Capítulo 02: Jogo de Cartas

2574 Words
Palos de la Frontera, Terra 1492 O som da arma sendo engatilhada fez com que Jared Blackwood abrisse os olhos, mas congelasse ao mesmo tempo. Ao seu lado, deitada na cama, havia uma mulher lindíssima, de pele queimada do sol, cabelos castanhos muito escuros e curvas perfeitas; sabia que era uma cigana. Ela dormia, não tinha ouvido o som da pistola. Tentou se lembrar de como havia parado naquela cama com aquela mulher; não se lembrava, e sorriu com isso, significava que a noite na taverna valera a pena. Decidiu virar-se. Um homem branco, forte, vestindo o uniforme vermelho e dourado característico da marinha espanhola apontava a pistola para ele; o chapéu e a quantidade de medalhas em seu peito indicavam que ele era um oficial de patente alta, como capitão. Em sua mão, a pistola de cano longo para um único projétil; a quantidade necessária para Jared, já que o treinamento militar não o permitiria errar aquele tiro, ainda mais naquela curta distância. Jared cutucou a mulher e mexeu-a para que acordasse. Ela resmungou algo completamente incompreensível, mas sentou na cama ao perceber o desespero de Jared. Seus s***s grandes e firmes a mostra; Jared precisou conter-se para não agarrá-los, afinal, não era um cara armado que o impediria de satisfazer-se. O olhar de fúria do marinheiro, porém, acabou com sua vontade. A mulher deu um grito ao perceber que os dois não estavam sozinhos; agarrou as cobertas com tudo e se cobriu. Nenhuma palavra foi dita; estava mais do que óbvio para Jared: aquela era uma mulher casada, e o homem devia ser seu marido. Talvez se lembrasse de que a mulher tenha dito algo sobre ele na taverna na noite anterior, mas não tinha certeza. O taverneiro tinha descoberto essa nova bebida que simplesmente deixava uma pessoa bêbada nos primeiros goles. Considerou as possibilidades, enquanto a mulher tentava convencer o homem a não matá-los. Olhou pela janela por um segundo; imaginou que, pelo fato de não ver a rua, ele estava no segundo andar. Portanto, a queda não seria f**a. Apertou o cérebro para lembrar se havia ou não um jardim na casa, mas a ressaca que começava a se instalar em seu cérebro não permitiu. Delicada e cautelosamente, pegou o travesseiro. Decidiu que não iria pular. Se fosse rápido o bastante, poderia desviar do tiro e impedir que ele sacasse a espada presa em seu cinto. Foi o que fez. Jogou o travesseiro, no susto, o homem disparou; a bala atingiu em qualquer lugar que Jared não viu. Avançou contra o marido completamente nu. O marinheiro jogou a arma no chão, não teria tempo de carregá-la. Sua mão direita foi para a espada, mas Jared agarrou seu pulso e o impediu de desembainhar. Jared não era um lutador, mas sim um amante. Um pouco desengonçado e com o coração acelerado, ele empurrou o homem, que chocou-se contra a parede do outro lado do corredor. Jared passou a correr para a direita; felizmente, acertou a escada. Desceu. Ao passar pela sala, encontrou seu casaco marrom ali. Sorriu e o pegou; amarrou em volta da cintura de modo a esconder suas intimidades das pessoas na rua. Assim que passou pelo portão, olhou para ambos os lados, tentando reconhecer o local em que estava; infelizmente, não tinha ideia. As casas de madeira, as ruas de paralelepípedo, até mesmo as tavernas eram iguais. Decidiu correr pela esquerda. Jared chegou a uma rua mais larga e, portanto, mais movimentada depois de passar por várias outras menores, incluindo becos. Estava na rua de sua taverna favorita, onde também morava no andar superior. Parou de correr, pois o marido não estava atrás dele. Entrou no Ouriço Azul sem hesitar. Não se importava dos clientes verem-no seminu, afinal, não