Murilo:
Depois de conversar com July, retornei para casa, envolto em um turbilhão de sentimentos contraditórios. Havia algo na maneira como ela sorria, um brilho inocente em seus olhos, que me deixava perturbado. Era como se cada encontro acidentalmente arquitetado pelo destino, fosse um teste para a minha moralidade.
Ela é namorada do meu melhor amigo, sempre me tratou com cordialidade, sem jamais insinuar algo mais. E eu? Eu me debatia internamente com a realidade de que desejava mais do que deveria. Era uma luta diária, uma batalha contra meus próprios desejos.
Cada vez que via July, uma onda de frustração me invadia. Túlio, com sua indiferença e falta de apreço, não via o tesouro que tinha e isso me corroía por dentro. Eu sabia que ela era um limite que eu jamais deveria ultrapassar, mas como ignorar o coração?
Lutando contra esses sentimentos, eu me via constantemente atraído por ela, como um navio à deriva, sendo puxado por uma maré irresistível. "Não posso", eu me repreendia, mas a tentação de estar perto dela, de protegê-la, era avassaladora. Cada encontro casual com ela, era como um doce veneno para a minha consciência.
Era uma batalha interna, um conflito entre o desejo e a moralidade. "Talvez eu esteja apenas confuso", eu tentava me convencer, "talvez o que sinto por July seja apenas um carinho fraternal, uma vontade de protegê-la". Mas, no fundo, eu temia a verdade. Eu temia o que esses sentimentos pudessem significar, e o que eu poderia acabar fazendo se não os controlasse. Era uma corda bamba entre a lealdade e o desejo, e eu estava perigosamente perto de cair.
Ao chegar em casa, meu corpo automaticamente seguiu para o sofá. A TV era apenas um ruído de fundo enquanto minha mente vagava, perdida em pensamentos sobre July. Na cozinha, preparei algo para comer, tentando distrair-me. O cheiro do hambúrguer fritando brevemente me tirou daquele transe.
De volta à sala, com o prato em mãos, meu celular vibrou sobre a mesa de centro. Era uma mensagem de July. Meu coração disparou e um sorriso involuntário surgiu em meus lábios.
Mensagem:
— Sempre que você precisar conversar, não hesite em me procurar — a gentileza em suas palavras me aqueceu por dentro.
— Valeu, July, muito obrigado por me ouvir. Sempre que você precisar estou aqui também, não se esqueça que somos amigos, independente de você namorar o Túlio.
— Obrigada, Murilo, confesso que foi ótimo poder conversar com você, eu precisava muito disso. Tenho a Cristine, é claro, mas eu gosto da sua companhia
Meus dedos hesitaram por um momento antes de digitar.
— Precisou é só me chamar: À QUALQUER HORA. Conte comigo.
— Valeu, você também, À QUALQUER HORA PODE ME CHAMAR, não se esqueça, ATÉ DE MADRUGADA. E se não fizer isso, ficarei bem brava com você, não queira me ver brava — os emojis engraçados dela me fizeram rir, um alívio momentâneo da tensão que eu sentia.
— Pode deixar, não irei te deixar brava.
— Isso é ótimo. O que faz de bom? — O emoji tímido dela adicionava uma camada de i********e que me fazia questionar a simplicidade da nossa amizade.
— Estou deitado no sofá, vendo um filme, enquanto detono um hambúrguer — enviei alguns emojis rindo, tentando manter a leveza.
— Que delícia, da próxima vez me chama, eu amo hambúrguer, só para constar.
A sugestão seguinte veio antes que eu pudesse controlá-la.
— Por que não vem agora? Posso preparar um para você, se quiser.
"Onde estou com a cabeça para enviar isso para a namorada do meu amigo? Murilo pensa no que faz seu i****a!” — Meu subconsciente gritava.
— Isso é maldade. Eu até queria, mas preciso dar um jeito na minha casa, está uma zona, mas da próxima você não escapa, vai ficar me devendo um hambúrguer.
— Ah, para, eu estive aí agora e não vi zona nenhuma, você precisa ver como está a minha. Não quer vir me ajudar? (brincadeirinha) Pode me cobrar, eu vou preparar para você um hambúrguer da hora.
— Qual o problema de te ajudar? Se precisar de ajuda para limpar sua casa, pode contar comigo, posso dar aquele toque feminino — os emojis meigos dela acrescentaram uma doçura que me deixava ainda mais encantado.
— Estou brincando, July, para arrumar minha casa não, mas quem sabe você não vem aqui qualquer dia para assistirmos a um filme, comer hambúrguer e conversar, prometo que deixo você escolher. Assim aproveito e te mostro que homem fofoca mais que mulher — ela enviou vários emojis divertidos.
— Eu vou amar. Então fica combinado, qualquer dia marcamos, agora eu preciso arrumar mesmo minha casa, mas podemos conversar mais tarde?
— É claro, pode me mandar mensagem quando precisar ou me ligar.
— Sério? Seus affairs não vão querer me matar se eu ficar te mandando mensagem ou te ligar?
— Para, July, é claro que não. Agora o Túlio eu não sei né, ele é grilado.
— Não se preocupe com ele, está tudo bem, somos amigos, não somos? — O sorriso em seu texto era palpável.
— É claro que somos.
— Perfeito, então não se preocupa, se tem algo que o Túlio não manda, é com quem eu converso. Você é especial para mim, Murilo — o emoji de coração dela me fez hesitar.
— Você também é especial para mim.
— Espero ser mesmo ou vou ter que te bater — mais emojis meigos. — Beijos, Murilo, até mais tarde.
— Até mais tarde, July.
(...)
Coloquei o celular de lado, meu olhar perdido no vazio da tela da TV, enquanto o filme continuava a rodar sem minha atenção. "Amigos", repeti para mim mesmo, uma tentativa fraca de convencer meu coração que batia descompassado.
Tentei me concentrar no filme, mas estava inquieto. A ideia de Túlio descobrir nossas conversas me preocupava, pois, apesar de não conseguir me afastar dela, sabia que ele não reagiria bem. E esse, não era o único problema, ao pensar nas traições e no modo desrespeitoso como ele tratava July, minha frustração com ele só aumentava. Eu debatia internamente, indignado com suas atitudes e questionando minha própria passividade. Distraído, continuei assistindo ao filme, esperando a hora de me arrumar para encontrar os amigos, esperando por uma noite tranquila e torcendo para que Túlio não causasse problemas, especialmente com July presente.