[NARRADO POR MURILO FERREIRA] Saí da casa como quem foge de si mesmo. O peito ardendo. As mãos tremendo. E a boca cheia do gosto que quase foi beijo… e virou nada. Subi as escadas da laje. Aquelas mesmas que já tinham ouvido meu riso, meu choro, minha promessa de ser melhor. O vento bateu no rosto. Frio. Sincero. Quase um tapa da vida dizendo “volta pra tua essência”. Cheguei no topo. O morro dormia lá embaixo, calado. Mas a minha cabeça, não. Deitei no chão áspero da laje. Aquele concreto velho que sempre segurou meu corpo quando o mundo parecia cair. Fiquei ali. De costas pro passado. De frente pro céu. As estrelas me encaravam. Pareciam zombar. Ou entender. Talvez as duas coisas. — “Eu tentei…” — murmurei, como se o céu ouvisse. — “Juro por Deus, eu tentei.” Fechei os ol

