Foi então que Marcelo percebendo o climão entre mim e Túlio, tentou mudar o foco.
— Vamos comprar mais bebidas.
— Já? — Murilo expressou sua surpresa.
— O pessoal está bebendo que nem uns desesperados — Marcelo comentou, rindo.
— Beleza, não demoro — Túlio disse, levantando-se. Ele me surpreendeu com um selinho rápido e se dirigiu para a saída.
— Vamos, Murilo — chamou Túlio.
— Vou ficar por aqui — respondeu rapidamente. Eu tentei disfarçar o nervosismo, enquanto bebia mais da minha cerveja.
— Tem certeza? — Marcelo insistiu.
— Vão lá, eu fico — Murilo confirmou.
— Quer alguma bebida diferente? — Túlio perguntou antes de ir.
— Pode trazer o mesmo — respondeu, despreocupado.
— Beleza, então — disse Túlio, animado, antes de se afastar com Marcelo.
Fiquei ali, com Murilo a algumas cadeiras de distância, tentando controlar o turbilhão de emoções que aquele breve contato com ele havia despertado.
Enquanto observava as meninas dançando, eu estava visivelmente constrangida, refletindo sobre os recentes acontecimentos. Meu coração ainda palpitava aceleradamente quando, de repente, Murilo se sentou ao meu lado. A proximidade dele, após o que havia acontecido, intensificava as batidas do meu coração. Evitei olhar diretamente para ele, fixando meu olhar nas meninas que dançavam.
— Podemos conversar? — Murilo perguntou, sua voz calma, mas eu percebi uma hesitação nela. Eu respirei fundo, tentando me acalmar, e concordei com um movimento de cabeça.
— Claro — disse, forçando uma tranquilidade que não sentia. Tomei um gole da minha cerveja, buscando algum conforto no líquido gelado, antes de responder: — Pode falar.
Murilo lançou um olhar rápido ao redor, como se buscasse privacidade, antes de se virar para mim.
— Vou te esperar no segundo quarto, no segundo andar — ele disse baixinho.
Fiquei surpresa com o convite. A ideia de conversar a sós com ele, especialmente após o que quase aconteceu, parecia imprudente.
— Acho que não é uma boa ideia. As pessoas podem interpretar m*l — tentei soar o mais calma possível, embora meu coração discordasse.
— Eu realmente preciso falar com você, mas entendo se você não quiser ir — ele disse, seus olhos expressando uma sinceridade que tornava difícil recusar seu pedido. Em seguida, ele se levantou e caminhou na direção indicada, deixando-me ali com um turbilhão de pensamentos.
Pisquei várias vezes, tentando processar a situação. Meu coração batia descompassado e a respiração estava acelerada. Terminei a cerveja de um gole só, tentando encontrar alguma clareza em meio à confusão. Nesse momento, Cristine se aproximou, seu olhar carregado de preocupação. Sem pedir, peguei a cerveja dela e comecei a beber, buscando algum alívio na bebida.
A ansiedade de Cristine era evidente, ao me ver naquele estado de desespero.
— O que houve? Por que você está assim, nervosa? — Ela questionou, claramente preocupada.
— Ele quer conversar comigo e eu não sei se devo ir. E se ele estiver irritado pelo que quase aconteceu? Se ele contar para o Túlio que quase nos beijamos? Eles são amigos, talvez ele se sinta m*l com o que aconteceu — desabafei, minhas palavras saindo em um atropelo nervoso.
— Calma, July — Cristine tentou me acalmar, colocando as mãos em meus ombros. — O Murilo não é como o Túlio. Ele não iria te colocar numa situação dessas. Pode ser que ele só queira pedir desculpas, talvez esteja se sentindo culpado.
— Você acha mesmo? — Perguntei, ainda ansiosa.
— Sim! Mas para descobrir ao certo, você precisa conversar com ele. Onde eles foram? — Ela indagou, interessada.
— O Túlio e o Marcelo foram comprar cerveja. O Murilo disse que me esperaria em um dos quartos — expliquei.
— Em um quarto? — Cristine se surpreendeu.
— Eu não vou — afirmei, após o olhar de choque dela.
— July, pode ser que ele só queira um lugar mais reservado para conversar sem serem interrompidos.
— E se o Túlio chegar? — Minha preocupação era evidente.
— Vai lá, eu fico de olho. Se ele voltar, eu te aviso imediatamente — ela me assegurou com convicção.
Hesitei por um momento antes de concordar.
— Tá bom, eu vou. Mas não vou demorar.
Cristine decidiu ir comigo, para que não chamássemos atenção.
— Vou ficar do lado de fora, tá? Quando terminar, é só me encontrar lá — disse ela, determinada a me apoiar.
Com um suspiro profundo, preparei-me para enfrentar o que quer que Murilo quisesse conversar.
— Será que estou fazendo algo errado? — A dúvida ecoava em minha voz, enquanto eu e Cristine parávamos em frente ao quarto indicado por Murilo.
— Claro que não, amiga. Fica tranquila — Cristine respondeu com um sorriso encorajador.
— Mas será que devo mesmo conversar com ele a sós? — Questionava minha própria decisão.
— Sim. Vai lá e descobre o que ele quer te dizer. O Murilo é um cara bacana, provavelmente quer se desculpar ou algo assim — Cristine tentava me tranquilizar com sua habitual confiança.
— Pode ser que você esteja certa — concordei, embora ainda hesitante.
Parada na porta do quarto, respirei fundo, incapaz de bater ou abrir. Cristine, percebendo minha hesitação, tomou a iniciativa. Ela bateu na porta e, em seguida, caminhou para o fim do corredor, me deixando sozinha para encarar o que estava por vir. Fiz uma careta em sua direção, meio que brincando, meio que demonstrando minha insegurança. No fundo, eu sabia que não havia volta, mas ainda assim, não me sentia completamente pronta.
Respirei fundo, tentando acalmar meu coração acelerado e, poucos segundos depois, Murilo abriu a porta.
— Entre, prometo que será rápido — ele disse, sua voz transmitindo uma calma que eu não sentia.
Com um passo hesitante, entrei no quarto. Ele fechou a porta atrás de mim e pude sentir todo meu corpo estremecer. O ambiente estava carregado de uma tensão palpável, e eu sabia que os próximos minutos seriam decisivos.