AMIRA...
E elas disseram, em uníssono: Bem vinda menina! Aqui trabalhamos duro, mas com respeito, faz o que dissermos e nunca terás problemas...
E as três voltaram ao trabalho e fiquei ali no canto, tentando entender como ajudar... Sentia-me um pouco feliz pela nova vida, pela paz que sentia por dentro e um pouco de esperança... E uma das senhoras disse: Vem, ajuda aqui com os legumes... Então pensei, pela quantidade da comida deve viver muita gente aqui nesta casa, talvez algum dia eu veja algumas delas...
Por enquanto não podia sair da cozinha, ou pisar no outro cómodo além daqui, e aporta que dava a sala de jantar só era aberta quando alguem vinha buscar pratos prontos..."Gente rica é estranha" pensei sem maldade, "tem empregados para tudo, para cada coisa... e assim foi a minha rotina nesta mansão durante uma semana... Desde que eu respeitasse os meus limites estava tudo bem... A semana passou como uma espécie de névoa espessa, todos os dias pareciam iguais...
Mas ao mesmo tempo havia algo no ar , algo que eu não conseguia decifrar... E tinha que acordar um pouco mais cedo, antes do nascer do sol, para ajudar a preparar tantas refeições, caminhava em silêncio até a cozinha... E aquele cheiro constante de incenso criava a sensação de que a casa nunca dormia... E eu vivia tentando não ser vista...
As três senhoras da cozinha: Samira, Nawal e Hinah...Já sorriam para mim automaticamente, eram gentis, mas havia sempre uma sombra por trás dos olhos delas, eu sou muito observadora. Não sei explicar, talvez fosse só o cansaço de muitos anos ali quem sabe...
Mas o que me deixava inquieta era a Layla, todas as vezes que nos cruzavamos na cozinha, ela entrava só para vir buscar as refeições, ela recuava um passo, e olhava para baixo, como se o meu simples olhar a pudesse empurrá-la para trás, as vezes tremia, as vezes parecia querer dizer algo, mas logo calava-se, nunca a vi realmente relaxada, ela era como uma flor que aprendeu a crescer apertada dentro de um jarro... E perguntava-me de quê ela tem tanto medo? Sera que ela é como eu?
Mas eu não tinha coragem ainda de fazer perguntas, eu tinha regras a seguir... E não poderia chamar atenção, mas gostaria muito de poder ter alguém para conversar e talvez uma amiga... Mas, pelos vistos isso estava longe de acontecer...
Bom! O meu trabalho era simples, lavar, cortar, temperar, limpar, e nessa repetição... E por incrível que pareça, trabalhar me dava algum conforto... Não havia gritos, ou agressões e já era ótimo... E não vi o Malik nenhuma vez durante toda a semana...
E a minha esperança só aumentava, e comecei a acreditar que ele só queria mais uma empregada mesmo... E isso me deixou mais calma e tranquila... Mas no fundo, bem lá no fundo algo apitava, surrurava que algo estava fora do normal. Talvez fosse, só impressão minha ou o hábito de não ter um dia de paz, e ter isso agora me assustava... Às vezes, me sentia um pouco paranóica, porque tinha sensações de que estava a ser observada, não era sempre, era por alguns segundos e passava, como um pequeno arrepio na espinha...Mas depois pensava, quem ia vigiar alguém como eu, sou só uma miúda adolescente...
MALIK...
Ela é silenciosa, mais do que eu esperava. Quando a tiramos da casa dela, ela não fez birras, era como se estivesse cansada de gritar e ver que isso não a Levaria a lado algum... Observo-a pelas câmeras, ela move-se pela cozinha com leveza, quase descocertante, como se tivesse aprendido desde cedo que o melhor modo de sobreviver é não ocupar espaço. Ela acena para as mulheres mais velhas e segue as instruções não reclama, não questiona, interessante, extremamente interessante...
Sinto um certo alívio. vai ser fácil domá-la. Ainda não a chamei desde o primeiro dia , primeiro quero saber como ela age, e observar é melhor do que intervir de imediato, isso é para as que já chegam rebeldes, elas não tem essa oportunidade... Mas em breve ela vai perceber que nem tudo são flores...
Amira...
A postura da Layla, piorou, ao longo dos dias, ela deixou cair um copo de vidro ao ver-me entrar na cozinha...
Desculpa... murmurou ela, enquanto ajoelhava para apanhar os cacos... Eu também ajoelhei-me e respondi: Não faz m*l eu ajudo... mas m*l eu disse isso, ela levantou-se tão rápido que eu até me assustei, e eu estranhei ainda mais atitude dela, como se o fato simples de eu me aproximar lhe queimasse a pele, seus olhos arregalados e escuros de medo... Como se quisesse me contar algo, mas algo a impedia...
Isso me fez pensar, porque ela sempre parece que está a espera de um castigo invisível, o que está a acontecer nesta casa? Eu tinha tantas perguntas, mas não as podia fazer a ninguém. As senhoras só olhavam para a Layla como se aquilo fosse algo normal, não vi espanto no olhar delas, e continuavam a fazer o seu trabalho, sem muita conversa... Só falavamos o necessário. não havia gargalhadas ou conversas banais para passar o tempo e aos pouco comecei a notar esses detalhes... E algo dentro de disse a famosa frase: Nem tudo que brilha é ouro, alguma coisa estranha nesta casa...
MALIK...
Ela começa a reperar nas pequenas coisas, já avisei a Layla para se comportar ao lado dela, não quero que estrague os meus planos, e está a falhar redondamente e isso vai custar-lhe caro... Apesar dela começar a notar algumas coisas, ela continua sem fazer perguntas, só observa em silêncio, dá para ver que ela é inteligente, por isso que a observo também no quarto dela, a câmera está perfeitamente escondida.
Quando ela senta na cama, encolhida. mexendo mecanicamente os dedos, eu vejo, quando suspira fundo antes de dormir, quando acorda assustada de madrugada, pensando que ouviu passos eu vejo, cada passo que ela dá. Ela está a aprender que este lugar não é seguro, e isso para mim é adequado, é assim que gosto de ver as minhas presas, para poder começar a caça...
Amira...
A sensação de estar a ser observada está cada vez mais forte, eu estava no quarto depois do banho, a pentear o meu cabelo, quando a sensação veio mais forte, não sei dizer o quê, mas era como se um olhar me atravessasse a pele, olhei para os lados e nada, a porta, não parecia ter ninguem ali, janelas fechadas, pensei: talvez fossem os seguranças a fazer a ronda... Mas aquele arrepio me dizia que não era isso.
Abracei os joelhos e pensei: só estas cansada Amira, durma... Mas à noite acorda assustada com a mesma sensação. Isso estava a deixar-me inquieta...
MALIK...
Ela sente, mas não sabe o que é, mas sente, e isso me deixa empolgado...
Acho que ela já está pronta para a proxima fase....