Capítulo 34

1596 Words
Murilo: Depois do incidente com July, uma onda de constrangimento me invadiu. Eu me sentia culpado por ter me aproximado dela daquela forma, considerando especialmente o estado vulnerável em que ela se encontrava após a discussão com Túlio. A sensação de que eu poderia estar me aproveitando de sua fragilidade me atormentava. Era errado se aproveitar de alguém, principalmente de uma mulher em um momento de vulnerabilidade. Assim que Marcelo e Túlio deixaram o local, eu soube que precisava agir. Não queria que July tivesse uma impressão errada a meu respeito. Por isso, chamei-a para uma conversa privada. — Entre, prometo que serei breve — falei, tentando transmitir calma, embora meu coração batesse acelerado. Ela adentrou o quarto e eu fechei a porta, trancando-a suavemente. — Desculpe te chamar até aqui, July, mas achei que assim seria melhor — expliquei, aproximando-me dela com passos hesitantes. July me olhou, tentando manter a serenidade, mas percebi uma leve tensão em seu olhar. — Tudo bem, só fiquei preocupada com o que as pessoas poderiam pensar. — Eu sei, esse pessoal adora uma fofoca — concordei, tentando aliviar a atmosfera. Ela sorriu, mas seu sorriso era contido, quase forçado. — Pois é. — Mas não se preocupe, não vai ter problema nenhum — tentei assegurá-la. — Está bem. Mas o que você queria falar comigo? — Ela perguntou, sua voz um pouco mais firme. — Senta, por favor — sugeri. Ela olhou brevemente para a cama, sentando-se na beirada. Peguei uma poltrona e a posicionei em frente a ela, sentando-me cuidadosamente. — Eu queria pedir desculpas pelo que aconteceu lá fora — disse, enquanto ela baixava os olhos, claramente tímida. — Tudo bem, Murilo, não se preocupe com isso — ela respondeu, sua voz suave. — Não, July, não está tudo bem — insisti, levando a mão ao seu queixo para erguer seu rosto, fazendo com que nossos olhos se encontrassem. — Eu não quero que você pense que eu quis me aproveitar do seu momento de vulnerabilidade. — Eu nunca pensaria isso de você, Murilo — ela respondeu, sua voz firme e confiante. — Que bom ouvir isso, July — disse, olhando para o lado da cama. — Posso sentar aqui ao seu lado? — Perguntei, buscando sua permissão. Ela assentiu com a cabeça, e eu me sentei ao seu lado. Segurei suas mãos delicadamente, buscando seus olhos novamente antes de continuar a conversa. Era importante para mim que ela soubesse que minhas desculpas eram sinceras e que eu a respeitava. — Eu me senti m*l pelo que aconteceu, porque sei que você tinha acabado de discutir com o Túlio. Pareceu-me que eu estava me aproveitando do seu momento de fragilidade, e isso nunca foi minha intenção — confessei, minha voz carregada de preocupação e arrependimento. July me olhou diretamente, seus olhos transmitindo compreensão e firmeza. — Não precisa se sentir assim, Murilo. Eu sei que você nunca faria isso — disse ela, com convicção. — Nunca passou pela minha cabeça que você estivesse se aproveitando da situação — afirmou, sem hesitar. Mesmo com suas palavras de conforto, senti a necessidade de reiterar. — Mesmo assim, eu realmente preciso que você me desculpe, July. Não quero que fique nenhum m*l-entendido entre nós. Eu valorizo muito a sua companhia e não quero que nada estrague isso. Ela sorriu, um sorriso genuíno que iluminou seu rosto. — Está tudo bem, Murilo. Sério, nada vai estragar o que temos. Eu também gosto muito de você — disse ela, apertando minhas mãos com carinho. — Mesmo? — Perguntei, buscando confirmação em seus olhos. — Sim, mesmo — ela respondeu com um sorriso amável. Por um momento, nossos olhares se fixaram um no outro, numa conexão que parecia transcender palavras. Buscando quebrar a intensidade daquele momento, perguntei: — Você está melhor agora? Ela respirou fundo antes de responder. — Estou, sim, estou bem. — Que bom — disse, sentindo um alívio genuíno. — Está tudo bem entre nós, não está? — Ela perguntou, ainda sorrindo. — Sim, está tudo bem entre nós — confirmei, sorrindo de volta. Nesse momento, ela soltou minhas mãos e me envolveu em um abraço caloroso, um gesto simples, mas que significava muito para ambos. Era um sinal de que, apesar de tudo, nossa amizade permanecia forte. Minhas mãos descansaram gentilmente sobre as costas de July, enquanto ela permanecia abraçada a mim. O aroma de seu perfume invadia meus sentidos, uma mistura reconfortante e envolvente. Permanecemos assim por alguns momentos, até que o som do celular dela quebrou o silêncio. — É a Cristine, dizendo que o Túlio e o Marcelo estão voltando — ela informou, desfazendo o abraço. Meu olhar sobre ela era tranquilo, mas internamente, eu desejava que aquele momento tivesse durado mais. Eu realmente esperava que eles demorassem mais