[NARRADO POR MELISSA ROCHA] O “casa comigo” ainda martelava no meu ouvido como tambor de escola de samba. Ritmado. Quente. E tão absurdo que parecia sonho. Mas era real. Tava ali, no olhar dele. No calor da mão dele na minha cintura. No jeito como ele dizia “p***a” e “minha mulher” na mesma frase, sem tropeçar. Eu sorri. Aquele sorriso que a gente dá quando o mundo para de bater e começa, enfim, a caber na palma da mão. Mas como mulher que conhece as ruas e o jogo, não deixei barato. Inclinei o rosto, colei a boca no ouvido dele, e soltei com veneno e doçura misturados: — “Ah, e outra coisa, Murilo…” Ele arregalou o olho, já desconfiando do que vinha. — “Tu não vai ficar dando moral pra mina nenhuma aqui nesse morro, ouviu? Nem sorriso torto, nem papo de educado, nem ajudar com saco

