Narrado por Murilo Ferreira Capítulo: O Castigo do Século A laje tava daquele jeito. Céu limpo, brisa batendo, som de funk de fundo e o bonde largado como se a vida fosse férias eternas. Só que não era. Dois dias de sumiço. Dois dias sem Melissa. E uma eternidade de zoeira travada porque eu tava de castigo. Sim, castigo. Com C maiúsculo e chinelo voador em CAPS LOCK. — “Ô, Pulga, passa a garrafa d’água aí antes que eu morra igual peixe fora d’água,” — reclamei, jogado no chão quente da laje. — “Cê não morreu de surra, vai morrer de sede agora?” — ele debochou, rindo com a marca do tapa da mãe ainda vermelha no braço. Neguim soltou uma gargalhada, esticado no canto com o olho roxo da bronca de ontem. — “Na moral… a mãe do Faísca quase me batizou de novo. Água, chinelo, palavrão

