[NARRADO POR MURILO FERREIRA] Vesti a bermuda devagar, ainda com o corpo quente e a cabeça longe. A camisola dela caída no chão, os lençóis bagunçados… tudo naquela p***a de quarto cheirava a recomeço. Passei a mão no rosto, tentando acordar de verdade. O céu já tava claro, pintando o morro de ouro sujo. Abri a porta devagar, só com a ponta dos dedos, e saí. O corredor estava silencioso, cada sombra guardando memórias. Meus pés pisavam firme, quase sem fazer barulho. A adrenalina da noite ainda tremia na minha pele, mas um peso mais nítido pressionava meu peito — o nosso filho. Cheguei à porta dele. A luz fraca da manhã invadia pela fresta, e dentro… o cheiro dele, aquela mistura de infância que eu quase perdi. A maçaneta estava gelada na minha mão. Inspirei fundo, tentando conter o co

