[NARRADO POR MELISSA – DEPOIS DO BONDE, ANTES DO ACERTO] Eu não conseguia respirar direito. O peito tava apertado. A garganta seca. Mas o coração… o coração gritava, feito sirene de guerra. Porque eu tinha acabado de ver. Com esses olhos. O impossível se dobrando na minha frente. Meu filho… o nosso filho… falando com os irmãos do pai dele. Com o bonde. Com os que sobraram da queda, com os que seguraram a alma do Murilo enquanto eu sumia do mundo. E eles… Eles aceitaram ele. Sem perguntar nada. Sem exigir teste, sangue, prova. Aceitaram com os olhos, com a pele, com a dor gravada no braço. Meu filho. Filho do homem que eu amei até doer e perdi sem ter culpa. Eu abaixei um pouco, botei a mão no ombro do Júnior e falei baixinho: — A gente vai dar um pulinho na casa da sua vó, tá bom?

