Fechei os olhos. O peso das palavras de Jussara ainda vibrando no meu peito como sino em dia de luto. O silêncio da casa, o cheiro de café velho na cozinha, a poltrona manchada no canto, a cortina amarelada tremendo no vento morno… tudo me puxava pra dentro. Tudo me fazia lembrar. E eu lembrei. Lembrei dele. Foi naquela tarde abafada, depois da ida ao postinho. Minha mãe tinha me mandado no mercado do Alto, a sacola na mão, o coração esmagado dentro do peito. Eu só queria desaparecer. Ser menos. Sumir. E então ele apareceu. Murilo. Encostado no muro de pedra como quem já sabia que eu ia estar ali. E disse meu nome como se tivesse escrito nas palmas da mão. — “Tu é a única que não tenta chamar atenção. E mesmo assim, foi a que mais me chamou.” Me chamou. Me enxergou. Me fez sentir

