, quase da tarde e subir para a casa daquela senhora de outro dia.
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Hoje era o último dia da minha suspensão, nos últimos dois dias, eu subir para casa da dona Sinhá, Alemão também veio dormir aqui nesses últimos dois dias e fora isso nada de diferente aconteceu.
Estava fazendo almoço para as meninas que ja iriam chegar da escola, resolvi da atenção para elas hoje que juravam que eu ficava o dia inteiro com alemão.
Segundo elas, os meninos iriam vim também, disse Nivia que era para todo mundo se socializar, já que daqui a algum tempo, virariamos uma família só.
Estava ligada que era só papo delas, só queriam ficar de casal, e pra não me deixa sozinha, já que dizem que eu abandonei elas, sendo que é ao contrário.
Apenas uma nota: Dó.
Fiz o arroz e feijão, estava fritando bife de boi, a lasanha estava no forno, a salada e o mousse de maracujá estavam na geladeira.
A mãe fez tudo rapidinho, pique menina prendada né.
Eles chegaram assim que eu tinha acabado de fritar a carne. Nivia, Yasmin, Neguin, Coringa e DG, mó cambada.
—Podem ficar a vontade tá gente. — disse me sentando no sofá. — a comida já tá quase pronta, só falta a lasanha.
—Nó, tu tá louco — neguin disse fazendo todo mundo olhar para ele. — cheiro tá bom em, deu até mais fome. — todo mundo riu dele.
—Logico né, esfomeado do jeito que tu é, qualquer cheiro te dá mais fome. — DG disse rindo da cara dele.
—Poxa, assim me senti ofendida né? fiz tudo no capricho pra vocês. — disse fingindo choro e logo o neguin deu uma cutuvelada nele.
—Ih nada disso amiga, cheiro tá ótimo, DG que fala merda pra c*****o. — Yasmin falou rindo.
—Qual foi Yasmin? Cala sua boca ai chata. — fingiu tá brabo. — tá ligada que eu não quis te ofender né pretinha?— piscou quando terminou de falar. — já tá até pronta pra casar.
—Ela pode até tá pronta pra casar, mas fica esperto que contigo que não vai ser, vacilão. — alemão apareceu do nada me fazendo tomar mó susto.
—Alemão com ciúmes? — coringa disse rindo, com certeza eu tinha ficado vermelha, e olha que eu nunca vi preto ficar assim.
—Casadão ala, ai coringa pagando mó lingua. — neguin zombou.
—Cala a p***a da boca de vocês eu em, cuida da suas vidas ninguém quer né c*****o? Vou enfiar um monte de serviço nos seus r**o. — ele disse vindo em minha direção me roubando um selinho que me fez ficar com mais vergonha ainda.
—Vou ir olhar a lasanha gente. — levantei num pulo e fui para cozinha, ouvindo eles rindo e me zuando.
Tirei a lasanha do forno, coloquei ela encima da mesa, separei os copos, pratos e as colheres, chamando assim todos para almoçar.
Todo mundo servido, sentados na sala assistindo um filme que passava na HBO.
Os meninos repetiam enquanto as meninas e eu partimos para sobremesa, eu amava mousse de maracujá.
Eles ficaram babando ovo, dizendo que eu cozinhava bem, que amaram minha comida, que eu já podia casar, enquanto o alemão ficava com cara de b***a pra todo mundo.
Depois do almoço, ficamos assistindo filme até que aconteceu alguma coisa la na boca e eles tiveram que descer.
A Nivia e Yasmin me ajudaram a arrumar minha cozinha, logo em seguida fomos maratona série com pipoca, brigadeiro, mousse e refrigerante.