Após me despedir de July, segui em direção à casa da minha mãe. Havia uma regra não escrita em nossa família que todos deveriam visitá-la todos os dias. Minha irmã, apesar de casada, não deixava de cumprir essa tradição, sempre acompanhada do meu sobrinho. A proximidade de nossas casas tornava esses encontros diários algo fácil e prazeroso, fortalecendo os laços familiares.
Durante o caminho, meu pensamento insistia em voltar para July. Ela possuía um charme peculiar, uma doçura que a tornava excepcionalmente atraente, mas também percebia uma certa inocência que a deixava vulnerável. Túlio, por sua vez, parecia explorar essa ingenuidade de uma maneira que me incomodava profundamente.
Era evidente que July merecia alguém que realmente a valorizasse, que lhe oferecesse o respeito e o carinho que ela claramente merecia. No entanto, ela parecia se contentar com as migalhas que Túlio lhe oferecia. Embora ele fosse meu amigo, eu não conseguia ignorar sua postura displicente e as constantes traições. Já o tinha aconselhado várias vezes a terminar o namoro se queria viver livremente, mas ele parecia indiferente ao sofrimento de July.
July, por sua vez, estava visivelmente apaixonada por ele, o que tornava tudo ainda mais complicado. Ela era admirada por todos os amigos de Túlio, adaptava-se a qualquer ambiente e o acompanhava sempre, mesmo quando claramente preferiria estar em outro lugar. Sua beleza natural e sua maneira cativante de ser eram inegáveis. O que mais Túlio poderia querer?
Agora, ele parecia obceca@do com a ideia de que ela deveria perder a virgind@de com ele. Era claro que ele não hesitaria em pressioná-la até conseguir o que queria, sem considerar os sentimentos dela.
Quando estava quase chegando à casa da minha mãe, Túlio apareceu ao meu lado com sua moto, freando de maneira abrupta e causando um estrondo.
— E aí, Murilo! Bora lá na casa do Marcelo? — Ele me cumprimentou, estendendo a mão para nosso aperto de mãos costumeiro.
— Preciso dar uma passada na casa da minha mãe primeiro, cara.
Túlio então sorriu de modo malicioso e perguntou, sem nenhuma discrição:
— Sua irmã vai estar lá?
Irritado com a falta de respeito, repreendi-o de imediato:
— Ei, respeita a minha irmã, Túlio. Você sabe que não gosto desse tipo de comentário.
Ele deu de ombros, rindo:
— Relaxa, cara, eu respeito ela. Mas se não fosse por você ser meu amigo, eu já teria investido nela há muito tempo. Ela é muito gata!
Respondi, lembrando-o de uma realidade importante:
— Lembra que o marido dela não é fácil, né?
Túlio apenas gargalhou, despreocupado.
— Sou mais doid0 que ele. Não me intimido fácil — retrucou, ainda sorrindo.
Decidi mudar o foco da conversa.
— O que vocês vão fazer na casa do Marcelo?
— Vamos jogar um game. Vamos lá — ele me ofereceu o capacete. — Depois te deixo aqui para ver a coroa, sem stress.
— Beleza, vamos nessa — concordei, aceitando o capacete e subindo na moto.
Enquanto Túlio acelerava em direção à casa do Marcelo, fiquei pensando sobre a situação de July. Como alguém tão doce e gentil poderia estar com um cara tão desapegado? Era um enigma que ainda não conseguia decifrar.
— Hoje eu vou querer a revanche, Murilo — Túlio anunciou, atirando-se no sofá com um sorriso maroto e um brilho de desafio nos olhos. — Daquela partida que você me ganhou, hoje eu vou te dar uma surr@ nesse game.
— Para de choramingar, Túlio. Você sabe que não tem chance. Eu sou o rei desse jogo — respondi, entrando na brincadeira enquanto me ajeitava ao lado dele, confortável e já antecipando a vitória.
Marcelo entrou na sala nesse momento, trazendo consigo um clima ainda mais amigável e descontraído.
— O moleque é monstro, Túlio. Não tem pra ninguém quando o Murilo está no controle — ele apoiou, sorrindo e dando um aceno afirmativo na minha direção.
— Hoje não, meu dia de sorte finalmente chegou. Vamos jogar. Vou te mostrar quem é o verdadeiro monstro aqui — Túlio retrucou, não deixando barato. Ele estendeu a mão e deu um tapa brincalhão na minha cabeça, como quem já se sente vitorioso.
— Só quero ver isso — provoquei, sorrindo largamente enquanto Marcelo nos entregava uma cerveja gelada, o som do líquido caindo nas latas ressoando como um prenúncio de relaxamento.
Ele também colocou uma tábua de frios recheada na pequena mesa à nossa frente, adicionando ainda mais ao ambiente aconchegante que só uma tarde entre amigos pode oferecer.
— Já vamos começar com a cerveja, é? — Perguntei, erguendo minha lata com um sorriso.
— Claro, hoje é sábado. Dia de relaxar e curtir com os amigos — Túlio respondeu prontamente, abrindo sua cerveja com um estalo satisfatório. — E nada melhor que uma cerveja para acompanhar a minha vitória.
— Hoje é dia de comemorar minha vitória, então — disse, erguendo minha bebida em um brinde no ar.
Marcelo, sempre o anfitrião perfeito, se juntou ao brinde, e assim permanecemos por horas, alternando entre conversas descontraídas, gargalhadas espontâneas e disputas acirradas no videogame. Era um daqueles momentos preciosos, onde a camaradagem e a competição saudável nos permitiam esquecer as preocupações do cotidiano e simplesmente desfrutar da companhia um do outro.