Lutando contra a vontade, tentei desviar meu olhar de Murilo, mas meus olhos teimavam em traçar um caminho diretamente para ele, e cada vez que o faziam, meu coração acelerava, batendo em um ritmo frenético e desordenado.
À medida que Murilo se aproximava, uma conexão invisível, mas intensa, parecia nos envolver. Por um breve instante, esqueci-me de todos ao redor, perdida na conexão de nossos olhares. Sabia que não havia nada de errado em simplesmente olhar para ele, mas a maneira como meu corpo reagia, transformava aquele simples ato em algo proibido.
"Será que somos destinados a ser melhores amigos? É a única explicação para esta conexão tão forte", pensava eu, tentando racionalizar meus sentimentos.
Observei Murilo cumprimentando a todos com seu habitual carisma. Quando se aproximou de Túlio, o perfume característico chegou antes dele, uma fragrância única que sempre me cativou. Após o cumprimento, ele veio em minha direção. Seus olhos encontraram os meus, e senti um calafrio percorrer meu corpo, quando seus lábios tocaram suavemente minha bochecha.
Ao receber seu cumprimento, meus olhos se fecharam involuntariamente, uma reação espontânea que não consegui controlar. Meu coração batia acelerado, ecoando em meu peito, enquanto uma sensação de secura invadia minha boca. Essas sensações tumultuavam minha respiração, que perdia seu ritmo usual, tornando-se rápida e irregular diante da proximidade dele. Era um turbilhão de emoções que me envolvia completamente, um misto de nervosismo e excitação que eu lutava para compreender.
Quando os abri novamente, ele ainda me olhava, um sorriso encantador emoldurando seu rosto.
— Você está linda, July — disse ele, mantendo o olhar fixo em mim.
— Obrigada — respondi com um sorriso discreto, mantendo meus olhos nos dele. Percebi rapidamente seu olhar desviar para meus lábios, antes de se afastar para cumprimentar os demais.
A energia que emanava de Murilo era palpável, e mesmo com ele se afastando, a sensação de um laço invisível permanecia, deixando-me com um misto de expectativa e incerteza.
Não demorou muito para Mia aproveitar a oportunidade e se lançar sobre Murilo com uma exuberância que beirava o exagero. Sua atitude era tão previsível quanto irritante, e cada vez que a via, minha antipatia aumentava. Murilo, por sua vez, manteve sua cordialidade, mas soube se desvencilhar dela, com uma sutileza elegante.
Após cumprimentar todos, Túlio chamou a atenção de Murilo.
— Senta aqui, irmão — disse ele, apontando para o assento ao meu lado. Nossos olhares se cruzaram rapidamente, carregados de um entendimento silencioso.
Murilo aproximou-se e sentou-se. Pude sentir a curiosidade de Cristine, cujo olhar cúmplice se fixava em mim. Sua expressão divertida denunciava seus pensamentos, eu lancei um olhar de repreensão a ela, que apenas sorriu e continuou saboreando sua bebida.
A conversa entre nós fluía agradavelmente, até que Mia decidiu chamar atenção para si, levantando-se para dançar de maneira provocante. Ela passou por nós, lançando um olhar cheio de insinuação a Murilo.
— Está muito gostoso, Murilo… mais do que o normal — disse ela, sem se preocupar em ser indiscreta.
Involuntariamente, revirei os olhos e neguei com a cabeça, incomodada com a cena, enquanto levava o drink aos lábios. Murilo, no entanto, não lhe deu atenção, preferindo continuar sua conversa com o grupo. Sua indiferença foi uma resposta silenciosa, mas poderosa, à atitude descarada de Mia. Em meu íntimo, senti uma satisfação discreta por ele não ter alimentado o comportamento dela.
— Bora dançar, garotas! — A voz animada de uma das meninas que já dançava ecoou, convidando-nos a se juntar a ela. Túlio me lançou um olhar cheio de entusiasmo e sorriu de forma contagiante.
— Vai lá dançar, meu amor, divirta-se um pouco — incentivou ele.
— Não sei... — respondi, um sorriso tímido se formando em meus lábios.
— Qual o problema? Vai lá se divertir com as meninas — insistiu ele.
Foi então que Murilo interveio, com um brilho travesso nos olhos.
— Cristine, por que você não vai dançar com a July? Acho que ela só não quer ir sozinha.
Nesse instante, Cristine levantou-se, transbordando energia. Ela se aproximou, estendendo a mão para mim, praticamente me puxando para a pista de dança.
— Bora, amiga, vamos dançar! Estamos aqui para curtir — disse ela, com um entusiasmo contagiante.
Murilo me lançou um olhar cúmplice, piscando de forma divertida, o que desencadeou em mim um sorriso involuntário e radiante.
— Vai lá, July — Túlio me chamou de volta à realidade, e só então consegui desviar meus olhos dos de Murilo. — Aproveite a festa, vou pegar outra bebida para você em breve — disse ele, tranquilo.
Inspirada pelo clima festivo e pelo apoio de todos, segui Cristine, deixando-me levar pela música e pela energia vibrante do ambiente. Era um momento de libertação e diversão, longe das complicações e das preocupações.
Enquanto dançava animadamente com Cristine e as outras meninas, eu não conseguia evitar que meus olhos buscassem os de Murilo. Era como se houvesse um ímã entre nós, uma atração que eu lutava para evitar. Túlio estava ali, ao lado dele, mas era para Murilo que meu olhar se voltava involuntariamente. A conexão que sentia com ele era tão diferente da que tinha com Túlio, e a ideia de que Murilo também pudesse estar me observando fazia meu coração bater mais rápido.
— Você está afim dele, confessa — sussurrou Cristine em meu ouvido, quase como se lesse meus pensamentos.
— Ficou doida? Claro que não! — Rebati, tentando convencer não só a ela, mas a mim mesma.
— Ele está na sua, isso é visível — Cristine falou, séria. — Não sei como o Túlio ainda não percebeu. Está escrito na testa dele: “July, eu te quero!” — Sinalizou com as mãos.
— Para com isso, não é nada disso. Somos só amigos — insisti, tentando desviar o assunto.
— Sei... Sei bem que tipo de “amizade” vocês dois querem — ela disse, com um ar malicioso.
— Cristine, por favor, não brinque com isso — pedi, sentindo uma mistura de desconforto e excitação.
— Quem disse que estou brincando? — Ela disse, animada, tomando um gole da bebida. — Mas olha, eu apoio essa amizade colorida. Espero que ela seja um arco-íris completo.
Apesar de tentar me manter firme, não pude evitar sorrir com o comentário dela.
— Você é louca, mas saiba que não tem nada de colorido na nossa amizade. Eu tenho namorado — afirmei, tentando parecer convincente.
— Se você está falando, tudo bem — Cristine respondeu, ainda se divertindo com a situação.
Involuntariamente, meus olhos se encontraram novamente com os de Murilo, e para minha surpresa, ele também me olhava.
"Isso está ficando difícil, Murilo, me ajuda", suplicou meu subconsciente, enquanto eu lutava para manter a discrição e negar os sentimentos que aquele olhar despertava em mim.