[NARRADO POR MELISSA ROCHA] Depois que a conversa com Jussara se acalmou no peito, subi devagar pro quarto onde meu filho dormia. O mesmo quarto onde Murilo cresceu. Cada degrau era memória. Cada parede, cicatriz. E o silêncio da casa parecia me empurrar pra frente, como se dissesse: “Vai. Enfrenta.” Empurrei a porta com cuidado. Murilo Júnior tava encolhido na cama, os pés descobertos e um dos braços abraçado com força o travesseiro. Dormia profundo, mas com a testa franzida — como se até nos sonhos, carregasse perguntas demais pra idade. Me aproximei em silêncio. Ia só ajeitar o cobertor, beijar a testa e sair. Mas algo me travou. Na parede, do lado da cama… rabiscos. Tinta preta. Letras tortas. Frase riscada com raiva, como quem escreve mais com o peito do que com a mão. >

