Narrado por Murilo Ferreira O céu já tava pintado de roxo e laranja quando a gente saiu dali. Melissa andava do meu lado, com o cabelo bagunçado, os olhos baixos e o coração visível em cada passo. Eu segurava a mão dela. Não como quem segura uma menina. Mas como quem leva o futuro pra casa. A quebrada já começava a piscar suas luzes miúdas, as conversas ecoavam nas vielas, e o mundo parecia grande demais pra caber o que a gente viveu ali dentro daquela casa. Mas mesmo assim… coube. Chegamos perto da esquina. A rua tava vazia, só o som da televisão de alguém escapando pela janela. — “Vai por aqui,” — apontei, baixo. — “O portão dos fundos tá destrancado. E tua mãe ainda não chegou.” Ela assentiu, mas não soltou minha mão de cara. Ficou ali, me olhando. A boca meio tremendo. A re