só morava ali, como todos eles estavam bêbados demais para lembrar-se disso, mesmo que ainda fosse o começo da manhã. De fato, para todos eles, a noite não havia terminado. Foi direto para detrás do balcão, onde seu amigo, Ouriço, como era conhecido o taverneiro, limpava alguns copos com um pano húmido sujo. Passou por uma porta que havia ali e subiu um lance de escadas. Havia algumas portas no corredor do andar superior, a dele era a penúltima da esquerda. Seu quarto era pequeno, mas pelo menos tinha seu próprio banheiro – não que isso significasse muita coisa, apenas um balde para fazer suas necessidades, uma janela para o beco onde podia jogar os excrementos, mas pelo menos, tinha uma banheira de madeira em que ele podia banhar-se sempre que quisesse. Estava calor, afinal, ainda estavam no meio do verão, por isso, encheu a banheira com água doce armazenada na taverna, mas que havia sido retirada de um poço durante aquela semana. Lavou-se da melhor maneira que podia, saiu e secou-se. Vestiu um par de calças e uma camiseta de linho; uma vez pronto, desceu para fazer seu trabalho: expulsar os últimos beberrões da manhã, fechar a taverna e limpar tudo. Felizmente, o banho gelado ajudou com a ressaca, que agora não era mais do que um leve incomodo atrás dos olhos. Jared precisou arrastar alguns deles que estavam apagados demais para andar e jogou-os na sarjeta. Estes não passavam de marinheiros ou piratas que simplesmente não sabiam a hora de deixar o copo na mesa. Havia também algumas mulheres cujos vestidos haviam sido rasgados durante a troca de carícias com os homens do mar; estas, pelo menos, acordaram e foram capazes de cambalear até os bordeis onde moravam. Por fim, trancou a porta e voltou para dentro de modo a pegar um pano e limpar as mesas e cadeiras. – Então – o Ouriço começou, com um sorriso zombeteiro em um espanhol daquela região. – Quem era aquela cigana maravilhosa com quem te atracastes ontem? – Não faço ideia. – Jared perguntou, também sorrindo; contudo, seu espanhol era cheio de sotaque, já que ele não havia nascido ali, mas sim na Inglaterra; Jared viera de lá alguns anos antes, fugindo da Guerra das Rosas. – A única coisa que sei é que ela tinha os melhores s***s que já vi, e olha que já vi milhares. – O Ouriço riu. – E pelo jeito como entraste aqui, ela devia ser comprometida. – Sim, o marido dela era um marinheiro boa pinta, mas com uma arma nas mãos. – Jared não conseguia deixar de rir de si mesmo se envolvendo com mulheres comprometidas. – Por acaso era um branquelo, parece que nunca apanhou sol? – Sim... – Jared respondeu, desconfiado, tirando sua atenção do pano e da mesa e levantando os olhos para o Ouriço. – E por acaso ele tinha algumas medalhas no uniforme? – Jared apenas movimentou a cabeça afirmativamente, o que desencadeou uma gargalhada. – Parabéns, tu dormiste com a mulher do Capitão Juan Antonio da Guarda Real. – m***a. – Jared disse. – Achas que devo esperar retaliação? – Sem dúvida. Enquanto pensava nos modos como o marinheiro poderia se vingar, Jared voltou a esfregar as mesas; uma vez terminado essa parte do serviço, ele pegou um esfregão e passou a limpar o chão. Felizmente, ele cruzou com não mais do que um lugar com vômito – normalmente, ele encontra entre cinco ou seis. A cigana entrou de repente no bar. Estava vestida, mas seu cabelo estava desarrumado. Ela devia ter fugido do marido enquanto ele perseguia Jared. Desesperada, ela chorava; ela implorou por ajuda com seu sotaque sensual. Jared não tinha ideia do que fazer. Ouriço disse para escondê-la no sótão, onde havia uma cama extra. – E para que temos uma cama extra no sótão? – Jared perguntou; ele nunca tinha subido até lá. – Porque