[NARRADO POR MURILO – CELA, DEPOIS DO BILHETE] A cela ainda tava muda. Mas dentro de mim, o silêncio berrava. O bilhete do Faísca tava dobrado debaixo da laje. “Segue o plano. A laje é tua. Quando o pão chegar, corre.” Repeti isso umas quinze vezes na cabeça. Cada palavra soava como martelo forjando fúria. Tava ali, sentado no canto da cela, com as pernas abertas e os cotovelos apoiados nos joelhos. O cordão pendurado no pescoço balançava devagar, coração trincado batendo contra a pele como se quisesse lembrar: ainda dói. A porta de ferro rangeu. Dois guardas empurraram a bandeja da manhã. Pão seco, café morno e desprezo no olhar. Era o mesmo de sempre. Miséria disfarçada de rotina. O outro preso — um magrelo com cicatriz no queixo, recém-chegado da Central — olhou pra mim com aquel

