Capítulo 21

1087 Words
— Novamente, obrigado por me escutar, July. Desculpe se tomei muito do seu tempo com os meus problemas — Murilo disse, oferecendo um sorriso agradecido que iluminava seu rosto, evidenciando o alívio que sentia após nossa conversa. Eu rapidamente sacudi a cabeça, dispensando suas preocupações com um gesto suave. — Imagina, Murilo, você não me incomodou de forma alguma. Na verdade, eu gosto de conversar com você, me sinto bem na sua companhia — respondi, retribuindo o sorriso, sentindo uma conexão genuína que confortava e enriquecia o ambiente. Ele me entregou a taça vazia e, num gesto involuntário, minha mão tocou a dele. Um breve contato que, embora acidental, desencadeou uma corrente elétrica suave entre nós. Nossos olhos se encontraram e, por um instante, senti um calor involuntário subir pelo meu rosto, tingindo minhas bochechas de uma leve corada. — Eu também me sinto à vontade conversando com você, July. Você tem um jeito especial, que faz com que eu me abra mais facilmente — Murilo expressou, a voz um pouco mais baixa, carregada de um timbre que ressoava uma mistura de admiração e conforto. Seus olhos, ainda fixos nos meus, transmitiam uma sinceridade que me deixou momentaneamente sem palavras, capturada pela intensidade daquele olhar. Nesse momento, percebi a facilidade e a naturalidade da nossa interação, algo que raramente sentia com Túlio. Com Murilo, as palavras fluíam sem esforço, e cada gesto, cada olhar compartilhado parecia construir uma ponte de entendimento e empatia que me fazia questionar, em silêncio, as escolhas que tinha feito em minha vida amorosa. Aquele breve encontro de mãos, havia sido carregado de uma energia que parecia sussurrar possibilidades, despertando em mim uma consciência de opções e sentimentos que eu havia, até então, tentado ignorar. Cada segundo daquela troca simples de olhares reforçava um vínculo que eu sabia ser perigoso, mas irresistivelmente atraente. — Obrigada, Murilo, por confiar em mim — consegui dizer, finalmente, com uma voz suave, ainda impactada pela proximidade emocional que compartilhávamos. Por mais alguns instantes prolongados, ficamos ali, apenas nos olhando, em um silêncio que dizia mais do que qualquer conversa. A intensidade daquele olhar me fez perder a noção do tempo, criando uma conexão que eu sabia que não deveria explorar, mas que inevitavelmente nos envolvia. Então, com um leve tremor nas mãos que traía minha agitação interna, peguei a taça, quebrando o encanto que se formara entre nós. — E sempre que precisar, estou aqui para ouvir você — afirmei, ainda segurando a taça entre minhas mãos, tentando recuperar alguma sensação de normalidade após a carga emocional daquele olhar compartilhado. Ele assentiu, seu rosto refletindo uma mistura de gratidão e contemplação, como se ponderasse suas próximas palavras com cuidado. — Posso te fazer uma pergunta pessoal? — Perguntou Murilo, com uma leve hesitação na voz que revelava o delicado terreno que estava prestes a pisar. — Claro, Murilo, pode perguntar — respondi, encorajando-o com um aceno suave da cabeça, curiosa e um pouco ansiosa. Coloquei a taça sobre a mesinha ao lado do sofá e me voltei para ele, preparando-me para o que viria. — Como está o seu namoro com o Túlio? Vocês estão bem? — Ele lançou a pergunta com uma curiosidade que parecia genuína, mas sua expressão carregava um leve traço de preocupação, como se temesse pela resposta. A pergunta me pegou de surpresa, forcei um sorriso enquanto uma onda de reflexão me invadia. Suspirei, tentando organizar meus pensamentos antes de responder. — Bem, eu acho que sim... até agora estava, por que a pergunta? — Indaguei, minha voz trazendo um matiz de confusão, enquanto tentava entender a razão por trás de seu interesse súbito. — Não, nada específico. Só curiosidade mesmo. Mas que bom que está tudo bem — ele respondeu rapidamente, talvez percebendo a complexidade que sua pergunta havia desencadeado. Levantando-se para ir embora, Murilo parecia querer respeitar um limite não dito, evitando aprofundar-se em um tópico que poderia ser delicado. — Murilo — chamei sua atenção, ele me olhou atentamente, seus olhos refletindo uma mistura de preocupação e interesse. — Na verdade, eu não sei — murmurei, engolindo seco enquanto tentava encarar os olhos dele, tão expressivos e atentos. Ao perceber minha hesitação e desconforto, ele sentou-se novamente ao meu lado, aproximando-se com uma delicadeza que me era tanto reconfortante quanto necessária naquele momento. Com um gesto suave, ele pegou delicadamente minhas mãos entre as suas, transmitindo calor e segurança através do contato. — July, se há algo que te incomoda, pode compartilhar comigo. Eu gosto e me preocupo com você, isso é independente da minha amizade com o Túlio — disse ele, olhando-me nos olhos com uma intensidade que me fez sentir completamente vista e ouvida. Eu baixei o olhar, sentindo uma mistura de conforto e confusão diante de suas palavras tão sinceras. — Às vezes o Túlio é muito duro comigo. Ele é realmente muito grosseiro, e isso... isso me machuca — confessei, minha voz um sussurro quase inaudível, trêmula com a carga emocional de admitir em voz alta essas verdades dolorosas. — Ainda tem a fidelidade, eu afirmo que não, mas no fundo eu sei que ele não é fiel — completei, a dor em meu coração se tornando palpável nas palavras que escolhi. Murilo suspirou ao ouvir minhas palavras, a preocupação evidente em seu semblante. — Por que você aceita ser tratada assim? Você é uma menina tão incrível, July, não merece isso — sua voz era suave, mas firme, cada palavra infundida com uma sinceridade que me fez vacilar entre a gratidão e a tristeza. Eu sorri tristemente, os olhos ainda baixos enquanto lutava contra as emoções que ameaçavam transbordar. — Eu realmente gosto dele, mas estou começando a sentir que... que talvez o encanto esteja desaparecendo. Parece que estou lutando sozinha para manter nosso relacionamento vivo — confessei, sentindo um peso imenso sair do meu peito com a admissão. — Eu entendo... — Murilo pausou, parecendo escolher suas palavras com cuidado, sua expressão carregada de empatia e uma leve tristeza por minhas dificuldades. — Às vezes, também fico desapontado com as atitudes do Túlio. Mas lembre-se, você não está sozinha. Estou aqui se precisar desabafar — acrescentou, espremendo minhas mãos em um gesto de apoio que selou sua promessa de estar ao meu lado, independente das circunstâncias. O apoio de Murilo, tão firme e incondicional, foi um bálsamo para minha alma naquele momento de vulnerabilidade. Sentia-me grata, embora ainda um tanto perdida, sabendo que tinha ao menos uma pessoa em quem poderia confiar sem reservas.
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