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3051 Words
Zara Eu quase caí da cama quando o despertador soou.  O dia não seria divertido, muito menos bem humorado. O trabalho me chama e compete com minha cama, dinheiro e soneca são coisas que tentam a todo tempo. De qualquer forma, a primeira opção é a melhor. Enquanto ia para a cozinha, Thiana miou atrás de mim e correu na frente, esperando eu encher seu pote com ração.  — Bom dia, pequena feiosa.  Ela era realmente f**a, sua raça era aquela Sphynx, que não possui pelos. Meu pai teve a brilhante ideia de dar um gato desse para minha mãe, já que a mesma é alérgica a gatos. Só que, ao contrário do que ele pensava, mamãe não tinha alergia aos pelos, e sim a proteína da saliva que vai para todo o corpo quando realizam a higiene. Tenho que tomar conta dela até achar um lar bom, entretanto, não é todo dia que alguém quer um gatinho pelado com o contraste de rosa e preto, como se fosse um siamês.  Thiana se esfregou em minha perna, indo até seu pote e comendo o que eu havia despejado. Comecei a preparar o café, pegando o celular e conferindo o horário, não estava muito atrasada, tinha tempo.  No mesmo momento em que o café era feito na cafeteira, subi para tomar um banho e me arrumar. Pensei em vários momentos aleatórios, dias de trabalho cansativos e um chefe mais i*****l do que se é possível imaginar. Assim que saí do banho e terminei de me vestir, olhei o relógio. — m***a!  Corri até a cozinha, colocando rapidamente um pouco de café na xícara, apressada para não me atrasar logo em dia de reunião. Tentei beber um gole de café e calçar o salto em um pé ao mesmo tempo, e sim, eu quase me queimei. Bebi rapidamente e consegui me manter viva. — Vigie a casa para a mamãe, está bem? Eu volto assim que meu horário acabar. Torça também para que eu consiga um emprego rápido depois desse.  Fiz um carinho na cabeça de Thiana e puxei minha bolsa, pedindo um táxi. Não chegaria tão atrasada, porém, atrasos não fazem parte da minha vida. Mesmo que eu esteja dando adeus a essa empresa, ainda acho estranho alguma demora a mais.  Talvez fosse mais fácil ter ido em uma cafeteria… ¨ — Sabe do que você precisa? — Megan mordeu seu sanduíche logo após lançar sua pergunta, entretanto, não me deu tempo para que respondesse. — Isso mesmo, de férias!  — Achei que diria namorado. — mexi o líquido do copo em círculos. — Obrigada por não ter dado essa ideia. — Quem é que precisa de homem quando se é você? Zara, temos que pensar que são eles que precisam da gente, assim como eles pensam que somos nós que precisamos deles.  Soltei um muxoxo, mas sorri com o que ela disse. Sem dúvidas, férias nesse momento seria ótimo. — Eu preciso de outro emprego, Megan. Apesar de que férias seria bem bacana. — Nossa, quando você arranjar um emprego melhor do que esse, com um chefe melhor do que o nosso, vamos ter que comemorar!  Com um sorriso brincando nos lábios, me inclinei para frente e sussurrei: — Como qualquer um é melhor que o nosso chefe, pode ter certeza, querida Megan, nós iremos comemorar!  Ela riu divertida, concordando com o fato. Passamos o resto do almoço conversando e procurando empresas, tentando achar algo melhor ou pelo menos na mesma proporção. Durante o tempo que passamos juntas, consegui alguns lugares para tentar, só teria que enviar currículos e torcer para me encaixar no que esperam.  ¨ No fim da tarde, enquanto finalmente voltava para minha casa, passei em uma lanchonete para um café, já que ainda me encontrava decepcionada com o início e meio do dia. Qual é, hoje a minha sorte decidiu ficar debaixo da cama. Esperei pacientemente o meu sanduíche ficar pronto, vendo toda a movimentação de uma sexta a noite. Se eu conseguisse um táxi para casa seria minha maior conquista no dia. Pagando pela comida e pelo café expresso, saí para tentar chegar em casa o mais rápido possível. Apesar de eu achar que teria que pegar metrô, não ocorreu, consegui um táxi até que rapidamente.  