Capítulo 42

1294 Words
July: Pode soar como loucura, mas convidar o Murilo para ir comigo à casa da minha irmã pareceu a coisa mais natural do mundo naquele momento. A verdade é que eu me sinto incrivelmente bem na presença dele, algo que me surpreende e confunde. É até um pouco constrangedor admitir, mas me sinto muito mais à vontade com ele do que com o próprio Túlio. Refletindo sobre isso, percebi que nunca tinha me sentido tão confortável e autêntica com alguém, especialmente alguém com quem não compartilho uma i********e profunda. Mas com Murilo, tudo flui de maneira natural, como se estivéssemos sintonizados no mesmo ritmo desde sempre. Eu amo a pessoa que me torno quando estou ao seu lado, mais leve, mais eu mesma. Eu sabia que meus pais e minha irmã não veriam problema algum em Murilo me acompanhar. Eles sempre gostaram muito dele, e como não gostariam? Murilo tem essa capacidade de conquistar as pessoas ao seu redor com sua simpatia e humildade. Era impossível não se sentir atraído por seu jeito amigável e genuíno. Em minha mente, eu já podia imaginar os sorrisos calorosos e as boas-vindas que ele receberia de todos ao chegar lá. Após decidirmos o horário que nos encontraríamos na rodoviária, decidi fazer uma pergunta um pouco complicada para ele. — Você acha que o Túlio esta me tr@indo? — Perguntei de repente, a dúvida saindo em um sopro. Murilo pareceu surpreso com meu questionamento, vi um vislumbre de conflito passar por seus olhos. Ele respirou fundo e desviou o olhar do meu, buscando as palavras certas. — Eu... não acho uma boa ideia me intrometer nesse assunto, July — ele disse, sua voz calma, mas havia uma tensão subjacente em suas palavras. — Ele não é fiel, não é? — Insisti, mantendo meu olhar fixo nele, buscando alguma verdade oculta. Ele respirou fundo novamente, uma hesitação evidente em seus gestos. — Não se preocupe, eu não quero te colocar em uma situação difícil. Acho que já sei a resposta, só não queria acreditar — confessei, sentindo uma mistura de tristeza e conformidade. Ele me olhou, um olhar repleto de compaixão, e se deitou ao meu lado. Com um gesto delicado, Murilo passou a mão pelo meu rosto, levando-me a encarar seus olhos novamente. — Por que você aceita ser tratada assim, July? — Ele perguntou, sua voz baixa e hesitante. Tentei desviar o olhar, abaixando meu rosto em uma tentativa de esconder a dor que aquelas palavras despertaram. — Você é uma garota incrível, não merece passar por isso. — Todos me acham bob@, Murilo. E eu nem posso os culpar, porque eu mesma me acho uma idiot@ — murmurei, uma lágrima teimosa ameaçando escapar. Naquele momento, uma onda de autoconsciência me atingiu. Era eu quem permitia que Túlio me tratasse m*l, quem aceitava ser vista como menos, do que eu realmente era. Eu não podia mais sentir pena de mim mesma, porque era eu quem mantinha essa situação. Mas agora chega! Não aceitaria mais ser tratada como descartável; estava decidida a acabar com isso. Meu namoro com Túlio já estava morto para mim, mas estar ali, ao lado de Murilo, só reforçava essa certeza. Eu não conseguia parar de pensar nele, e isso não era normal. Não podia continuar com alguém, que eu não sentia mais desejo de estar, enquanto me sentia irresistivelmente atraída pelo melhor amigo dele. — Não diga isso nunca mais. Você não é bob@, July, são as pessoas que se aproveitam da sua bondade e da sua ingenuidade — ele disse, mantendo a mão em meu rosto de maneira reconfortante. Os olhos de Murilo me encaravam com aquela intensidade que tanto me afetava. Sua presença me abalava profundamente, e eu não conseguia mais esconder os efeitos que ele provocava em mim. — Eu vou terminar com ele — afirmei com uma determinação que parecia emergir do fundo da minha alma. Murilo engoliu em seco, claramente surpreso com minha declaração. — Não dá mais