não és o único que precisa esconder uma mulher de vez em quando. – O taverneiro fez mistério e sumiu atrás do balcão, provavelmente para limpar algum dos barris de bebidas que havia ali. Jared guiou a mulher até o sótão. De fato, havia uma cama ali, além de um guarda-roupa com roupas femininas; tais eram muito elegantes, tanto que ele apenas tinha visto roupas assim quando ainda morava na Inglaterra. Preferiu ignorar e não pensar no assunto. – Então, tu és cigana, não? – Ele perguntou para a mulher, que estava um pouco mais calma depois de beber alguns goles de vinho. – Não tens nenhum parente na cidade? – Não. Meu pai vendeu-me para aquele homem como uma serva, mas ele apaixonou-se por mim e nós nos casamos. – Ela falou, de forma simples, como se fosse a coisa mais comum do mundo que escravos casassem-se com seus mestres. – Mas eu nunca o amei, é claro. Apenas aceitei por que, bem, era isso ou ser humilhada o resto da vida. Jared não costumava acabar nesses tipos de situações, pois sempre viveu numa boa. Todas as outras vezes que dormira com mulheres casadas, os maridos nunca descobriram – e ele imaginava ter um filho ou outro por aí, mas nunca teria certeza. – E o que vamos fazer? Tu não podes morar a vida inteira aqui. – Ouvi dizer que um barco irá partir para Portugal dentro de alguns dias. – Ela comentou. – Eu poderia apanhá-lo. – Tens dinheiro? – Nem um centavo. – E como pretendes pagar a passagem? – Jared estava desconfiado; aquela não era uma mulher comum. – Da mesma forma que paguei pela bebida ontem. – Ela tinha um sorriso malicioso; o homem fitou-a por alguns segundos antes de sua ficha cair. Aos poucos, as memórias foram voltando para si. Lembrou-se da mulher bebendo, assim como ele. Ela estava assanhada para cima dele, se atirando, um tanto bêbada. O rapaz nunca a tinha visto antes na taverna, provavelmente algo de especial a tinha levado até lá. Dissera que não tinha dinheiro para pagar e ofereceu-se como pagamento. Jared aceitou, claramente. No presente, ele revirou os olhos enquanto ela olhava as roupas no armário. – Qual o teu nome? – Ele perguntou, antes de sair; não se importava de desconhecer tal informação. – Analetta. – Ela respondeu, Jared preferiu não tentar repetir o nome, afinal, era extremante difícil de pronunciar. A limpeza da taverna terminou e em algumas horas abririam outra vez, já que alguns navios chegariam àquela tarde. Jared, então, foi até o porto procurar pelo navio que partiria para Portugal naquele dia. Encontrou o capitão, que era um homem f**o, de nariz adunco e um bigode espesso; Jared sorriu, pois um homem f**o como aquele sem dúvida aceitaria o pagamento de uma mulher como aquela cigana. Jared tentou conversar com o capitão, mas o espanhol dele era ainda pior do que o de Jared, que tentou arranhar um português, mas falhou. Depois de quase trinta minutos de negociação, o capitão definiu que primeiro queria ver a mulher antes de concordar. O rapaz achou justo, por que, vai que a mulher em questão não é bonita como ele estava prometendo. Ao voltar para a taverna, ele foi direto para o sótão, onde, sem querer, encontrou a mulher completamente nua, tentando escolher que roupa vestiria. Jared não teve como escapar de seus instintos. Depois, quando não podia mais ficar ali e precisaria descer para ajudar o Ouriço, ele contou sobre o capitão e como ele concordaria com a viagem depois de vê-la; seria bom se ela não mencionasse as aventuras dos dois juntos. Analetta pegou o navio e partiu para Portugal no meio daquela tarde. O capitão adorou-a, tanto que a hospedou em sua própria cabine. Feliz por se livrar deste problema, Jared voltou para o Ouriço Azul e para sua vida simples, na qual