para retornar, mas, infelizmente, não foi o caso. — Obrigado por me desculpar — agradeci, sentindo um misto de alívio e decepção. — Você não fez nada, Murilo. Sério, não precisa se preocupar com isso, estamos bem — ela respondeu com sinceridade, levantando-se e caminhando em direção à porta. Eu a segui, sentindo uma certa relutância em deixar aquele momento para trás. July parou de repente, virando-se para me encarar. Seu olhar era suave, e um sorriso iluminou seu rosto. Então, de forma inesperada, ela se aproximou e deixou um beijo no meu rosto. Ao virar levemente minha cabeça, o beijo acabou tocando o canto da minha boca. Trocamos um olhar rápido e significativo. — Até daqui a pouco — ela disse, saindo do quarto. Sozinho, deixei-me cair sobre a cama, respirando profundamente. Precisava reunir forças para voltar à festa e enfrentar a realidade de ver July ao lado de Túlio novamente. Era um pensamento que pesava em minha mente, mas eu sabia que precisava aceitar a situação como ela era. Depois de falar com July, permaneci alguns minutos no quarto, perdido em pensamentos. Em seguida, decidi me juntar aos outros lá fora. Ao passar pela cozinha, vi Marcelo e Túlio guardando as bebidas que haviam comprado. — Vocês foram rápidos — comentei casualmente, pegando uma bebida para mim. — É que o Marcelo está ansioso para paquerar a gostosa da Cristine, não é mesmo? — Túlio brincou, rindo. Eu apenas balancei a cabeça, sem vontade de entrar na brincadeira. O desrespeito de Túlio com as mulheres estava cada vez mais evidente, e eu realmente não achava graça nesse seu jeito de ser. Lembrei-me de que havia esquecido meu celular no quarto e voltei para buscar. — Esqueci meu celular, já volto — disse, saindo rapidamente. Encontrei meu celular exatamente onde havia deixado, sobre a cama. Com o aparelho em mãos, voltei para a cozinha e encontrei July e Cristine conversando. Trocamos algumas palavras e Cristine fez uma brincadeira, deixando July visivelmente envergonhada. Eu não entrei muito na brincadeira, tentando não aumentar o constrangimento de July, mas não pude deixar de notar como ela ficava ainda mais bonita quando estava tímida. Quando entrei na cozinha, Marcelo e Túlio discutiam sobre futebol. Fiquei aliviado por finalmente terem mudado o assunto. — Onde você tinha deixado seu celular? — Túlio me perguntou. — No quarto, estava carregando enquanto vocês buscavam as bebidas. Acabei esquecendo lá — expliquei. — Achei que tinha seguido meus conselhos e levado uma garota para o quarto — Túlio disse, rindo. — Que tal voltarmos ao assunto sobre futebol, estava mais interessante — sugeri, tentando desviar a conversa. Pouco depois, July e Cristine chegaram à cozinha. Meu olhar involuntariamente se fixou em July, que foi rapidamente puxada para os braços de Túlio. Senti uma pontada de ciúmes e uma vontade inesperada de estar no lugar dele. Respirei fundo e tomei um longo gole da minha bebida, tentando disfarçar o desconforto. July me lançou um olhar discreto, e eu não pude evitar retribuir. Logo, todos nós dirigimo-nos para fora, sentando-nos no mesmo local de antes. Mia se aproximou e sentou-se ao meu lado, quebrando o silêncio que havia se instalado entre mim e os meus pensamentos sobre July. — O que eu preciso fazer para ficar com você? — Mia indagou sem hesitar, mas eu apenas neguei com a cabeça, sem intenção de responder, enquanto continuava a beber. — Você é muito difícil, gatinho — ela insistiu. — Não sou difícil, Mia, só... — tentei explicar. — Então por que não fica comigo? — Ela interrompeu, aproximando-se e deslizando a mão pelo meu braço. — Não me acha atraente? Você não sente desejo por mim? Respirei fundo, tentando manter a calma. — Não é isso, Mia. Você é uma mulher bonita, eu só não estou interessado. — Por que, Murilo? — Ela se inclinou para sussurrar em meu ouvido. — Tenho certeza que posso te agradar muito — disse, voltando a me encarar, seus olhos brilhando com malícia. — De todas as formas que você imaginar — acrescentou, levando a mão ao meu rosto. Tentei ser o mais direto possível, deixando claro que não iria acontecer nada entre nós. — Não vai rolar, Mia. Sério, você está perdendo seu tempo comigo. — Eu nunca perco tempo, Murilo. Tenho certeza que você vai mudar de ideia — ela sorriu, confiante em suas palavras. Voltei a beber minha bebida, tentando ignorar sua insistência. Foi então que percebi o olhar discreto de July em minha direção. Ela observava a interação entre mim e Mia, por um momento, nossos olhares se cruzaram. Senti um misto de desconforto e algo indefinido ao perceber sua atenção em mim. Mia continuava falando, mas minha mente estava focada em outro lugar, em outra pessoa.
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