MALIK...
Eu esperava que ela acordasse mais cedo. As outras costumam acordar com medo, dor. confusão, trauma, o que para mim é uma reacção normal. Mas a Amira, não, ela dormiu profundamente, como alguem, que desisti do próprio corpo, que se pudesse nunca mais voltava para ele, é isso que ela fez... Mas a realidade é outra, e a dela esta apenas a começar... Quando a vi, não gostei, não gosto quando ficam assim, logo na primeira vez, demoram demais para voltarem a ser úteis...
Mas algo me incomodou, e eu não gosto de admitir isso, nem para mim mesmo, e foi vê-la encolher-se ao meu toque... Com as outras eu não me importo, mas com ela isso me incomodou... Era como se eu fosse um mostro... Sim eu sou, eu sei... Mas quem se importa, ela não está aqui para gostar de mim, mas aquela reacção, aquilo mexeu comigo, mas do que deveria... As lágrimas silenciosas dela, era como morte por dentro... Se ela gritasse, ou xingasse, implorasse era mais fácil.... Mas aquilo era diferente, o olhar vazio... Eu odiei isso por um motivo...Não gosto que quebrem antes de eu decidir quando devem quebrar...
E ela estava a partir-se inteira, e eu não posso deixar que isso aconteça, ainda não...
Agora precisava encontrar a Layla, aquela irresponsável, para saber porquê desapareceu ontem, precisava verificar se os homens que subiam com os acompanhantes cumpriam as regras... E também que a Amira voltasse a ser funcional...
Ver a Amira assim, me irritava, o porquê eu não sei... E nem quero saber, porque estou a pensar nela?....
AMIRA...
Levantei-me e fui tomar banho a todo custo, vesti as roupas que colocaram para mim, e fui para a cozinha e as senhoras olharam-me e ninguém perguntou o que aconteceu, era como se não vissem o meu estado, então deram-me a comida, e comi no meu silêncio, mesmo a gritar por dentro... Então deram a tarefa de descascar os legumes, enquanto fazia isso olhava para aquela faca na minha mão a brilhar, bem afiada e um pensamento pequeno me ocorreu, e se eu acabasse com tudo isso de uma vez?
Mas algo mais forte dentro de mim me impedia, talvez fosse medo, ou covardia mesmo, falta de coragem, apesar de eu me sentir morta por dentro, sinto que isto não é o fim, é só uma sensação estranha, que me persegue apesar de tantas desgraças...
MALIK...
Olhei pelas câmeras, ela estava lenta, mas fazia o seu trabalho, e quando descascava os legumes vi ela olhar para a faca por mais tempo do que o normal, e isso foi um sinal de alerta, eu não quero acreditar que ela seria capaz de tal coisa... Mas pelo sim e pelo não, vou ficar ainda mais de olho nela...
Meu mundo precisa de controle , a vida dela é minha, e ela não tem o direito de tirá-la. Cedo ou mais tarde ela vai entender isso. Fazia o trabalho como se fosse um roubo, os olhos dela perderam qualquer tipo de brilho, estavam vazios, mas havia resistência ali, uma faísca minúsculas, que só quem é experiente conseguia enxergar...
E isso fez algo acordar em mim, algo que eu não tenho nome, não posso deixar ela quebrar assim facilmente, ainda não. Ela tem valor, valor que vai muito além do que ela imagina. então dei as instruções para que não a dessem muito trabalho só leve...
E a minha atracção por ela aumentou, preciso entende-la só com o olhar...