O caminho todo eu tentei relaxar e pensar em algo melhor do que somente pregar a b***a na cama e assistir séries tomando sorvete. Se bem que essa ideia era ótima e combinava muito com uma sexta à noite, mas sair para pensar enquanto bebe algo qualquer, é semelhantemente bom. Acho que a Thiana já estava sentindo saudades de ficar em casa sem mim. Há, pobre feiosa! Quando cheguei em casa, tirei os sapatos e fui recebida com um miado e os olhos de minha gatinha brilhando no escuro. Acendi a luz e suspirei aliviada por estar em meu conforto.  — Voltei, Thiana, não te abandonei. — sorri para ela, acariciando sua cabeça sem pelos. — Por mais que eu ache que gatos não liguem muito se o humano vai voltar ou não… mas vai que você é diferente, né?  Segui para dentro, conversando com ela como se fossemos grandes amigas, como se ela realmente me entendesse.  — Olha, hoje eu não vou passar a noite ao seu lado, mas prometo que amanhã vamos ficar juntas!  Thiana piscou seus olhos azuis para mim, virando a cabeça para o lado e miando baixinho. Para quem seria somente uma gatinha temporária, está tomando um bom espaço dentro de mim, e em minha casa também.  — Não vou dormir fora, volto antes da meia noite.  Coloquei mais um bocado de ração para ela, fazendo um último carinho e indo para o último banho do dia.  •• Estava tomando um drink qualquer, não sabia nem do que era aquilo, eu só pedi o que mais pediam e o barman me serviu isso. Não é nada r**m, muito pelo contrário, é ótimo! Tudo parecia mil maravilhas, era realmente incrível estar sozinha e aproveitando da própria companhia, até me aparecer o motivo de pensar que ficar com a Thiana fosse o mais indicado. — Ei, você é a Zara, né? — Uma voz masculina super animada chamou minha atenção.  — Hm, sim, sou eu… — não fazia a menor ideia de quem era o sujeito, porém, foi só forçar um pouco a mente que me lembrei: Josh, o branquelo da faculdade.  Ai, m***a! — Nossa, que demais te reencontrar! — Uau, era realmente incrível encontrar alguém que eu não lembrava da existência.  — Ah, sim, demais! — tentei sorrir e parecer mais gentil.  Sério? Justo no dia que eu queria ficar na minha sem ninguém por perto?  — Como já estamos aqui, podemos fazer companhia um ao outro, o que me diz?  Não! Dê o fora daqui agora!  Eu queria chorar e pedir o colo da minha mãe. d***a, d***a, d***a!  — Hm… — resmunguei, apavorada em agora ter companhia de um cara visivelmente chato.  Ele se sentou, começando a puxar assuntos aleatórios, até que chegou em um muito interessante: sua irmã e sua mãe.  Eu só queria minha cama e minha gatinha.  •• Enquanto minha cabeça latejava ao lembrar do magnífico patrão que eu não possuo, o cara tagarela em minha frente continuava a falar. Ah, como ele é chato! Não tinha intenção alguma de encontrar com um antigo colega da faculdade, sério, eu só queria tirar da cabeça - ou pelo menos tentar - a péssima última semana no trabalho.  Porém, eu não tive sorte alguma, e com isso, eu obviamente não atingi meu objetivo esta noite. — Vou ao banheiro — anunciei, já me colocando de pé e seguindo para longe dele.   No corredor do toalete, peguei o celular e disquei uma mensagem rápida para minha amiga. Zara: Spencer, preciso de você e é agora! Pelo amor de Deus, me liga e diz que, sei lá, quebrou o dedinho e não consegue pisar o pé no chão para ir ao hospital.  Esperei alguns minutos e a mensagem sequer chegou. A única saída foi usar o método mais antigo de todos: ligação. Chamou uma, duas, três… cinco vezes e nada dela me atender. Deixei uma mensagem mesmo assim. — Spencer, só me liga e finge alguma emergência, preciso sair desse encontro indesejado o mais rápido possível. Por favor, me ajuda. Suspirei pesadamente e me encostei na parede, querendo a ligação de Spencer e torcendo para que quando voltasse a minha mesa, aquele cara não estivesse mais lá. —d***a, Zara! Por que nem mesmo um dia afogando as mágoas dá certo para você? Resmunguei, inconformada com o que estava acontecendo justo no dia que já havia tudo dado errado. Acho que nunca será suficiente apenas um desastre, tem que ocorrer vários.  — Sério que está cogitando fugir assim? — uma voz soou forte, quando olhei, vi um homem com o ombro encostado na parede um pouco mais a frente do que eu.  Satanás, é você? — Hm, desculpe, eu te conheço? — tentei soar o mais educada possível.  