Narrado por Melissa Rocha
O silêncio veio depois do beijo.
Não aquele silêncio de constrangimento. Era o outro.
O que fica quando tudo já foi dito com a boca, com o corpo, com o arrepio inteiro da pele.
A moto voltou a roncar e eu subi atrás dele, o rosto ainda quente, o coração tentando acompanhar a velocidade da estrada.
Ele não falou nada.
Nem eu.
Mas minha testa encostada nas costas dele dizia tudo.
“Obrigada por me ver.”
A cidade foi voltando aos poucos, com suas luzes, seus becos, seus gritos. Mas dentro de mim, ainda era o mirante. Ainda era ele.
Quando percebi, ele desacelerou.
E parou.
Não era minha rua.
Não era minha casa.
Era uma viela antes. Uns metros de distância, mas parecia quilômetros do que eu queria: mais tempo, mais nós dois, mais “fica só mais um segundo”
