Prólogo

1844 Words
“Queria tanto crescer, m*l sabia que perderia todo o encanto. Bem lá no fundo do meu âmago anseio reviver a puerícia, pois a magia é real, pai Natal e coelho da Páscoa existem, o meu aniversário é dia de sorte, não importasse qual fosse o motivo bastasse chorar tudo terminava bem! Oh! doce infância partiste sem um aviso prévio de que a maturidade exige de nós resiliência Quanto as lágrimas, custa-me admitir, É triste, mas é a realidade, elas não passam de secrecções que lubrificam o olho, sei que proporcionam um certo alívio que consigo trazem a sensação de melhoria, a verdade é que não têm como trazer de volta a alegria dos meus olhos.” ¤Vickyara ¤ Faço parte daquele grupo de pessoas que não tem um nome de referência, a minha história não é um cliché habitual muito menos um romance, aliás Eu não acredito em contos de fadas, foi muito difícil para mim aceitar que não existe alma gémea, e que horóscopo é uma pura ilusão. Vivo com a mentalidade de que se não persistirmos, viveremos escravizados com as frustrações de sonhos não materializados. Deposito a minha fé nas pequenas freitas de luz, pois os pequenos inícios levam a grandes patamares. Entretanto, tudo começou numa Terça Feira chuvosa, enquanto fazia limpeza, constatei no anúncio no jornal, uma vaga de emprego, que findava naquele dia mesmo. Olhei para o relógio, pensei não dá tempo para produzir uma carta de motivação condigna. Olhei para o meu diploma de licenciatura empoeirado, lembrei dos cinco anos difíceis. Não dá para ignorar é claro sinal do universo a chamar-me para mudança. Fiz um copy paste de uma carta que já tinha, e claro mudei o destinatário, a seguir vesti rapidamente uma calça preta pantalonas, e uma camisa branca, e combinei com as sabrinas pretas, era o único par de sapato que combinava perfeitamente com as minhas sabrinas, apesar de as mesmas estarem descascadas, também ninguém vai reparar. Levei os documentos num envelope, e pus-me a caminhar, as ruas da cidade de Nova Zambézia estavam cobertas de pequenos charcos criados pela chuva, por isso mesmo eu tinha que prestar atenção para não levar um banho com os carros que passavam há altas velocidades, desconsiderando o facto de que um dia eles também foram pedestres. O meu coração marcara palpitações céleres assim que cheguei ao grande edifício da companhia Genica multinacional, dedicada ao processamento de alumínio, senti um calafrio percorrer na minha medula espinhal quando o segurança convidou-me a entrar, pelas duas grandes portas giratórias de vidro envoltas por estrutura de alumínio cromado. Os meus olhos deslumbraram-se com a maneira que as mulheres vestiam naquele espaço, todas executivas com os seus ternos à medida e um salto alto que eu jamais conseguiria andar. Decido aproximar ao balcão da recepção, onde estava uma mulher jovem caucasiana, até agora julgo que sou a única n***a neste edifício. — Bom dia, gostava de saber se ainda aceitam candidaturas? — cumprimentei cordialmente ainda tive a ousadia de sorrir para a jovem, uma das coisas que aprendi é que um sorriso pode fazer diferença, é uma maneira de convidar a pessoa a estar na mesma dimensão que a sua. — Não estamos mais a receber candidaturas — Respondeu à mulher nem se deu ao trabalho de olhar-me na face, estava centrada nos seus papeis. Eu posso jurar que ela dormiu com uma parte destapada. — Mas Posso deixar o meu currículo? — Insisto, vim de tão longe, escapei ser regada por carros que andavam á altas velocidades, e abusei da sola das minhas sabrinas descascadas, perdi calorias, é tudo por uma boa causa, por isso mesmo vou até ao fim. — Já que a senhora faz a questão pode servir como rascunho para os meus rabiscos — Declarou a mulher com o sorriso mais cínico que já vi, mesmo assim deixei o meu envelope com o meu currículo, sabendo que seria rascunho de rabiscos. Eu não queria acreditar que estava a ser tratada daquela forma pelo meu aspecto e raça, já estava farta de tal maneira que não me afectava mais, principalmente nas minhas escolhas. Sai do grande edifício da Genica de cabisbaixa, muitos pensamentos conflituantes passaram da minha cabeça, mas o que dominou a minha mente, enquanto caminhava, era fome, o meu estômago parecia ter vida própria, punha-me a salivar assim que passava de um lugar ou estabelecimento de refeições, mas era só lembrar do esparguete que sobrara da semana passada que ele ficara todo embrulhado. O vento persistia em arrastar-me para o leste, que passara a ideia de passar as refeições na casa da minha mãe, porém a triste lembrança que carrego da vez que lá estive, que ela jogou na minha cara que eu era improdutiva, assunto encerrado, mesmo assim em cada final de mês recebia uma mensalidade da minha mãe. Contudo, cheguei ao meu humilde lar, moro sozinha desde que entrei na faculdade, antes vivia com a minha mãe e os meus dois irmãos, devida a distância mudei-me para cá. O cheiro da minha casa era h******l, já fazia dias que eu não me dava o trabalho de arrumar, essa é a vantagem de viver sozinha, ninguém obriga-me a fazer as coisas. Atirei a minha mochila sim, mochila mesmo e não bolsa, Eu nunca fui tão vaidosa a ponto de ter uma coleção de bolsas de marca, sou Engenheira Mecânica, não quero dizer com isso que devo andar de macacão e desengonçada com graxa, aliás Eng°. Mecânico