para continuar como estamos. — Você tem certeza dessa decisão? — Ele perguntou, seus olhos penetrantes encontrando os meus, buscando compreender o turbilhão que eu sentia por dentro. — Tenho sim — disse, sentindo um peso se levantando dos meus ombros. — Eu já não amo mais o Túlio como antes, para ser sincera, nem sei se um dia realmente o amei — Murilo me observava atentamente, absorvendo cada palavra. — Gostei muito dele, mas os sentimentos mudaram. — Você pode estar confusa, devido às últimas discussões — ele sugeriu cautelosamente. — Não, Murilo, eu já pensei muito sobre isso — neguei com firmeza. — Há dias, semanas, até meses, que venho tentando fazer esse namoro funcionar, mas tudo só piora — os olhos dele permaneciam fixos em mim, um oceano de compreensão e empatia. — É como a Cristine sempre diz, ele não vai mudar e eu preciso aceitar isso e seguir em frente — falei, com um sorriso triste. — Não posso mais aceitar a forma como ele me trata. As traições, a agressivid@de, a falta de respeito... Eu não quero mais isso, eu não sou uma pessoa r**m, sinto que posso ter mais, mesmo não sendo com ele. As mãos de Murilo acariciavam meu rosto, enxugando cada lágrima que insistia em cair, com uma delicadeza. Ali, olhando para ele, me perguntava: "O que ele pensaria se soubesse o quanto ele influenciou essa minha decisão?" — Eu sinto muito, July, mas realmente não posso opinar sobre isso — ele disse, sua voz carregada de sinceridade. — Só espero, de coração, que você tome a melhor decisão para si, porque você realmente merece ser amada na mesma intensidade que você ama. Independente do que escolher, estarei ao seu lado. — Entendo sua posição. Sei que você gosta dele e valoriza a amizade que tem, mas também acredito que você sente carinho por mim — eu disse, buscando em seus olhos alguma confirmação. — Sim, eu gosto muito de você, July — ele confirmou, e um silêncio confortável se instalou entre nós. Murilo continuava acariciando meu rosto, e eu me deixava levar por cada toque, sentindo uma paz que há muito não experimentava. Os dedos de Murilo contornaram delicadamente meus lábios e, involuntariamente, meus olhos se fecharam, rendendo-se ao momento. Um arrepio incontrolável percorreu meu corpo, sinalizando uma emoção que eu sabia que não deveria sentir, mas que era impossível reprimir. Perto dele, eu me perdia em um mar de sensações desconhecidas; meus pensamentos, meu coração e meus desejos pareciam fugir do meu controle. Até minha respiração parecia alterada pela proximidade dele, tornando-se mais rápida e irregular. Quando finalmente consegui abrir os olhos, nossos rostos estavam incrivelmente próximos. O olhar de Murilo sobre mim era tão intenso, tão profundo, que me paralisou. Estávamos ali, unidos em uma respiração, um olhar, uma só emoção compartilhada. — Eu realmente gosto muito de você, July — ele sussurrou, e suas palavras tocaram algo dentro de mim, que eu não conseguia nomear. Não consegui resistir ao impulso de tocá-lo. Minhas mãos, movendo-se como se tivessem vontade própria, alcançaram seu rosto. Nossos olhos mantinham uma conexão inquebrável, e meu coração batia descompassado. Lutava para manter a respiração, tentando conter os arrepios que insistiam em percorrer minha pele. Eu estava completamente envolvida por ele e, apesar de saber o quanto isso era errado, não pude evitar. O desejo que sentia por Murilo era mais forte do que eu. Movida por uma coragem que eu não conseguia controlar, tomei a iniciativa. Minha boca encontrou a dele, tocando-a suavemente, apenas selando nossos lábios num contato terno. Com leveza, mordisquei e suguei seu lábio inferior, explorando a textura e o sabor dele. Mesmo nesse toque simples, sem um beijo profundo, eu sabia que havia encontrado algo intenso, inesquecível.
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