capítulo 70

1714 Words

[NARRADO POR MURILO – CONTINUAÇÃO NA CADEIA] A porta da viatura se fechou com um baque seco. Sem algemas. Sem abaixar a cabeça. Entrei como quem entra num trono de espinho: de peito aberto e alma em chamas. O delegado Tavares dirigia. Silêncio no carro. Só o som do motor e o peso do que a gente não disse. No caminho, ele me olhou pelo retrovisor. — “Tem certeza disso, Murilo?” Respondi encarando o vidro, onde meu reflexo já parecia um presidiário antes mesmo da ficha ser registrada: — “Faz tempo que não tenho certeza de nada. Mas isso aqui... é meu.” Chegamos na delegacia. A cadeia provisória ficava nos fundos, parte velha do prédio, onde a tinta descascava e o cheiro de mijo era mais forte que o de justiça. Na recepção, ninguém falou nada. Só olharam. Porque todo mundo sabia quem e

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