Narrado por Murilo Ferreira A laje depois da guerra. O bonde depois do batismo. O céu tava laranja. Laranja de fim de tarde de quebrada, com a luz batendo nas paredes tortas, refletindo no azulejo rachado da casa da Dona Cema e subindo até onde a gente tava: a laje. Nosso templo. Nosso respiro. Ali, a gente não era só o bonde. Ali, a gente era lenda em construção. Pulga deitou de barriga pra cima, braço aberto, como quem acabou de cruzar a linha de chegada de uma maratona sem medalha. — “Eita p***a… sobrevivi ao Aderbal.” Faísca acendeu um cigarro improvisado com palha e menta, tragando como se fosse incenso sagrado. — “Não foi só sobreviver, não. A gente fez ele... respeitar. Tu viu o olho dele? Parecia que viu fantasma.” — “Fantasma não,” — disse Gargalo, mexendo no isopor com

