[NARRADO POR JUSSARA] A porta fechou atrás da Melissa com aquele rangido que parece que corta o peito em dois. Fiquei ali, parada no meio da sala, com o eco da voz dela ainda rodando pela casa. "Ele precisa saber do filho", ela disse. E agora o filho... tava aqui. Na minha frente. Pequeno, curioso, com aqueles olhos que carregavam o mundo. Murilo Júnior. A cópia do meu filho. Ele mexia nos bonecos em cima da mesinha da sala, mas de canto de olho me olhava. Com cuidado. Com receio. Como quem já aprendeu cedo demais que nem todo olhar é acolhimento. Me abaixei devagar, sentando no tapete, no mesmo lugar onde, anos atrás, meu Murilo se esparramava pra brincar com uma caixa de carrinhos quebrados. O tempo é uma desgraça: apaga cheiro, apaga voz... mas não apaga dor. — Tu gosta de herói