não é aquele que fica sujo de graxa já agora, também trabalha no escritório com direito a ar condicionado e café. Não vejo a necessidade de ter uma bolsa, tudo entra melhor numa mochila. Abri na minha pequena geleira e tirei o meu prato de massa pronta para aquecer. Passei oregan e manjericão por cima para dar um aroma mais convidativo. Enquanto aquecia a comida, dei uma vista de olhos nos status dos meus contactos, parecia que a vida dos meus colegas de faculdade seguiu e a minha estava estagnada, doeu-me ver a minha colega que poucas vezes entrava na sala de aulas, foi empossada, e eu que acreditava que logo terminasse os estudos, também estaria a fazer sucesso. É essa realidade que não nos contam na faculdade, o quão competitivo é o mundo de emprego, e é ainda enfadonho quando não se tem vocação para o empreendedorismo. Comi a esparguete que escorregava, indício claro que já estava a perder a validade, em seguida, deite-me na minha cama, com as lágrimas nos olhos, ninguém contara-me que crescer era viver desperada, cansada de não fazer nada. Eu vi os meus dias amanhecerem e anoitecerem, sem uma notícia agradável, por duas semanas, até que pela primeira vez, o meu celular toca, peguei nele, ao visualizar vi um contacto estranho, deu-me a entender pelos primeiros dígitos que era contacto de uma empresa. — Bom dia, senhora Biatriz Silva, aqui é da GENICA, deve comparecer daqui a uma hora para entrevista — Escutei atentamente, não consegui dizer nem se quer uma palavra. Olhei para o relógio no criado mudo e fiquei estérica. — Alô. Senhora Biatriz esta em linha? — perguntou o homem ao perceber que não tinha correspondência. — Sim, sim, estou mesmo a caminho dai, muito obrigada. — Eu disse toda eufórica e emocionada, logo que o homem desligou corri para o meu pequeno balneário, abri a torneira, admito só me passei com água, não é um banho, acredito que se eu for bem sucedida nessa entrevista, tomarei banho com gel bem caro, por isso hoje é dia de entrevista e não de banho. Terminei de escovar os dentes, através do espelho visualizei como os meus olhos estavam carregados de olheiras, ignorei esse fato, voltei ao meu quarto que parecia uma espelunca, procurei as calças que usei naquele mesmo dia assim como a camisa, acredito ser a roupa que me deu sorte, então repetirei, por fim amarro as minhas tranças box braids num coque. Peguei a minha mochila, e corri para a paragem mais próxima. Eu não tinha muito dinheiro, o tempo não me favorecia, o único transporte viável era o táxi, fiz a questão de procurar um táxi. Vi um táxi a aproximar-se, então corri para apanhar antes que alguém passasse a frente, inesperdamente, um Ford passa a uma velocidade furiosa, deita-me águas negras estagnadas, chovera na noite passada, agora a minha camisa da sorte estava tingida com machas castanhas. Fico parada a tentar processar essa situação. E vejo alguém a tentar ficar com o meu táxi. Não mesmo, não será por isso que vou retroceder. Avanço e empurro a mulher, e ainda escuta, "ai moça não tem educação não?" Ignoro entro no carro. Penso que o pior foi sentir o gosto daquelas águas sujas, não tinha comido nada mas também não era justo que fosse qualquer coisa ao meu estômago. Percebo que ainda estamos parados porque não dei o endereço ao motorista. — Vou para a empresa Genica, na avenida dos heróis nacionais, na terceira rua, esquina com a avenida 34th — Declaro de forma breve, o meu coração estava célere. Olho para os meus pés, meus braços, o rosto tento limpar com a palma da minha mão, até o meu perfume foi com o cheiro das águas negras. — Toma moça — disse o taxista, entregou-me um rolo de papel higiénico para poder ajeitar-me. Suspirei de alívio, ainda existem pessoas de bom coração, e não somente os filhos de Adão e Eva. — Muito obrigada! é de coração — Eu digo com aquela minha cara de doce, sim toda a vez que alguém era simpático comigo, abria os olhos como o gato das botas, limpei-me o rosto e os pés, e devolvi o rolo, porém as minhas roupas estavam sujas sinceramente a ideia de voltar a casa e trocar de roupa, não mesmo, tinha pouco tempo, e não queria por nada deitar fora essa oportunidade. A Velocidade do carro em algum momento deixara-me tonta, mas a ideia de protestar, estava fora da minha mente, a finalidade era chegar a tempo. Fiquei ainda mais ansiosa quando o motorista para em frente ao grande edifício envidraçado no formato de coluna. Paguei ao taxista, carrego na alavanca para abrir a porta e não consigo olho para o retrovisor para observar o motorista. — Senhora falta dinheiro, é do papel— Disse o homem muito sério, francamente, até onde vamos parar, atirei todas as moedas que eu tinha na minha pasta, estava com pressa não queria por nada atrasar-me, mas eu tinha muita vontade de gritar "filho de Adão", ah, mas um dia vamos nos encontrar. Andei à passos largos, vou em direcção à entrada. Atravesso para a outra margem, subo os degraus do átrio, aproximo as grandes portas giratórias, de rompante para o meu espanto o segurança barra a minha entrada. — Senhora não a posso deixar entrar, este edifício não é para abrigar moradores de rua — Afirma o segurança, a apontar para as minhas vestimentas, fez a questão de fechar a grande porta de vidro na minha cara......
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