Capítulo 41

978 Words
— Seus pais estão bem? Já devem estar dormindo a essa hora. Não quero incomodar — perguntei, um pouco preocupado. — Eles estão bem — ela disse, abrindo a porta. — Mas não estão em casa. Foram passar o fim de semana na casa da minha irmã e só voltam na segunda — ela fez uma pausa, pensativa, e depois sorriu. — Na verdade, acho que podem demorar mais. Eles estão bem empolgados. — Parece que eles estão se divertindo mesmo. Eles não gostam de te deixar sozinha em casa, né? — Comentei, enquanto me sentava ao lado dela no sofá. — Não mesmo, mas eu ligo para eles todos os dias para tranquilizá-los. Eles estão amando lá, o lugar é ótimo mesmo, Murilo — ela falou com carinho, e eu me perdi em cada palavra que saía de sua boca. — É muito lindo. Se tudo der certo, irei para lá no próximo fim de semana. Eu amo o rio que tem por lá, é um lugar perfeito para colocar os pensamentos em ordem — ela suspirou, perdida em lembranças. — Quando vou, fico o dia todo naquele paraíso. Amo fazenda, a tranquilidade, então já viu. — Imagino — respondi, fascinado, olhando para ela. Seu entusiasmo e a forma como ela descrevia o lugar, me encantavam profundamente. — Estou falando demais, não é? — July perguntou, um sorriso envergonhado surgindo em seus lábios. — De jeito nenhum, eu adoro te ouvir assim, empolgada — respondi e nossos sorrisos se encontraram, um espelho da conexão que estávamos construindo. — Que tal ir até lá comprovar tudo que estou dizendo? Acredito que você vai gostar — ela propôs, sua voz cheia de diversão. — O dia que você me convidar, pode ter certeza que eu vou — afirmei com sinceridade. — Estou te convidando. Vou para lá no próximo fim de semana. Vamos juntos? — Ela disse, e uma onda de surpresa e expectativa tomou conta de mim. — É sério? — Perguntei, tentando esconder a emoção que me invadia. — Eu vou no sábado e volto no domingo. Você pode ir também, se quiser. Tenho certeza que não vai se arrepender — ela disse e, naquele momento, meu olhar se fixou involuntariamente em seus lábios. Sorri, tentando disfarçar o turbilhão de emoções que me consumiam, e concordei. — Se você está falando sério, eu vou sim. O Túlio vai te levar? — Perguntei, e confesso que, nesse momento, fui egoísta e pensei apenas em mim, torcendo para que ela dissesse não. “Porr@, Murilo! Que tipo de amigo você é seu idiot@?", questionei a mim mesmo, envergonhado pela minha própria esperança. Eu sabia que não deveria agir assim. Não era certo. Mas a ideia de Túlio estar com Mia naquele momento, enquanto deixava July sozinha, me deixava furioso. Meu amigo tinha uma namorada incrível e não dava valor a ela. Essa situação me frustrava profundamente. Claro, eu não podia ser tão filho da mãe com Túlio. Não podia misturar as coisas. O relacionamento dele com July não era da minha conta. Nossa amizade não tinha nada a ver com as besteir@s que ele fazia. Túlio podia ser insensato, mas nós éramos amigos e eu realmente gostava dele. Mas era tão difícil controlar meus sentimentos por July. Por que era tão complicado me manter afastado dela? Eu tentava, mas sempre acabava sendo atraído de volta, e isso era incrivelmente frustrante. Eu não queria sentir isso, lutei contra esses sentimentos por muito tempo. Mas a cada vez que via July desamparada, mais eu desejava estar com ela, cuidar dela. Esse sentimento estava me atormentando há meses. Eu tentava afastá-lo, mas ele persistia, me fazendo sentir como o pior amigo do mundo. — Não, ele não vai — ela suspirou, baixando o olhar para o chão, antes de se acomodar no sofá retrátil, ainda me observando. — Ele disse que não gosta de mato e que vai trabalhar no próximo fim de semana — July falou com uma ponta de tristeza na voz. Ao ouvir isso, um turbilhão de pensamentos invadiu minha mente. Túlio dificilmente trabalhava durante a semana, quanto mais aos finais de semana. Ele estava usando isso como desculpa porque Mia estava organizando uma festa. Era um padrão conhecido dele: sempre que queria escapar de July, inventava compromissos de trabalho. Túlio sabia que a namorada não tinha muitos amigos e era reservada, e se aproveitava disso para curtir sozinho. Ele realmente não merecia alguém como ela. Eu me sentia péssimo por desejar a namorada do meu amigo, mas a falta de consideração de Túlio com ela, de alguma forma, me consolava. — Se você quiser, eu posso te levar — ofereci. — Estou te dando tanto trabalho ultimamente que até estou com vergonha — ela disse, eu sorri, tentando esconder o turbilhão de emoções que July despertava em mim. Seus olhares meigos me faziam desejar mais dela a cada segundo. — Que trabalho você me dá, July? Você não me dá trabalho nenhum — respondi, lutando contra a vontade crescente de beijá-la. Ela sorriu de forma tímida, e isso só intensificava minha ansiedade. — Então, posso te esperar na rodoviária sábado às nove horas para irmos juntos? — Ela perguntou, um sorriso doce iluminando seu rosto. — Com certeza — concordei, observando o sorriso de July se intensificar, iluminando seu rosto com uma beleza que me capturava de maneira inexplicável. Cada momento ao seu lado, tornava mais claro o quão profundamente eu estava me envolvendo em uma situação repleta de complexidades. A tarefa de manter a distância entre nós, se transformava em um desafio cada vez maior, quase como lutar contra a força irresistível de uma correnteza poderosa. Eu até poderia tentar nadar contra ela, mas, no fim, sabia que seria inevitavelmente levado por sua corrente, arrastado por um sentimento que se mostrava mais forte do que qualquer resistência.
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