[NARRADO POR MURILO FERREIRA] Ela se mexeu devagar, como quem acorda de pesadelo e ainda não sabe se tá viva ou no inferno. Abriu os olhos. Me viu ali, sentado na cadeira do lado da cama que um dia foi minha. Não falei nada. Só fiquei olhando. A mulher deitada ali… era a mesma que um dia foi minha paz no meio da guerra. Mas também era o furacão que deixou o peito em ruína. Ela tentou falar, mas levantei a mão, cortando o ar com o gesto. — “Não fala ainda.” Me inclinei pra frente, os cotovelos nos joelhos, o olhar cravado nela. — “Eu quero ouvir. Mas não o que cê ensaiou. Não o que vai me fazer ter pena, nem o que vai me fazer chorar.” Ela arregalou os olhos, o peito subindo mais rápido. — “Eu quero ouvir o que cê tentou me dizer na delegacia.” Deixei a frase ferver um pouco no