O homem ergueu o rosto e abaixou novamente, encarando o celular. — Acho que não, deveríamos nos conhecer? — revirei os olhos e dei de sair, mas ele voltou a falar. — Se é um encontro indesejado, por que dá atenção ao que ele irá pensar se pode simplesmente pagar sua conta e deixá-lo para trás? Era uma ótima pergunta.  — Não sei.  Ele continuou mexendo no celular e falando comigo. — Talvez você tenha sido esnobe e tenha o deixado nervoso. Ah, fala sério! A última coisa que eu precisava nesse momento era um alguém que eu sequer havia visto o rosto me chamando de esnobe. — Esnobe? Sério? Quem é que estava escutando minha conversa e ainda por cima dando conselhos do que eu deveria fazer? Nem fizemos um mísero contato visual, você só soube olhar para a tela do celular e se meter. O i****a se virou para mim e andou em minha direção. Com a pouca claridade de luz, pude vê-lo, e não, não era o que esperava. Com aquela voz rouca e ignorância toda, imaginava um homem velho com um terno h******l, típico de senhores que se acham os perfeitos, mas o cara era jovem. Jovem e lindo. O terno estava sendo segurado por seu antebraço direito, a camisa social lhe caia perfeitamente bem; os cabelos loiros estavam bagunçados com um ar de quem não dá a mínima e os olhos tão azuis que pareciam o céu.  — Quer que eu coloque as mãos na cabeça para que possa me revistar? — ele era lindo, mas, definitivamente, um i****a. Revirei os olhos, ele sorriu pequeno. — Curta seu encontro, linda.  Depois que o i****a saiu, eu também saí. Passei por ele e o vi dar um sorriso. Me sentei novamente, e para meu enorme azar, o cara ainda estava lá.  Enquanto ele ainda tagarelava sobre o silicone m*l feito da irmã, meus olhos voltaram para o loiro que bebericava alguma coisa que não soube decifrar.  Quando me viu o encarando, ergueu sua bebida em minha direção e sorriu de canto, revirei os olhos e dei um último gole em meu drinque. Pensei em Spencer me ligando e me tirando de lá, mas nada dela aparecer.  Foi então, que quando menos esperei, o mesmo loiro do banheiro vinha em minha direção.  Era o que me faltava. O que ele faria? Entregaria o que ouviu no corredor para aquele ser chato e s*******o? — Zara? — ai, meu Deus. — Puxa, quanto tempo! — eu estava sem qualquer tipo de reação. — Sou eu, Sebastian!  Então esse era o seu nome?  Antes que eu respondesse qualquer coisa, Sebastian me puxou para um abraço de urso. O abracei de volta, ainda digerindo tudo aquilo, então ele sussurrou: — Entre na onda, linda. Vamos deixar sua noite divertida.  Olhando o tagarela a nossa frente, Sebastian estendeu a mão e se apresentou: — Sebastian McCarthy, antigo amigo de Zara. — estendeu sua mão. — Josh Wood, antigo amigo de Zara também. — apertou a mão do loiro bonitão. Meu antigo amigo? Nós nem nos falávamos! — Não se importa se eu me sentar com vocês, né? É que faz tempo que não vejo a Zara. — sorriu para mim. — De onde a conhece? Não me lembro de você na época do colégio. Nossa, ele mentia tão bem que me assustava. — Não, tudo bem. — ele dizia isso, mas parecia decepcionado. — Nós nos conhecemos da faculdade, nos formamos juntos e tudo mais.  — Entendo. Bons amigos, então?  — me olhou, como se esperasse que eu dissesse algo, parecia gostar de me pressionar. — Oh, grandes amigos! — Josh exclamou. Sebastian continuou me olhando, então, olhando em seus lindos olhos azuis, eu proferi com certo sarcasmo: — Excelentes grandes amigos, eu diria!  Aquilo pareceu bastar para o loiro, que sorriu ladino e olhou para meu excelente grande amigo da faculdade. — E você, conhece Zara do colégio, certo?  — Hm, sim, temos um início de amizade muito marcante, não é, Zara?  Ele só podia estar tirando onda com a minha cara. — Claro — mas eu entrei na dele, óbvio. — Altos acontecimentos. Bebi mais um pouco do licor que havia em meu copo, o esperando e deixando, continuar. — Sim! Zara foi minha primeira namorada quando cheguei no colégio — quase cuspi o que havia em minha boca com o que escutei, porém, me contive e permaneci sem dizer nada. — Ela era linda, mas agora… agora ela tem alguns atributos ao seu favor. Se ele achava que queria dizer que eu era f**a na época do colégio, não deixaria que ficasse por cima.  — Você está usando lentes de contato, Seb? — Me encarando, bebeu um pouco de seu drinque. — Lembro bem de seus óculos enormes e desproporcionais ao seu rosto.  Sebastian me olhava como se tudo fosse exatamente o que ele queria me ouvir dizer, e eu concluí mentalmente que esse homem era louco. Lindo? Demais! Louco? Na mesma proporção. — Sim, depois que entrei na faculdade, percebi que ninguém iria me querer porque nenhuma era tão louca como você. Mordi o lábio inferior e contive uma risada, apenas parei de o encarar e voltei a minha posição inicial. — Enfim, foi um ótimo momento das nossas vidas. Fizemos tudo juntos e a experiência foi incrível, sensação única, eu diria. — Eu diria o mesmo. Josh olhava para nós dois com certa estranheza. Tá, talvez seja extremamente estranho, mas ainda assim, era engraçado. — Eu costumava chamá-la de Florzinha.  Eu e o falador olhamos juntos para Sebastian. Como ele conseguiu inventar mais coisas em menos de um minuto?  — Florzinha? — Josh perguntou, meio sem entender. — Sim, é pelo significado do nome dela, flor e tudo mais. Decidi dar um apelido que talvez outro cara não pensasse em usar.  Ok, eu estava bem impressionada, como ele sabia até o significado do meu nome?  — É realmente um ótimo apelido, até combina com você, sabia?  Dei um sorrisinho, somente para não parecer chata e antipática, porque a única coisa que eu queria no momento era deixá-lo de lado e terminar a conversa com o loiro bonitão. ¨ Minha barriga doía com as histórias contadas por Sebastian. Eram cada uma mais louca e absurda que a outra. Josh por sua vez, parecia desconfortável e sem saber o que dizer, acho que não era assim que ele imaginava acabar nossa noite. Bom, não sei como ele imaginava, mas eu prefiro bem mais do jeito que estamos. — Não querendo parecer um chato, mas… vou indo nessa. — Quando Josh soltou as palavras, eu quis muito sorrir. — Foi um prazer te rever, Zara. Espero que possamos repetir isso. — Ah, claro… foi ótimo te rever também, Josh.  Me levantei rapidamente e o abracei, não durou muito, já que logo dei um passo atrás e voltei a sentar. Josh apertou a mão de Sebastian e fez um sinal de tchau.  Quando o vi longe da mesa, soltei um longo suspiro e ri baixinho. — Qual a graça, hein?  — Você me salvou. Jurava que isso só aconteceria se eu fosse para um mundo diferente, onde existe o super-homem. — Boa colocação, Florzinha, mas eu somente achei que deixar uma garota na mão com alguém feito ele falando horrores, não seria um ato muito heróico. — lançou um sorriso singelo. — Não seria nada heróico! — ri pouco. — Obrigada mesmo, foi muito melhor com sua companhia.   Seus lábios se curvaram em um sorriso bonito, me fazendo sorrir também.  — Ele era pior do que eu pensava. Como alguém quer ter chances com uma mulher desse jeito?  Suspirei, também tentando entender. — O engraçado foi ele dizer que éramos grandes amigos. Nós nem nos falávamos!  — Será que ele já namorou? Porque com esse humor e flerte, não arranja nem uma velha com hipertensão.  Dei risada, não dava mesmo para imaginá-lo com alguma mulher séria e bem resolvida.   — Bom, acho que vou para casa, já deu minha hora. — Eu também já vou, agora que me livrei, é melhor não tentar a sorte.  Enquanto ele se levantava, pude guardar mais alguns detalhes de seu belo rosto. Provavelmente não o veria nunca mais, ou, pelo menos, não tão rápido.  — Meu fim de noite foi ótimo, obrigado por sua ilustre companhia.  — Eu quem te agradeço.  Quando me levantei, ele me puxou para um abraço, me fazendo sorrir. — Se cuida, Florzinha. — proferiu baixinho. — Tem como chegar em casa?  Eu iria pedir um táxi, mas não diria isso a ele para não o incomodar e me levar até em casa, Sebastian já me ajudou demais. — Tenho sim, não se preocupe.  — Certo, então eu vou indo, querida namorada do colégio.  — Dirija com cuidado, querido namorado do colégio. Sorrindo, ele piscou e pegou a chave do carro no ar.  — Pode deixar!  Assim que o vi afastado o suficiente, puxei o celular e pedi um táxi. Não demoraria muito, por isso, paguei minha conta e andei vagarosamente até a saída.  Do lado de fora, suspirei pesadamente e relaxei totalmente minha postura. No fim das contas, foi um ótimo fim de noite.
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