MURILO Assenti com um gesto curto. Peguei a camisa jogada no parapeito e vesti sem pressa, ainda com os olhos na linha do céu. — “Vou dar um chego na minha coroa. Faz tempo que ela me vê só de relance.” Gargalo soltou a fumaça devagar. — “Ela sente tua falta, Murilo. Mesmo que tu vá lá… não é o mesmo que antes. Desde que o Aderbal partiu, tu nunca mais voltou de verdade.” — “Cês sabem que eu voltei.” — respondi, firme. — “Voltei pra quebrada, voltei pro bonde, voltei pro nome que carrego. Só não voltei pra aquela casa.” Neguim encarou o chão. — “Tu prefere ficar sozinho, né?” — “Prefiro.” — falei sem rodeio. — “Não é porque não amo eles. É porque quando fecho os olhos naquele sofá… ainda escuto o pai tossindo no quarto. Escuto os passos dele indo pegar água. Escuto até o chinelo a