ele tomaria cuidado extra para não ser pego por maridos irados. Ou talvez, devesse não se envolver com mulheres suspeitas, aquelas que não trabalham vendendo amor. Riu de si mesmo. Não iria pagar para ter uma mulher, já que podia ter de graça. A noite chegou rápida, e como de costume, a taverna estava cheia de homens bêbados, mulheres seminuas buscando algum dinheiro para sobreviverem. Jared servia as pessoas e a si mesmo, bebia de pouco em pouco, pois tinha que durar mais do que aqueles caras. Alguns homens em uma mesa no fundo do salão começaram a gritar de alegria, e não era por causa das mulheres ou dos vinhos. Eles jogavam cartas. Jared se aproximou e reconheceu o jogo imediatamente, pela posição que os jogadores seguravam-nas. Ficou observando por alguns minutos; aparentemente, apenas um deles era bom e estava ganhando o dinheiro dos outros. Um deles desistiu e Jared sentou em seu lugar; sorrindo, ele entrou na partida. Os outros trocaram olhares, mais um de quem tirariam tudo. No entanto, para desespero dos outros, Jared começou a ganhar. Aos poucos, foi tirando centavo por centavo dos jogadores, que foram desistindo, até sobrar apenas o que tinha vencido até então. – Tens a certeza que queres continuar? – Jared perguntou, olhando as cartas de sua mão; não tinha como perder aquela rodada. – Sim. – O homem respondeu; suas cartas eram fortes, estava confiante de que ia ganhar, o único problema é que não tinha o que apostar. – Exceto, é que não tenho mais nenhum centavo. Eu já paguei essa p********a – ele falava da mulher que estava em seu colo – ou pelo menos, parte do valor que ela queria adiantado, o que dá cerca de cinco moedas de prata. Cobre sua aposta. Jared olhou para mulher. Ela tinha os s***s pequenos, porém firmes em baixo do vestido revelador. Nunca a tinha visto antes, nem mesmo quando era jovem e pagava para ter amor. Sorriu. Gostava sempre de mulheres diferentes. – Tudo bem. – Jared concordou. – Realmente, cobre. Eu alinho. Então, o homem comprou uma carta do baralho diante de si, e sorriu. Jared fez o mesmo; uma carta r**m viera, mas ele estava confiante de que as que tinha em mãos seriam o bastante. O homem mostrou sua mão e, imediatamente, começou a puxar o dinheiro da mesa com sua mão calejada. Jared revelou as suas cartas. Ele bufou, ao ver que perdia; ele bateu na mesa, xingou e chamou Jared de trapaceiro, mas nada mais fez, retirando-se da taverna. Jared pegou seu dinheiro e a p********a; levou os dois para seu quarto. O Ouriço não se importaria do rapaz fazer um pequeno intervalo, pois a maioria dos clientes estava bêbada demais para fazer mais pedidos. Despiu a mulher com ferocidade, tirando-lhe um sorriso malicioso; gostava quando os homens eram brutos. Enquanto estavam na cama, ela o colocou por baixo e montou em cima dele; Jared gostava de mulheres que tomavam iniciativa. De algum lugar que ele não viu, ela puxou uma faca e colocou em seu pescoço. Assustado, Jared arregalou os olhos. Não estava entendendo o que se passava ali. – O que estás a fazer? – Jared perguntou, como se ela fosse realmente responder. – Eu vou pagar-te, não te preocupes! – Ah, Jared Blackwood. Eu já fui paga, muito bem paga. Além do mais, vou conseguir uma quantia extra das apostas que tu ganhaste. – O sorriso que via no rosto dela não era normal, apesar de ser familiar; o vira antes, muitas e muitas vezes, durante a Guerra das Rosas, quando ainda morava na Inglaterra. – Últimas palavras antes de morrer? – Bem, tirando que tu não és tão boa de cama, não, acho que não. – Juan Antonio manda lembranças. A ira cresceu nos olhos da mulher antes de ela cortar a garganta de Jared.
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