Narrado por Murilo Ferreira A laje era o nosso trono. Cinco moleques, uma caixa de som, dois copos de gelo derretido, um pacote de biscoito aberto e nenhuma preocupação com o relógio. O mundo girando torto lá embaixo e a gente ali em cima, feito rei sem coroa, mas com visão panorâmica da quebrada. Faísca deitado com a camisa na cara, Pulga inventando rima com o nome dos professores, Gargalo filosofando sobre por que o miojo só presta com margarina, e Neguim dando risada alta de tudo. Eu? Só observando. O céu começando a mudar de cor, o cheiro de cimento quente ainda subindo da laje, e meu celular vibrando no bolso. Primeiro toque. Ignorei. Segundo. — “Atende, ô desligado!” — resmungou Faísca, sem tirar a camisa do rosto. Peguei o celular, olhei o nome na tela. Boca da Vila. Gel

